Ciência

O hambúrguer do futuro chegou. Mas será que você vai querer?

Para imitar o sabor da carne em vegetais e satisfazer carnívoros, o Vale do Silício decidiu utilizar componentes da carne "de verdade" em laboratório

Carne produzida a partir do cultivo de células originou o termo "carne limpa", o que reduz a sensação de nojo (André Valentim/Divulgação)

Carne produzida a partir do cultivo de células originou o termo "carne limpa", o que reduz a sensação de nojo (André Valentim/Divulgação)

Janaína Ribeiro

Janaína Ribeiro

Publicado em 12 de agosto de 2018 às 08h00.

Última atualização em 6 de maio de 2019 às 18h20.

Apesar do velho caso de amor com a carne vermelha, cada vez mais americanos estão optando por imitações à base de vegetais em restaurantes e supermercados. Não aquele hambúrguer vegetariano que parece um disco de hóquei esquecido no fundo do seu freezer, mas alternativas à base de vegetais criadas para imitar o sabor da carne de verdade.

Mas fazer vegetais parecerem carne sempre foi difícil. Para criar algo que satisfaça os carnívoros, o Vale do Silício decidiu que é preciso utilizar componentes da carne de verdade - e isso significa ir ao laboratório. A dúvida é se os consumidores vão querer devorar, sem pestanejar, um hambúrguer feito de células cultivadas em um biorreator.

Como ocorre com quase tudo o que os americanos compram, o gerenciamento de marca de uma carne tão artificial será fundamental. Essa é a conclusão de um estudo divulgado na semana passada pela Faunalytics, um grupo de defesa dos animais, e pelo Good Food Institute (GFI), um grupo sem fins lucrativos da indústria de alternativas aos produtos de origem animal. É improvável que um hambúrguer “feito em laboratório”, “in vitro” ou “com carne artificial” faça um sucesso estrondoso. Mas chamá-lo de “clean meat” (“carne limpa”), termo usado por esse setor incipiente, pode atrair novos clientes.

Dois terços dos participantes da pesquisa da Faunalytics disseram que provariam carne produzida a partir do cultivo de células quando descrita como “carne limpa” e depois de ouvirem descrições positivas dos produtos. O termo, segundo a pesquisa, “reduz a sensação de nojo”. Mensagens negativas a respeito da carne convencional também ajudaram na aceitação pelo consumidor.

Pesquisas de outras empresas não associadas à defesa dos animais, no entanto, têm sido menos favoráveis. Segundo dados da empresa de marketing agrícola e de alimentos Charleston|Orwig, apenas 3 por cento dos consumidores não expressaram “nenhuma reserva” em relação à ingestão desses produtos, enquanto 57 por cento responderam “não, de jeito nenhum”. Em um terceiro estudo, da empresa de pesquisa de tendências alimentares Datassential, 68 por cento dos participantes disseram que “não estavam interessados” em carnes artificiais.

Alguém poderia pensar que os benefícios gerados ao ambiente e ao bem-estar animal seriam argumentos de venda para a carne artificial -- mas não é assim. Embora os consumidores mais jovens estejam antenados com esses assuntos, estes geralmente são os motivos menos apontados para a redução do consumo de carne, disse Kyle Chamberlin, da Datassential.

O crescimento dos alimentos à base de vegetais é basicamente estimulado por preocupações com a saúde. Quase metade dos consumidores compra hambúrgueres vegetarianos por considerar que eles são mais saudáveis, segundo um relatório de março da Datassential. O GFI informou que a agricultura celular gera benefícios para a saúde. Ao contrário da carne convencional, esses produtos não têm contaminação fecal e dispensam o uso de antibióticos, por isso não contribuem para a resistência humana aos antibióticos. Mas estes argumentos relacionados à saúde não são tão comuns quanto evitar gordura saturada e colesterol e perder peso.

“Isto é um grande enigma”, disse Mark Gale, CEO da Charleston|Orwig. As empresas “não deveriam supor que haverá necessariamente uma ampla adoção só porque elas poderiam conseguir criar isso.”

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