Uma serpente sucuri, encontrada na natureza, que pode atingir até 6 metros de comprimento (Andrés Alfonso-Rojas)
Colaboradora
Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 16h37.
Fósseis encontrados nas formações Socorro e Uramaco, na Venezuela, revelam um detalhe curioso sobre as anacondas: que elas já tinham porte gigante há pelo menos 12 milhões de anos.
A conclusão é de um estudo publicado nesta terça-feira, 2, no Journal of Vertebrate Paleontology, que analisou 183 vértebras de 32 sucuris, que fazem parte do gênero Eunectes. As rochas têm em torno de 14,5 e 6,8 milhões de anos, tempo que corresponde ao período Mioceno Médio e Superior.
A pesquisa foi conduzida por especialistas das universidades de Cambridge e Zurique, do Museu Paleontológico de Uramaco e da Universidade Nacional Experimental Francisco Miranda, e concluiu que essas serpentes foram mais resistentes às mudanças climáticas do que outras espécies.
Para estimar o tamanho das serpentes, os paleontólogos compararam as medidas dos fósseis com as que constam em bancos de dados atualizados e com as de outra espécie fóssil do período, Colombophis. A partir dessa análise, eles descobriram que as sucuris tinham o comprimento médio estimado em 4,14 metros, com mínimo de 3,95 m e máximo de 5,23 m.
Os resultados apontam que as anacondas do passado tinham dimensões muito próximas às das espécies atuais, que costumam atingir 5 m e, em alguns casos, superam os 6 m.
Segundo Andrés Alfonso-Rojas, doutorando de Cambridge e primeiro autor do estudo, a grande quantidade de material disponível ajudou a reconstruir os milhões de anos da história evolutiva do grupo.
Fósseis de sucuris analisados por pesquisadores (Jorge Carrillo-Briceño)
"O que torna esse estudo diferente é que temos uma quantidade de material fóssil robusta de uma serpente que ainda existe hoje, com espécimes que abrangem de 12 a 6,8 milhões de anos atrás –quase 6 milhões de anos de história evolutiva– em Urumaco. Usando reconstruções com base em análise filogenética, confirmamos que as anacondas já possuíam tamanhos grandes há 12 milhões de anos", diz o paleontólogo.
Ainda segundo André, a conservação do tamanho das anacondas chama a atenção dos pesquisadores porque mostra que elas resistiram a mudanças ambientais que aconteceram nos últimos milhões de anos e afetaram outras espécies de répteis gigantes, que "encolheram" com o tempo.
"Outras espécies, como crocodilos e tartarugas gigantes, foram extintas desde o Mioceno, provavelmente devido ao resfriamento das temperaturas globais e à redução de seus habitats. Mas as sucuris gigantes sobreviveram — elas são extremamente resistentes", explica o coautor do estudo.
Durante o período Mioceno Médio e Superior, as condições ambientais eram quentes, úmidas e com grande oferta de alimento, fatores que favoreceram o crescimento de muitas espécies tropicais. De acordo com a pesquisa, a manutenção do porte gigante ao longo desses milhões de anos pode estar relacionada ao fato de que as sucuris gigantes continuaram ocupando ambientes pantanosos, com características semelhantes às do passado.
O Brasil tem o clima propício para as sucuris, com regiões úmidas e quentes, como brejos, margens de rios e pântanos, que combinam com seu estilo de vida semiaquático. Não à toa, o país abriga três das cinco espécies conhecidas do gênero Eunectes. São elas:
As duas espécies que ainda não foram avistadas no Brasil são a sucuri de bene, de nome científico é Eunectes benienses e avistada na Bolívia, e a sucuri-verde- do norte, a Eunectes akayima, recém-descoberta na Amazônia equatoriana.
Da lista, a sucuri-verde é a maior de todas, considerando a massa corporal — pode atingir mais de 130 quilos e superar os sete metros. Ela só perde para a píton-reticulada, encontrada no Sudoeste Asiático, no quesito comprimento.
Uma curiosidade sobre as sucuris é que, apesar de serem grandes predadoras, não são venenosas. Trata-se de uma espécie carnívora, que caça suas presas em regiões próximas ao seu habitat natural, segundo informações do Instituto Butantan e do site Animal Diversity Web (ADW).