Ciência

Fazenda experimenta vacas com baixa emissão de carbono em prol do planeta

Mudanças na alimentação, como a substituição de soja por canola, pode ajudar na redução da emissão de gases

Vacas: segundo dados do Citepa (Centro Técnico de Estudos da Poluição Atmosférica), 14% dos gases de efeito estufa são provenientes dos bovinos (Tony C French/Exame)

Vacas: segundo dados do Citepa (Centro Técnico de Estudos da Poluição Atmosférica), 14% dos gases de efeito estufa são provenientes dos bovinos (Tony C French/Exame)

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AFP

Publicado em 10 de setembro de 2019 às 11h56.

Última atualização em 10 de setembro de 2019 às 12h03.

São Paulo — À primeira vista, nada as distingue de outros ruminantes, mas as 120 vacas leiteiras da fazenda experimental Trévarez, no noroeste da França, produzem menos emissões de carbono, o que contribui para reduzir seu impacto no aquecimento global.

Segundo dados do Citepa (Centro Técnico de Estudos da Poluição Atmosférica), 14% dos gases de efeito estufa são provenientes dos bovinos. A isto se soma o consumo por esses animais de farelo de soja, o que aumenta a pegada de carbono.

Com o objetivo de reduzir em 20% suas emissões de gases de efeito estufa até 2025, o setor de laticínios francês lançou na Bretanha (noroeste), a principal região leiteira da França, um programa experimental chamado "ferme bas carbone" (fazenda com baixa emissão de carbono).

Esse experimento, administrado pela Câmara de Agricultura da França, foi incluído na agenda de soluções da COP21.

Seu objetivo, no papel, é espalhar boas práticas entre todos os agricultores.

"Ser capaz de dizer que produzimos leite enquanto minimizamos seu impacto no meio ambiente será, sem dúvida, decisivo no futuro", diz Pascal Le Cœur, agrônomo e diretor da fazenda.

Com as vacas leiteiras Prim 'Holstein, a primeira raça leiteira do mundo, os técnicos da Trévarez trabalham em uma série de parâmetros para minimizar a pegada de carbono, sem afetar as finanças da fazenda.

Tendo em conta que as principais fontes de emissões provêm da alimentação e do metano da digestão, Trévarez trabalha duro para adaptar a alimentação dos ruminantes.

Assim, o farelo de soja, cujo cultivo acelera o desmatamento da Amazônia, foi substituído pelo farelo de canola.

"A canola é melhor, mas é preciso trazê-la em caminhões, então o que queremos agora é usar outros grãos cultivados localmente, como favas", explica Le Cœur.

'Não existe receita milagrosa'

No verão, o pasto constitui 60% de sua alimentação. A este se combina milho forrageiro cultivado localmente. No inverno, a ração de milho é aumentada para que os animais enfrentem o frio nas melhores condições.

Além dos benefícios em termos de autonomia alimentar e pegada de carbono, esses menus são avaliados com base no metano liberado na atmosfera, graças a um dispositivo localizado próximo às mandíbulas dos ruminantes.

Os técnicos da Trévarez também reduziram o uso de fertilizantes químicos, que emitem óxido nitroso (N2O), e os substituíram por fertilizantes orgânicos que se espalham "o mais próximo possível do solo, ou mesmo por injeção no solo", somente quando as condições climáticas impedem a volatilização da amônia.

Outro parâmetro-chave é a gestão de gado para minimizar "animais improdutivos".

A fazenda mantém apenas as novilhas necessárias, limita a reprodução de vacas leiteiras e aumentou a idade média do primeiro nascimento para entre 26 e 24 meses.

"Não existe uma receita milagrosa, mas uma soma de pequenas rotas que levam a uma descendência mais virtuosa", resume Le Cœur.

"Não devemos esquecer que vivemos numa época em que será cada vez mais difícil produzir leite com verões mais quentes e secos", acrescenta.

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