Em nova corrida espacial, países e empresas lançam missões a Lua e Marte
Em uma indústria avaliada em quase 360 bilhões de dólares globalmente, vale tudo para chegar na frente?
Tamires Vitorio
Publicado em 20 de julho de 2020 às 06h00.
Última atualização em 20 de julho de 2020 às 15h33.
Há 51 anos, o homem pisou na Lua pela primeira vez. À época, a briga espacial era entre a União Soviética e os Estados Unidos . Ninguém era capaz de prever que, em 2020, a corrida ganharia outros contornos, outros integrantes e, principalmente, outros destinos. Em 1969 a briga era pela Lua. Agora, os países querem o espaço inteiro.
Somente neste ano, duas viagens espaciais já aconteceram. A primeira, realizada pela agência espacial americana Nasa em uma iniciativa inédita ao lado de uma empresa privada, a SpaceX, de Elon Musk , levou dois astronautas à Estação Espacial Internacional no dia 30 de maio. Os americanos Bob Behnken e Doug Hurley devem voltar à Terra no dia dois de agosto.
Em meio à pandemia do novo coronavírus , deixar que as empresas privadas arquem com a maioria dos custos de uma viagem espacial pode ajudar a diminuir os gastos do governo. Na semana passada, a Nasa anunciou um acordo com a companhia americana Virgin Galactic, do Grupo Virgin, para privatizar os treinos de astronautas.
Já a segunda traça os planos ambiciosos dos Emirados Árabes Unidos de se tornarem uma potência além do petróleo e enviou uma espaçonave para Marte a fim de entender o clima e coletar outras informações sobre o planeta vermelho. A China também pretende enviar um veículo a Marte ainda neste mês, o que deve acirrar ainda mais a briga por um lugar ao céu.
Em uma indústria avaliada em quase 360 bilhões de dólares globalmente, segundo a empresa Bryce Space and Technology, que analisa o setor espacial, vale tudo para chegar na frente?
A Nasa, a Lua, Marte e tudo que há no meio
Outros lançamentos não tiveram a mesma sorte.
Foi o caso do rover da Nasa, o Perseverance (perseverança, na tradução para o português), que estava previsto para ser lançado neste mês e teve de ser adiado por conta de um problema no foguete Atlas V, que faria o lançamento. A ideia da agência era que o rover descobrisse a existência de vida no planeta e coletasse outras informações sobre ele, como fazer a coleta de pedras que poderão ser as primeiras a voltar para a Terra.
Essa foi a terceira vez que o evento foi adiado: a primeira foi do dia 17 para 20 de julho, depois do dia 20 para o dia 22 e, finalmente, para o dia 30 de julho. Com todos os problemas, o custo previsto para a missão aumentou para 2,7 bilhões de dólares, o que estourou o orçamento em cerca de 360 milhões de dólares.
Mas o que são os rovers? Eles são espécies menores de veículos espaciais equipados com instrumentos para realizar a exploração dos ambientes dos planetas. Se der certo, este será o quinto a ser colocado em terras marcianas pela agência americana --- e também o mais poderoso.
Se tudo der errado, a Nasa só poderá tentar fazer o lançamento novamente em 2022. Isso porque as missões espaciais rumo a Marte têm um período curto para o envio das naves por dois anos, que ocorre quando o planeta se aproxima da Terra em órbita ao redor do Sol.
Resta saber se os Estados Unidos terão a mesma sorte em Marte que tiveram na Lua.
Musk e Marte: uma dupla conhecida
Musk, em 2016, confirmou seus desejos de um dia colonizar Marte e enviar cerca de 1 milhão de pessoas para lá até 2050, com direito até a criação de empregos. A esperança dele é construir 1.000 espaçonaves em dez anos --- o que daria uma quantidade de 100 construções por ano. Cada uma delas poderia levar, em média, 100 pessoas. A meta da SpaceX é pousar o primeiro foguete em Marte já em 2022. Em 2024, a ideia da empresa é ter uma missão tripulada para chegar até lá.
No ano passado, Musk afirmou que o custo para se mudar para Marte estaria em torno de 500.000 dólares (mais de 2 milhões de reais na cotação atual) ou "até mais barato" e abaixo de 100.000 dólares (cerca de 537.000 reais). Se a pessoa optar por se mudar de volta à Terra, o bilhete será gratuito. Um bônus para a carteira se tudo der errado no planeta vermelho.
Segundo o site da SpaceX, são vários os motivos para tentar povoar Marte. "O planeta, com uma distância média de 2,25 milhões de quilômetros da Terra, é um dos nossos vizinhos mais próximos", diz o site. "A gravidade em Marte está em torno de 38% da gravidade da Terra, então você seria capaz de levantar coisas pesadas e pular por aí. Além do mais, a duração do dia é parecida com a da Terra." Por lá, os dias duram 24 horas e 37 minutos. O que você faria com quase 40 minutos a a mais no seu dia?
Negócio da China: dessa vez no espaço
Marte parece ser uma tendência para 2020, exatamente por sua proximidade com a Terra. E isso não passaria batido pela China, que pretende lançar uma missão chamada de Tianwen-1, que significa “busca pela verdade celestial”, também no final deste mês. O objetivo dos chineses é realizar um levantamento da atmosfera do planeta e descobrir se existe água potável ou sinais de vida no local e a missão deve chegar em Marte em fevereiro do ano que vem.
Esse seria um passo importante para a China, que tentou mandar um orbitador para o planeta em 2011, a bordo de uma espaçonave russa, mas tudo deu errado e as sondas desapareceram sem deixar vestígios. Em 2013, conseguiu, com sucesso, pousar uma espaçonave na Lua e em janeiro do ano passado foi o primeiro país do mundo a alunar uma sonda no lado mais afastado do satélite.
A Índia também quer a Lua
Em novembro deste ano, os indianos devem enviar mais uma missão para a Lua, a Chandrayaan-3. Em julho de 2019, sua sucessora, a Chandrayaan-2, tentou pousar na superfície lunar, mas passou por um acidente e teve problemas de comunicação com a Terra.
A Índia, que tem uma espécie de Nasa indiana, a Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO, na sigla em inglês), tem mais de 500 grandes e pequenas empresas voltadas ao espaço, mas nenhuma delas é madura o suficiente para colocar o desenvolvimento espacial do país em outro patamar.
O orçamento da agência para 2020 e 2021 é de 13,5 milhões de rúpias (cerca de 179.000 dólares na cotação atual, ou 968.000 reais) --- um orçamento 7,5% maior do que no ano passado e 45,2% maior do que em 2016, ainda assim bem longe dos padrões de outros países, mas indica o foco da Índia no espaço.
Todas as expectativas da Índia, então, estão voltadas para o lançamento de novembro.
Bezos além da Amazon
Em abril deste ano, a empresa Blue Origin, de Jeff Bezos , homem mais rico do mundo e CEO da Amazon , recebeu o prêmio mais alto da Nasa, de 579 milhões de dólares, para levar astronautas à Lua.
A empresa ainda não fez nenhum lançamento, mas tem ambições parecidas com a SpaceX de Musk e tem metas de lançar seu foguete até a órbita da Terra, batizado de " New Glenn ", em 2021.
Assista no Examinando : será que o homem vai dominar o espaço?