Ciência

Esta crença popular sobre anticoncepcionais é um mito

Não há evidências biológicas que confirmem a necessidade de se “dar um tempo ao corpo”

. (Tim Matsui/AFP)

. (Tim Matsui/AFP)

São Paulo – Atualmente, 9% das mulheres ao redor do mundo tomam algum tipo de pílula anticoncepcional. Algumas das maneiras de se administrar o uso deste método contraceptivo incluem a interrupção do processo por uma semana, período conhecido popularmente como “pausa”. O que muitas mulheres não sabem é que esta pausa é, na verdade, desnecessária.

Primeiramente, o sangramento observado não é a menstruação de fato, e sim uma reação à queda brusca de hormônios fornecidos artificialmente ao organismo pela pílula. Com isso, endométrio se descama e ocorre o sangramento. A suspensão do período sem pílulas, ou o uso dos comprimidos de efeito placebo–geralmente apresentados com uma cor diferente nas cartelas com duração de 4 semanas–não tem, portanto, efeitos negativos ao organismo feminino.

É importante ressaltar que alterações no uso da pílula não devem ser vistas como uma simples questão de escolha de acordo com o que é mais confortável. O obstetra e ginecologista Dr. Domingos Mantelli ressalta para necessidade do acompanhamento médico. “A indicação do tipo de pílula, dosagem, presença ou ausência da pausa dependem do histórico de cada paciente”, afirma Mantelli, em entrevista a EXAME. “Recomendo que a mulher só opte por parar de menstruar se tiver indicação para isso, como risco de endometriose, muita TPM ou cólicas fortes.”

Origens do mito das pílulas placebo

A ideia de que é necessário uma semana de pausa no uso dos anticoncepcionais está ligada a diversos fatores. Criada na década de 1960, a pílula levou em conta, em seu planejamento, a manutenção de algumas ideias vigentes na época para que seu uso fosse mais facilmente aceito na sociedade. Entre os conceitos adotados, estão a noção de que a mulher precisaria de uma confirmação de que não está grávida ao notar o sangramento e a impressão de que a pílula seria algo “natural”, acarretando poucas mudanças perceptíveis em seu processo. Assim se justificariam o estímulo da semana de pausa e a posterior adoção de pílulas placebo para que as mulheres não precisassem nem mesmo se preocupar em parar o uso contínuo para seguir notando o sangramento.

A ginecologista Nitu Bajeka se opõe a esse mito. "Estudos têm mostrado consistentemente que, quando as mulheres são informadas de que não há efeitos prejudiciais por não terem sangramento enquanto tomam a pílula, especialmente no que diz respeito à fertilidade, eles escolhem ter períodos menos freqüentes ou eliminá-los completamente", disee Bajeka, fundadora da Women for Women Health UK, em um artigo para o HuffPost.

Mantelli acrescenta que a presença das pílulas de efeito placebo nas cartelas seriam uma maneira de as mulheres não se esquecerem de voltar a tomá-las após as três semanas de uso das pílulas de efeito real. “Se é uma mulher que pode confundir o dia de retornar depois da pausa e comprometer o andamento do processo, esse método pode ser indicado”, afirma o médico.

Acompanhe tudo sobre:AnticoncepcionaisMedicinaMulheresSaúde

Mais de Ciência

'Cometas escuros' podem ter trazido água à Terra, diz estudo

Banana Azul? Fruta existe, tem gosto de sorvete 'famoso' e pode ser achada em locais inimagináveis

Crocodilo com 10 mil filhos se torna o mais velho do mundo

Rússia anuncia vacina contra o câncer com distribuição prevista para 2025