Repórter
Publicado em 20 de abril de 2025 às 16h51.
Um estudo recente da Universidade Federal Fluminense (UFF) avaliou os riscos ambientais da orla de Niterói diante do possível aumento do nível do mar até o ano de 2100.
De acordo com os pesquisadores, áreas voltadas para a Baía de Guanabara apresentam maior vulnerabilidade socioeconômica, enquanto os trechos que encaram o Oceano Atlântico enfrentam maior fragilidade ambiental. O artigo foi publicado em março, na revista científica suíça Coasts.
A análise foi feita a partir de uma matriz de vulnerabilidade que considerou nove áreas da cidade. Quatro fatores principais foram usados para definir os níveis de risco: intensidade das ondas, presença de ecossistemas protegidos, densidade populacional e renda per capita. A Região Oceânica se destacou por sua vulnerabilidade natural, com exposição intensa às ondas e presença de ecossistemas delicados, como manguezais e restingas. Já bairros como o Barreto e parte do Centro, com população densa e baixa renda, foram apontados como os mais frágeis do ponto de vista social e econômico.
O levantamento ainda alerta que a elevação do nível do mar pode intensificar problemas já existentes, como a erosão da costa, perda de infraestrutura urbana e maior exposição a enchentes em áreas habitadas por populações vulneráveis. Mesmo em um cenário mais conservador — com elevação de 0,5 metro até 2100 — eventos extremos, como marés altas e ressacas, podem elevar o nível das águas em até 1,80 metro, afetando diretamente mais de 9 mil pessoas na Região Oceânica. Além disso, cerca de 2 milhões de metros quadrados de áreas vegetadas podem ser comprometidos.
A pesquisa também identificou grandes variações demográficas e socioeconômicas entre as regiões. A orla da Baía possui a maior densidade populacional, com aproximadamente 13.900 moradores por km², enquanto bairros da Região Oceânica, como Itacoatiara, têm apenas 537 habitantes por km². Em relação à renda, bairros como Barreto e áreas centrais registram média per capita inferior a R$ 650, contrastando com Icaraí, onde a média ultrapassa R$ 1.700.
Entre as medidas sugeridas para enfrentar esses riscos estão o reforço de estruturas de proteção costeira, o controle da expansão urbana e a ampliação de iniciativas voltadas à gestão ambiental.
Como parte das ações preventivas, a Empresa de Infraestrutura e Obras de Niterói (ION) concluiu recentemente o projeto básico de um grande reservatório subterrâneo sob o Estádio Caio Martins, em Icaraí. O “piscinão”, com capacidade para armazenar 80 milhões de litros de água, ocupará cerca de dois terços do campo e exigirá a demolição das arquibancadas voltadas para a Rua Presidente Backer.
O sistema contará com uma nova rede de drenagem que abrangerá um trecho de seis quilômetros, passando pelas ruas Lopes Trovão e Presidente Backer, e um quadrilátero delimitado pelas ruas Paulo César, Mariz e Barros, Santa Rosa e a Avenida Roberto Silveira.