Ciência

Filhos únicos são mais criativos (e mais difíceis), diz estudo

Testes neurológicos e de personalidade mostram o potencial criativo de quem não tem irmãos e confirmam o senso comum: é difícil lidar com eles. "É LeviOsa!"

Filhos únicos: a análise dos resultados mostrou que o grupo de filhos únicos teve um desempenho melhor nos testes de criatividade do que aqueles que tinham irmãos (Divulgação/Reprodução)

Filhos únicos: a análise dos resultados mostrou que o grupo de filhos únicos teve um desempenho melhor nos testes de criatividade do que aqueles que tinham irmãos (Divulgação/Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 9 de maio de 2017 às 16h02.

Última atualização em 9 de maio de 2017 às 18h22.

Filhos únicos têm uma péssima reputação no histórico dos estudos de personalidade.

Isso porque o senso comum já abraçou a ideia de que a falta de irmãos faz com que eles tenham mais dificuldades sociais, não aprendam a dividir desde cedo e desenvolvam, portanto, traços mais egoístas.

Um estudo recente do Laboratório de Cognição e Personalidade, do Ministério da Educação da China, porém, investigou o cérebro de centenas de universitários e concluiu que pode existir uma grande vantagem em ser filho único: uma criatividade avantajada.

Os pesquisadores começaram o experimento com uma bateria de testes de personalidade. Um deles testava o potencial da imaginação de cada voluntário.

Eles precisavam pensar em formas curiosas de transformar caixas de papelão, jeitos inéditos de usar brinquedos infantis e soluções criativas para problemas imaginários.

Depois, os participantes passavam por exames de imagem que identificavam o volume de massa cinzenta em cada área do cérebro deles.

A análise dos resultados mostrou que o grupo de filhos únicos teve um desempenho melhor nos testes de criatividade do que aqueles que tinham irmãos. E a diferença foi refletida nos exames também: os filhos solitários tinham mais massa cinzenta concentrada no giro supramarginal. É uma área do cérebro que faz parte do lobo parietal, região associada com a imaginação e uma certa flexibilidade mental.

Para os cientistas, uma possível explicação para essa diferença é o convívio mais intenso que filhos únicos tendem a ter com adultos. Eles também ganham atenção exclusiva dos pais, o que pode ser um estímulo a mais durante seu desenvolvimento.

Por outro lado, a pesquisa também parece concordar parcialmente com o senso comum. O teste também revelou que os filhos únicos apresentavam agreeableness abaixo da média. Este traço de personalidade, às vezes traduzido como amabilidade, é ligado à preocupação com os outros, valorizando seu bem estar.

Pessoas com alta amabilidade tendem a colocar os interesses dos outros acima dos seus próprios e fazem questão de ser calorosas nas suas relações. Já o desempenho dos filhos únicos mostra uma tendência de priorizar os próprios interesses e tratar os outros com ceticismo.

Os exames de imagem do cérebro também parecem estar associados a esse resultado: os cientistas encontraram uma concentração menor de massa cinzenta no córtex pré-frontal medial. Essa região é ativada quando pensamos em nós mesmos em relação aos outros.

De novo, os cientistas teorizam que a resposta esteja na forma como os filhos únicos são criados. Nunca precisaram competir por atenção ou elogios e tiveram que lidar com expectativas altas por toda vida.

Vale lembrar, porém, que os resultados podem não ser iguais para todos os lugares do mundo. Os estudos foram todos feitos na China – em que o número de crianças sem irmãos aumentou muito graças à política do Filho Único – e todos os participantes eram universitários chineses.

Os resultados da pesquisa levaram em conta tanto o perfil socioeconômico dos voluntários quanto o nível de escolaridade dos pais, mas não dá para excluir totalmente os efeitos de uma cultura tão diferente da nossa.

Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Superinteressante.

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