Nova York: construir menos arranha-céus não resolverá o problema, disse o autor (Leandro Fonseca/Exame)
Agência de notícias
Publicado em 31 de maio de 2023 às 17h11.
Última atualização em 31 de maio de 2023 às 17h35.
Nova York é conhecida como a cidade que nunca dorme, e agora seus moradores têm mais um motivo para ficarem acordados à noite. A cidade também está afundando.
A "Big Apple" está gradualmente "afundando", em parte por causa do peso dos arranha-céus que tornam a selva de concreto tão famosa, afirma um novo estudo.
Esse afundamento torna a metrópole mais vulnerável ao aumento do nível do mar e às inundações costeiras causadas pelas mudanças climáticas, observaram os pesquisadores.
O artigo, publicado este mês na revista Earth's Future, procurou estimar como a vasta infraestrutura da cidade impacta a subsidência.
A subsidência é o afundamento da massa de terra causado por processos naturais, como erosão, ou pela atividade humana, como a extração de minerais.
Os geólogos calcularam que os mais de 1 milhão de prédios de Nova York somavam uma massa total de 1,68 trilhão de libras (762 bilhões de quilos) de pressão descendente na Terra. Segundo a CNN, é o equivalente a cerca de 1,9 milhão de Boeings 747-400 totalmente abastecidos.
O estudo concluiu que a capital financeira dos Estados Unidos está afundando a um ritmo médio de 1 a 2 milímetros por ano. Algumas áreas construídas em rochas mais moles ou aterros artificiais afundavam até 4,5 milímetros por ano, acrescentou o estudo.
Mas construir menos arranha-céus não resolverá o problema, disse à AFP o autor principal, Tom Parsons.
"A principal causa da subsidência em Nova York e em grande parte da costa leste é tectônica e não pode ser interrompida", explicou o geofísico da US Geological Survey.
A subsidência deve exacerbar o impacto do aumento do nível do mar causado pelo aquecimento das temperaturas e pelo derretimento das calotas polares do mundo.
A organização Sea Level Rise.org diz que os níveis da água ao redor de Nova York são 22,8 centímetros mais altos do que eram em 1950. O governo da cidade prevê que as águas circundantes subirão entre 20 centímetros e 76 centímetros até 2050.
O estado está gastando bilhões de dólares construindo represas, elevando estradas e melhorando a drenagem para mitigar os riscos. Mas as áreas baixas já sentiram o impacto das enchentes devastadoras causadas por tempestades mais intensas.
O furacão Sandy, em 2012, matou mais de 40 nova-iorquinos, destruiu aproximadamente 300 casas e deixou dezenas de milhares de pessoas sem energia. O furacão Ida, em 2021, deixou mais de uma dúzia de mortos na cidade de Nova York, dos quais muitos não conseguiram escapar de seus porões inundados.
Segundo Parsons, é impossível dizer quando regiões de Nova York ficarão debaixo d'água, mas isso vai acontecer.
"É muito difícil prever até mesmo quando teremos um momento ruim porque, embora a subsidência da cidade seja relativamente constante, as previsões para o aumento do nível do mar são incertas e dependem das futuras taxas de emissões de gases de efeito estufa", disse à AFP.
Nova York não é a única grande cidade do mundo que está afundando.
A subsidência e o aumento dos níveis da água alimentam os temores de que Veneza um dia possa ficar totalmente submersa. Jacarta está afundando a um ritmo tão alarmante devido à extração excessiva de água subterrânea que a Indonésia está realocando sua capital.