Foto usada pelos pesquisadores para alegar que haviam fungos em Marte. Por enquanto, não foi confirmado o que realmente está na foto. (Futurism)
Laura Pancini
Publicado em 7 de maio de 2021 às 10h36.
Última atualização em 7 de maio de 2021 às 10h37.
Com o rover Perseverance da Nasa e seu companheiro, Ingenuity, rondando por Marte em busca de sinais de que já houve vida microbiana por lá, o planeta vermelho vem chamando bastante atenção.
Porém, na última quarta-feira, 5, a atenção veio pelos motivos errados. Um estudo publicado confundiu pesquisadores com sua afirmação chocante: fungos haviam sido vistos em Marte, indicando sinais de vida. Porém, a informação não tem embasamento científico e tudo indica que seja falsa.
De acordo com o site de notícias CNET, o responsável por trás da afirmação é Rhawn Gabriel Joseph, um neurocientista que já fez diversas afirmações sobre vida em outros planetas em seu site e em jornais pseudo-científicos, também supervisionados por Joseph.
Algumas vezes, suas "informações" acabam chegando na grande mídia — neste caso, chegaram no jornal científico Advances in Microbiology, que já foi acusado de coisas como republicar artigos científicos e cobrar honorários de cientistas, sem verificar a qualidade e veracidade do conteúdo. A junção dos dois aparenta ter sido a combinação perfeita para a divulgação de uma notícia com pouca credibilidade.
No artigo de Joseph, "Fungos em Marte? Evidência de crescimento e comportamento de imagens sequenciais", ele e seus coautores pegaram imagens obtidas pelo rover da Nasa e tentaram apontar características que supostamente evidenciariam o crescimento de fungos. Além das imagens, eles também repetem "velhos argumentos" para a vida em Marte, usando o que o CNET considera como metodologia imprecisa.
"Alegar que fungos estão brotando em Marte é uma afirmação que requer melhores evidências do que uma análise da morfologia fotográfica", comenta Paul Myers, biólogo que acompanhou o trabalho de Joseph em 2020.
O astrobiólogo Brendan Burns concorda e ressalta: "Todas as evidências disponíveis sugerem que a superfície de Marte não é hospitaleira para a vida."
Teorias científicas como "cogumelos em Marte" podem prejudicar organizações como a Nasa, que se dedicam diariamente para encontrar sinais legítimos de vida no planeta vermelho.
Jackson Ryan, jornalista do CNET, questionou o periódico Advances in Microbiology para pedir esclarecimentos sob o processo de revisão por pares, mas não recebeu resposta.
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