Entenda o que é a esclerose múltipla, doença da atriz Selma Blair
Atriz de série do Netflix revelou no Instagram diagnóstico de doença autoimune que não tem cura
Letícia Naísa
Publicado em 24 de outubro de 2018 às 19h02.
Última atualização em 24 de outubro de 2018 às 19h17.
São Paulo — A atriz Selma Blair foi diagnosticada com esclerose múltipla (EM) e fez uma postagem em seu Instagram relatando que recebeu a notícia em agosto.
Selma atuou no filme “Legalmente Loira” e atualmente está gravando “Another Life”, uma série de ficção científica da Netflix .
A doença é a mesma da atriz brasileira Claudia Rodrigues.
A esclerose múltipla é uma doença autoimune, ou seja, em que o sistema imunológico do corpo ataca células saudáveis. No caso da EM, as células de defesa atacam a bainha de mielina dos neurônios, estrutura responsável pela transmissão de impulsos nervosos. Não existe cura para a esclerose múltipla.
Há estimas de que existem cerca de 2,5 milhões de pessoas no mundo com a doença. No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, há cerca de 35 mil pacientes. Ainda não se sabe porquê, mas a EM é uma doença que atinge mais mulheres do que homens.
As causas da doença são genéticas, dizem especialistas. Pessoas com casos de EM na família têm mais chance de desenvolvê-la. Outros fatores como tabagismo, obesidade e baixa exposição ao sol durante a adolescência também podem desencadear o desenvolvimento da doença.
Segundo o neurologista Rodrigo Thomaz, do Hospital Albert Einstein, há indícios da influência de alguns tipos de vírus herpes que podem desencadear a doença.
O diagnóstico é feito por meio da manifestação clínica e de exames neurológicos e de ressonância magnética.
Em sua postagem, Selma afirmou que entre seus sintomas estavam problemas motores e de memória. Segundo Thomaz, os sintomas variam para cada paciente.
“Dependendo da área afetada, eles aparecem, podendo ser fraqueza no corpo, nos braços, fadiga, cansaço além do habitual, tontura, perda de visão”, diz o neurologista. “Eles normalmente não acontecem todos juntos, mas em um ataque, que chamamos de surto, e depois a pessoa melhora.”
Com a progressão da doença, outras áreas do cérebro são afetadas e novos surtos podem acontecer. Depois de muitas lesões, o paciente pode ficar com sequelas sérias, como problemas cognitivos e dificuldade de andar.
O tratamento mais comum é feito por meio de medicamentos para controlar a progressão das lesões no cérebro que levam aos surtos. “Hoje existe uma gama de novos medicamentos que pode realmente deixar a doença muito controlada”, afirma Thomaz.
Além dos medicamentos, hábitos de vida e alimentação saudáveis também são recomendados para os pacientes com EM. “Atividade física é uma das principais recomendações para estimular a regeneração cerebral”, afirma o neurologista.
Novo tratamento
Outra via de tratamento é o transplante de células tronco adultas. Uma pesquisa recente do Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto (SP) apontou que ele é mais eficaz do que os medicamentos.
Em parceria com pesquisadores da Suécia, Inglaterra e Estados Unidos, pesquisadores observaram 110 pacientes com a doença em sua fase mais ativa por cinco anos. Metade foi tratada com medicamentos e a outra metade recebeu o transplante.
Apenas três pacientes do grupo transplantado tiveram reativação da doença. “Houve uma melhora da parte neurológica, os pacientes puderam caminhar mais e recuperaram a força”, afirma a pesquisadora Maria Carolina de Oliveira.
Do outro grupo, 60% dos pacientes tiveram reincidência da doença.
O que o tratamento faz é reiniciar o sistema imunológico para que ele deixe de atacar células saudáveis. Células tronco saudáveis do próprio paciente são colhidas da medula óssea e o paciente passa por sessões de quimioterapia para “resetar” o sistema imunológico. Depois, o paciente recebe de volta as células tronco para reconfigurar o sistema imunológico.
Segundo a pesquisadora, o transplante deve ser feito em pacientes que estiverem no estágio inicial da doença e que não responderam a outros tipos de tratamento.
“Ao longo do tempo, vimos que funciona melhor em pacientes com a doença mais precoce, porque eles ganham mais com o transplante, a doença para de progredir e o risco é menor”, diz Maria Carolina.
Segundo a pesquisadora, o tratamento custa cerca de 15 mil reais.