Ciência

Japão cria "fábricas de verduras" para substituir agricultura no campo

Edifícios comuns em áreas industrias escondem por trás produção de verduras hidropônicas, sem pesticidas e solo

Agricultura hidropônica: como a Dinamarca, o Japão é pioneiro no desenvolvimento laborioso de "fábricas de vegetais com luz artificial" há décadas (Pierre Perrin/Sygma/Getty Images)

Agricultura hidropônica: como a Dinamarca, o Japão é pioneiro no desenvolvimento laborioso de "fábricas de vegetais com luz artificial" há décadas (Pierre Perrin/Sygma/Getty Images)

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AFP

Publicado em 2 de janeiro de 2020 às 14h43.

Última atualização em 2 de janeiro de 2020 às 14h45.

Alfaces cultivadas com luz artificial: nos arredores das cidades japonesas, surgem da terra as "fábricas de verduras" automatizadas para substituir um campo despovoado e atingido por repetidas catástrofes naturais.

É um edifício comum em uma área industrial entre Kyoto e Osaka, no oeste do Japão.

Nada, externamente, sugere que nas instalações da empresa Spread cresçam cerca de 11 milhões de alfaces por ano - 30.000 por dia - com atuação de apenas 25 funcionários.

Tudo acontece em uma sala asséptica, cheia de prateleiras enormes e longas. Autômatos movem alface de um lugar para outro ao longo do dia.

À medida que crescem, elas são mudadas para lugares com as condições de luminosidade, temperatura e hidrometria adaptadas a esse estado de crescimento.

Tudo sem pesticidas, ou solo. Simplesmente, com água enriquecida com nutrientes. É a agricultura hidropônica.

Como a Dinamarca, o Japão é pioneiro no desenvolvimento laborioso de "fábricas de vegetais com luz artificial" há décadas.

Gigantes como Panasonic, Toshiba, TDK ou Fujitsu se aventuraram neste campo, com mais ou menos sucesso, transformando linhas de produção de semicondutores em "campos verticais" para os quais criaram luz, sensores e outras tecnologias adaptadas.

Sem perdas

Spread, cuja casa-matriz era inicialmente uma empresa de logística de produtos frescos, é uma das poucas que conseguiram tornar o negócio lucrativo.

"No início, tivemos dificuldades em vender a alface, mas foi relativamente fácil criar uma imagem da marca para atrair clientes, pois podemos produzir qualidade pelo mesmo preço durante todo o ano", explica Shinji Inada, chefe da empresa.

O segredo? "Temos poucas perdas", explica, e os produtos, facilmente encontrados nos supermercados de Kyoto e nos de Tóquio, são preservados por algum tempo.

O ajuste desse sistema automatizado levou anos.

Em outra antiga fábrica da Spread em Kyoto, que produz 21.000 pés de alface por dia, existem cerca de 50 trabalhadores que mudam as plantas de um lado para outro o tempo todo.

Inada admite que pensou em relevância ecológica antes de iniciar esta atividade, mas também havia outros motivos.

Morangos, tomates

"Com a falta de mão de obra, a baixa rentabilidade do setor agrícola e a queda na produção, senti que era necessário um novo sistema de produção", explica.

A idade média dos agricultores japoneses é de 67 anos. "É verdade que usamos mais energia em comparação com as culturas ao sol, mas, em troca, temos uma produtividade mais alta em uma superfície semelhante", afirma.

As estações do ano não contam: nos campos verticais a mesma espécie de alface é produzida oito vezes por ano.

No que diz respeito à quantidade de água, 98% são reutilizadas em circuito fechado e é mínimo em comparação com as culturas tradicionais.

"Com tudo isso, acho que contribuímos para a agricultura sustentável da nossa sociedade", argumenta.

As estações do ano não contam: nos campos verticais a mesma espécie de alface é produzida oito vezes por ano. No que diz respeito à quantidade de água, 98% total é reutilizado em circuito fechado e é mínimo em comparação às culturas tradicionais.

"Com todas essas técnicas, acho que contribuímos para a agricultura sustentável para a nossa sociedade", argumenta.

A Spread começa a reproduzir o mesmo esquema em outras áreas no Japão para maximizar a produção para consumo local. Está construindo uma fábrica em Narita, perto de Tóquio, na província de Chiba, danificada este ano por dois poderosos tufões.

Outros locais estão em projeto. A exportação também está em seus planos.

"Você pode exportar facilmente nosso sistema de produção para um país de clima muito quente, ou frio, para cultivar alface", completou.

Com a construção de uma fábrica de alface do mesmo tamanho (32.000 pés por dia) na província de Fukushima, a Mitsubishi Gas Chemical espera ingressar em breve neste setor chamado "smart-agri", onde também são usados dispositivos de vigilância remota e drones.

No momento, o Japão tem cerca de 200 fábricas de alface com luz artificial, mas a maioria é pequena.

Segundo a empresa de estudos especializados Innoplex, serão 400 em 2025.

As alfaces são fáceis de produzir em condições artificiais.

Mas morangos, tomates e outros produtos podem ser cultivados da mesma maneira, com sistemas controlados por computador.

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