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Anticorpo contra covid-19 pode desaparecer após semanas, diz estudo

Estudo espanhol mostra que apenas 5% da população desenvolveu os anticorpos necessários contra o vírus — 95% dos habitantes ainda podem ser infectados

Coronavírus: imunidade de rebanho pode não ser melhor resposta (Kevin Frayer/Getty Images)

Tamires Vitorio

Publicado em 6 de julho de 2020 às 14h32.

Última atualização em 8 de julho de 2020 às 15h06.

Desde o começo da pandemia do novo coronavírus a imunidade de rebanho é um tema bastante discutido. Adotada por países como a Suécia, a teoria, na prática, teve consequências graves. O país nórdico era, até maio deste ano, o primeiro no ranking de mais mortes por milhão de habitantes pela covid-19 — e foi ultrapassado em junho pelo Brasil. Um novo estudo espanhol, publicado na revista científica The Lancet , aponta que a imunidade de rebanho é inatingível.

Na Espanha, um dos países europeus mais afetados pela doença, com 250.545 infectados e 28.385 mortes até o momento, segundo o monitoramento em tempo real da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, apenas 5% da população desenvolveu os anticorpos necessários contra o vírus — isso significa que 95% dos habitantes ainda podem ser infectados.

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O estudo foi conduzido com 61.075 participantes que responderam a um questionário sobre sintomas do SARS-CoV-2 e realizaram testes de anticorpos. A pesquisa, iniciada em abril, já foi revisada por pares da comunidade científica.

Segundo o estudo,14% das pessoas que tinham testado positivo para anticorpos testaram negativo semanas depois. Outra descoberta do estudo é que a maioria da população ainda não foi exposta ao vírus, mesmo em lugares de alta circulação. Para os pesquisadores, os resultados "enfatizam a necessidade de as medidas sobre saúde pública serem mantidas para evitar uma nova onda da pandemia".

A teoria da imunidade consiste no efeito de proteção que surge nas pessoas quando grande parte se vacinou contra uma doença — assim, mesmo quem não tomou a vacina fica protegido. Muitos acreditam que o indivíduo, ao contrair o SARS-CoV-2, se torna imune a ele. Assim, quanto mais gente for infectada, maior a chance de todos se tornarem imunes. É daí que vem o termo “imunidade de rebanho”. Com ela, todos estariam protegidos. No caso da covid-19, fica difícil imaginar que a situação possa ser resolvida dessa forma, já que ainda não existe uma vacina e não se sabe exatamente se alguém com os anticorpos contra a doença não será infectado novamente.

Nenhum estudo comprovou ainda se a imunidade após o contágio do novo coronavírus realmente acontece. Mesmo se acontecer, em outras variações do vírus (como a OC43 e a HKU1), as pessoas ficam imunes por um período determinado de tempo. A imunidade só dura até que surja uma nova cepa do vírus, uma vez que a mutação é inerente a ele. É o que nos faz pegar gripe mais de uma vez, por exemplo.

Para que uma doença desapareça, é preciso que uma boa quantidade de pessoas esteja imunizada. No caso do sarampo, o percentual de imunização fica entre 92% e 95% da população. O número é proporcional à taxa de replicação de um vírus, conhecida pelo símbolo R0.

O sarampo é altamente contagioso. Cada infectado pode transmitir o vírus para outros 12 ou mais. Isso significa que a taxa de reprodução (o R0) é igual a 12. Os cientistas ainda estudam qual é o R0 da covid-19, mas a estimativa é que fique entre 2 e 3. Sabendo essa taxa, estima-se que a covid-19 possa ser erradicada se 60% a 70% das pessoas estiverem imunizadas.

A quarentena pode reduzir o R0 para perto de 1 (quando cada pessoa infectada passa a doença a apenas uma). Nesse caso, o percentual­ de imunização cai para o nível entre 20% e 30%. Esse é o número mágico que todas as autoridades de saúde pública do mundo inteiro agora querem alcançar. Em teoria, é possível diminuir a taxa de infecção a um nível tão baixo que a epidemia seria controlada até que a população alcançasse a imunização natural.

O estudo espanhol traz agora uma luz às trevas. E recomenda que a imunidade de rebanho não seja adotada como forma de prevenção.

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