Ciência

Estudo desmente desaceleração do aquecimento global por 15 anos

O trabalho dos pesquisadores das Universidades de Berkeley, na Califórnia, e de York, no Reino Unido, confirmam as conclusões de um estudo de 2015

Aquecimento global: os cientistas corrigiram a distorção entre os estudos, causada pelos diferentes métodos para medir a temperatura dos oceanos (REUTERS)

Aquecimento global: os cientistas corrigiram a distorção entre os estudos, causada pelos diferentes métodos para medir a temperatura dos oceanos (REUTERS)

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AFP

Publicado em 4 de janeiro de 2017 às 22h42.

Durante 15 anos, entre 1998 e 2014, uma aparente desaceleração do aquecimento global foi usada pelos céticos como argumento para afirmar que o fenômeno era "um engano", mas um estudo publicado nesta quarta-feira (4) aponta que essa pausa foi uma ilusão.

O trabalho dos pesquisadores das Universidades de Berkeley, na Califórnia, e de York, no Reino Unido, confirmam as conclusões de um estudo de 2015, elaborado pela Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês).

"Nossos resultados significam basicamente que a NOAA tinha razão e que seus cientistas não alteraram os dados", aponta o pesquisador Zeke Hausfather, de Berkeley, e principal autor do estudo publicado na revista americana Science Advances.

A análise feita em 2015 pelos cientistas da NOAA mostrou que as temperaturas medidas pelas boias usadas hoje nos oceanos são ligeiramente mais frias do que as registradas nas leituras feitas pelos navios no passado.

Essas diferenças de temperatura entre o velho e o novo sistema de medição ocultaram a realidade do aquecimento global nesses 15 anos, concluíram os pesquisadores.

Publicado em 2015, o trabalho da NOAA foi muito criticado pelos chamados céticos do clima, alegando que essa "pausa" era uma prova de que o aquecimento global era um "engano".

Um comitê da Câmara de Representantes, de maioria republicana, chegou a pedir aos cientistas da NOAA acesso aos e-mails relacionados com esse estudo.

A agência concordou em transmitir os dados e responder a todas as perguntas científicas, mas se negou a entregar a correspondência eletrônica entre os autores do estudo.

A decisão contou com o apoio da comunidade científica, preocupada com a inquisição política.

Inicialmente cética

Em seu quinto informe, publicado em setembro de 2013, o Painel Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) apontou que, entre 1951 e 2012, a tendência média de aquecimento global foi de 0,12°C por década. Já entre 1998 e 2012 foi de apenas 0,07°C por década.

Agora, os cientistas corrigiram essa distorção, causada pelos diferentes métodos para medir a temperatura dos oceanos: o aumento da temperatura média da superfície dos mares se manteve constante em 0,12°C por década nesse período.

O último estudo também se baseou em dados independentes provenientes diretamente dos satélites e da rede Argos, um sistema mundial de localização e de coleta de dados por satélites.

Todas essas medidas confirmam as descobertas da NOAA em 2015.

"Inicialmente, estávamos céticos quanto aos resultados da NOAA, porque mostraram um aquecimento mais rápido nesse período do que o indicado anteriormente por um estudo atualizado do Serviço Nacional Britânico de Meteorologia (Met Office)", disse Kevin Cowtan, da Universidade de York.

"Verificamos nós mesmos, usando diferentes métodos e dados, e concluímos que a NOAA tinha razão, uma conclusão a que também chegou recentemente a Agência Meteorológica do Japão, utilizando dados ainda mais recentes", detalhou.

Historicamente, os marinheiros mediam a temperatura do oceano por meio da coleta de água com um cubo, no qual se introduzia um termômetro.

Na década de 1950, os navios começaram a fazer a leitura das temperaturas de forma automática nas tubulações que passam pela sala de máquinas.

Hoje há boias de coleta de dados espalhadas por todos os oceanos.

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