Ciência

Método científico diferencia Alzheimer de outra demência

Conhecida como demência frontotemporal (DFT), a doença têm sintomas que podem ser confundidos com o Alzheimer, mas o tratamento é diferente

A descoberta foi publicada nesta quarta-feira, 26, na Neurology, revista científica da Academia Americana de Neurologia (iStock/Thinkstock)

A descoberta foi publicada nesta quarta-feira, 26, na Neurology, revista científica da Academia Americana de Neurologia (iStock/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de julho de 2017 às 16h44.

São Paulo - Cientistas da Universidade de Brescia (Itália) desenvolveram um novo método não invasivo para distinguir a doença de Alzheimer da demência frontotemporal (DFT), dois tipos de demência que têm sintomas que podem ser confundidos, mas cujos tratamentos são diferentes.

A descoberta foi publicada nesta quarta-feira, 26, na Neurology, revista científica da Academia Americana de Neurologia.

De acordo com a pesquisadora que liderou o estudo, Barbara Borroni, no passado acreditava-se que a DFT era uma doença rara, mas estudos mais recentes mostram que ela corresponde a até 15% dos casos de demência.

"O problema é que, por causa de sua vasta gama de sintomas, a DFT é frequentemente diagnosticada de forma errada como um problema psiquiátrico, Alzheimer ou Parkinson", disse Barbara.

A doença em geral afeta mulheres a partir dos 50 anos e é caracterizada por uma mudança radical de comportamento e problemas de linguagem.

De acordo com Barbara, como não há cura para DFT, é importante identificar a doença com precisão para que os médicos possam tratar os sintomas e evitar terapias desnecessárias - como os remédios inibidores da acetilcolinesterase, por exemplo, que são prescritos para doença de Alzheimer, mas não funcionam bem para DFT.

"Fazer o diagnóstico correto pode ser difícil. Os métodos atuais podem ser tomografias cerebrais muito caras, ou punções lombares invasivas, que envolvem a inserção de uma agulha na medula espinhal.

Portanto, é animador que sejamos capazes de fazer o diagnóstico correto de maneira fácil e rápida, com um procedimento não invasivo", disse Barbara.

A nova técnica, batizada de estimulação magnética transcraniana (EMT), consiste em colocar uma grande bobina eletromagnética no couro cabeludo. O aparelho gera correntes elétricas que estimulam as células nervosas.

Circuitos distintos

Para realizar a pesquisa, os cientistas conduziram um experimento envolvendo 79 pessoas com suspeita de Alzheimer, 61 pessoas com suspeita de DFT e 32 pessoas da mesma faixa etária que não apresentavam sinais de demência.

Utilizando o EMT, os cientistas conseguiram medir a capacidade do cérebro para conduzir sinais elétricos entre diferentes circuitos cerebrais.

Eles descobriram que as pessoas com doença de Alzheimer tinham problemas especialmente em um tipo de circuito, enquanto os pacientes com DFT apresentavam problemas em outro tipo de circuito.

Com isso, os cientistas foram capazes de diferenciar a DFT da doença de Alzheimer com 90% de precisão. A precisão foi de 87% para a distinção entre Alzheimer e cérebros saudáveis e de 86% entre DFT e cérebros saudáveis.

Segundo os autores do estudo, os resultados foram igualmente bons quando o teste foi feito apenas em pessoas com formas suaves da doença.

De acordo com Barbara, a precisão dos resultados na comparação entre os dois grupos de pacientes foi comparável à dos testes de tomografia por emissão de pósitrons (PET, na sigla em inglês) e também à do método que utiliza fluido da medula espinhal por meio de punções lombares.

"Se nossos resultados puderem ser replicados em estudos maiores, será muito emocionante. Os médicos poderão logo ser capazes de diagnosticar a DFT de forma rápida e fácil com esse procedimento não invasivo.

Essa doença infelizmente não pode ser curada, mas pode ser administrada - especialmente se for diagnosticada precocemente", disse Barbara.

 

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