Open Anterograde Anatomic Radical Prostatectomy (AORP) foi criada em 2015 com base em três pilares (Morsa Images/Getty Images)
Publicado em 30 de dezembro de 2025 às 11h15.
Pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) desenvolveram uma técnica que combina cirurgia robótica com instrumentos convencionais para cirurgia de câncer de próstata.
A equipe do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) criou a Open Anterograde Anatomic Radical Prostatectomy (AORP) para combinar a dissecção precisa e redução de custos.
A AORP surgiu em 2015 após uma série de revisões de técnicas abertas, laparoscópicas e robóticas.
Após análise, a equipe identificou três pilares essenciais para melhorar os resultados:
A pesquisa permitiu combinar os resultados da cirurgia robótica sem gerar custos adicionais.
O grupo seguiu as práticas científicas, obteve a aprovação do Comitê de Ética do Hospital Universitário Pedro Ernesto e registro no Clinical Trials.
Com isso, a AORP se tornou uma alternativa estratégica para democratizar padrões cirúrgicos avançados.
Ela pode ser aplicada especialmente em países sem amplo acesso a tecnologias e em serviços como o Sistema Único de Saúde (SUS), onde a disponibilidade robótica é uma exceção.
A técnica desenvolvida no Rio de Janeiro já entrou no radar de cirurgiões de outros países que enfrentam limitações semelhantes às encontradas no sistema brasileiro.
A combinação de resultados que a AORP oferece para os pacientes e instituições representa democratização do cuidado com a saúde, independente do orçamento local para intervenções cirúrgicas.
Para os pesquisadores, o método representa o futuro da urologia em cenários de acesso restrito.
A equipe realizou um estudo piloto com 10 pacientes e um ensaio clínico randomizado com 240 pacientes. As análises foram realizadas entre 2016 e 2019.
Os resultados mostram que pacientes operados com a técnica AORP apresentam menor perda sanguínea, menos tempo de anastomose, redução no período de uso de sonda urinária e recuperação mais rápida.
Além disso, a AORP também apresenta menor taxa de complicações e maior preservação nervosa, fundamental para função sexual.
Em 30 dias, 60,9% dos pacientes do grupo que passou pelo método estavam com continência. No grupo em que a técnica tradicional foi aplicada, a taxa foi de 42%.
Ao observar o controle oncológico dos dois grupos, ambos apresentaram desempenho oncológico equivalente.
Outro artigo compara a AORP com a prostatectomia robótica.
A análise considerou 252 pacientes — 126 para cada técnica — e os resultados foram semelhantes. Foram analisados sangramento, tempo de internação, tempo de sonda vesical e controle da doença.
Este material está em fase de submissão para publicação.
O custo da AORP pode ser até quatro vezes menor do que a cirurgia robótica.
A economia gera um impacto significativo em hospitais públicos com orçamentos limitados. A técnica também pode ser utilizada para qualificar a formação de novos cirurgiões.
Ela apresenta uma alternativa para médicos que não têm recursos, mas que, no futuro, podem atuar em locais que disponham de tecnologias.
No Brasil, o câncer de próstata é o tumor mais frequente em homens. Ele é menos incidente apenas que as doenças de pele não melanoma.
A prostatectomia radical é uma cirurgia que remove completamente a próstata com intenção de curar o câncer.
Nas últimas décadas, as técnicas de tratamento evoluíram impulsionadas por avanços tecnológicos e ampliação do conhecimento anatômico.
Em 1980, o urologista Patrick Walsh revolucionou a cirurgia com a preservação dos feixes nervosos na área. Em 1990, uma nova evolução permitiu incisões menores e recuperação rápida com a laparoscopia.
Entretanto, a complexidade técnica da cirurgia dificultou a disseminação, que se expandiu nos anos 2000 com a chegada da tecnologia robótica nos hospitais.