Ciência

Mais de 55 países ainda não vacinaram 10% da população

Organizações de saúde temem que o ritmo lento das entregas ao redor do mundo prolongue a pandemia e aumente o risco de novas variantes mais preocupantes

No Brasil, cerca de 70% da população já tomou ao menos uma dose e 40% tem o esquema vacinal completo (Fernando Souza/Picture Alliance/Getty Images)

No Brasil, cerca de 70% da população já tomou ao menos uma dose e 40% tem o esquema vacinal completo (Fernando Souza/Picture Alliance/Getty Images)

LP

Laura Pancini

Publicado em 2 de outubro de 2021 às 08h00.

Cerca de nove meses após a chegada das vacinas contra a covid-19, dezenas de países ainda não vacinaram 10% da população, um marco considerado crucial para reduzir a desigualdade de acesso.

No início do ano, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu um esforço urgente para atingir essa meta até o fim de setembro. No entanto, mais de 55 países continuam aquém do objetivo, destacando os problemas enfrentados pelo programa da Covax em sua tentativa de distribuir vacinas em todos os cantos do planeta.

A Covax cortou no início do mês sua previsão de abastecimento para 2021, prejudicada por atrasos na produção, proibições de exportações e medidas de países ricos para proteger primeiro os próprios cidadãos. Os parceiros do programa têm pedido aos países com doses suficientes para acelerar as doações e ceder seu lugar na fila, além de recomendar que empresas sejam mais transparentes nos acordos de fornecimento.

“Os fabricantes estão optando por não enviar para a Covax, e os países de alta renda estão optando por não entregar doses suficientes a esses locais com a rapidez necessária”, disse Bruce Aylward, conselheiro sênior da OMS, em entrevista. “Não há como dizer de outra maneira.”

Organizações de saúde temem que o ritmo lento das entregas ao redor do mundo prolongue a pandemia e aumente o risco de novas variantes mais preocupantes. Quando os suprimentos para regiões de baixa renda começarem a aumentar, distribuir as vacinas será outro desafio.

Meta da OMS

Em maio, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu uma “corrida até setembro” para vacinar outros 250 milhões de pessoas em países de baixa e média renda em apenas quatro meses. O objetivo é atingir pelo menos 40% da população mundial até dezembro e 70% até meados do ano que vem.

Embora a Covax tenha enfrentado dificuldades para conseguir vacinas, muitos países ricos saíram na frente. Menos de 4% das pessoas em países de baixa renda foram vacinadas com pelo menos uma dose, em comparação com cerca de 61% em nações de alta renda, segundo dados da ONU.

“Não alcançar essa meta deveria ser razão suficiente para chamar a atenção para o problema”, disse Aylward.

Muitos dos países com menos de 10% da população vacinada não estão nem perto, segundo o rastreador de vacinas da Bloomberg, segundo o qual grande parte da África Subsaariana está abaixo de 1%. Mais de duas dezenas de países estão abaixo de 2%.

Cerca de 56% da população dos EUA tem imunização completa. O Reino Unido tem 67% e o Canadá, cerca de 71%. Portugal, com 84%, tem a maior percentagem de pessoas com vacinação completa entre países com população superior a 1 milhão.

A Covax, por sua vez, ficou aquém das metas, tendo distribuído apenas 311 milhões de doses para mais de 140 países até 27 de setembro. O esforço foi prejudicado por atrasos nas exportações de um fabricante importante de vacinas, o Serum Institute of India. No início do ano, a Índia suspendeu as exportações para enfrentar uma grave onda de Covid no país, mas o país deve reiniciar as remessas para a Covax a partir do trimestre que começa em outubro.

A Covax também apontou problemas em fábricas que afetaram o fornecimento de vacinas da Johnson & Johnson e AstraZeneca.

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