Limão com bicarbonato não cura covid-19 e pode fazer mal à saúde
O sódio presente no bicarbonato pode ser prejudicial para pessoas que apresentam problemas cardiovasculares
Clara Cerioni
Publicado em 31 de março de 2020 às 12h37.
Última atualização em 31 de março de 2020 às 15h57.
É falso que a mistura de limão com bicarbonato de sódio cure a covid-19, ao contrário do que afirma uma corrente que circula no WhatsApp e nas redes sociais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, ainda não existem tratamentos ou remédios específicos comprovadamente capazes de curar pacientes com o novo coronavírus .
O texto do boato afirma também que a cura foi anunciada por Israel, onde o vírus não teria causado nenhuma morte. Isso não é verdade. De acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins, até esta terça-feira, 31, foram registradas 17 mortes causadas pela covid-19 no país do Oriente Médio. Ao todo, são 4.831 casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus até essa data.
O Comprova analisou publicações em perfis e páginas de Facebook e mensagens compartilhadas por WhatsApp.
Falso, para o Comprova, o conteúdo é inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.
Como verificamos
O Comprova consultou materiais sobre coronavírus divulgados pela OMS e pelo Ministério da Saúdee dados de infecção compilados pela Universidade Johns Hopkins. Também entramos em contato com o farmacêutico Leandro Medeiros, que coordena um observatório sobre covid-19 na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
Ainda não existe cura para coronavírus
A OMS informa que não há evidências de que os remédios existentes possam curar a covid-19, ainda que certos medicamentos ou tratamentos caseiros possam aliviar os sintomas causados.
Da mesma forma, o Ministério da Saúde afirma que “ não existe vitamina, terapia alternativa ou remédio licenciado capaz de evitar o contágio ou tratar a doença ”. Os médicos tratam os sintomas para evitar o agravamento da doença e reduzir o desconforto dos pacientes.
Consultado pelo Comprova, o farmacêutico Leandro Medeiros, da Unicap, afirmou que a mensagem “não tem fundamento algum”. “Até então, não há estudos científicos que comprovem este benefício do limão e do bicarbonato, o que é necessário para gerar uma recomendação de uso”, disse ele.
“Ainda que o limão contenha nutrientes importantes para o sistema imunológico, como a vitamina C, a inexistência destes estudos feitos em seres humanos coloca em xeque esta afirmação”.
Medeiros também alertou que ingerir a mistura em excesso pode causar prejuízos à saúde. O sódio presente no bicarbonato pode ser prejudicial para pessoas que apresentam problemas cardiovasculares, além de poder aumentar a pressão arterial em indivíduos saudáveis.
O farmacêutico destacou ainda que bicarbonato em excesso pode prejudicar a função dos rins e causar a chamada alcalose metabólica, que resulta em irritabilidade, contrações e cãibras musculares.
A cura vem de Israel?
O texto do boato afirma que os israelense bebem limão e bicarbonato como se fosse um chá quente; por isso, ninguém por lá estaria preocupado com a doença. Isso não é verdade. Até esta terça-feira, 31, foram registrados 4.831 casos da covid-19 em Israel, com 17 mortes. O país tem mais registros que o Brasil.
Como o Comprova mostrou em checagem publicada em 27 de março, a nação do Oriente Médio adotou diversas medidas de isolamento social para contenção do vírus. Em 25 de março, o governo israelense estabeleceu a proibição de sair de casa, exceto em casos urgentes, e o fechamento de estabelecimentos comerciais não essenciais e parques.
Não há nenhuma evidência que Israel aprove o uso de limão com bicarbonato de sódio. Na página do Ministério da Saúde israelense, as recomendações são as mesmas que no restante do mundo: ficar em casa, lavar as mãos e se dirigir a um serviço médico em caso de sintomas como febre e dificuldade de respirar.
Viralização
Leitores solicitaram a checagem deste texto por meio do WhatsApp (11 97795-0022). O boato também foi compartilhado no Facebook. Em um dos perfis pessoais,a mensagem obteve 512 compartilhamentos até a manhã do dia 31 de março.
Fato ou Fake, Snopes e Reuters também checaram esta corrente.
*Coalização de 24 veículos de comunicação, incluindo a EXAME, para verificar informações falsas que circulam pelas redes sociais sobre o novo coronavírus.Esta checagemfoi realizada pela equipe doEstadãoe doJornal do Comércio.