Dinossauros sobreviveriam se asteroide caísse em outro lugar
Há 65 milhões de anos, só 13% da superfície do planeta seria capaz de formar a grande nuvem de poeira que causou a extinção em massa do Cretáceo
Victor Caputo
Publicado em 12 de novembro de 2017 às 07h00.
Última atualização em 12 de novembro de 2017 às 07h00.
Você conhece de trás para frente a hipótese mais aceita para o sumiço da fauna do Cretáceo: há 65 milhões de anos um asteroide despencou na Terra e abriu uma crateramaior que Sergipepróximo a Chicxulub, na atual península mexicana de Yucatán. A nuvem de poeira formada pelo impacto do pedregulho teria alterado drasticamente a vida por aqui, impedindo as plantas de fazer fotossíntese, enchendo a atmosfera de enxofre, diminuindo as temperaturas e levando para a vala toda uma complexa cadeia alimentar—cujos dinossauros estavam no topo.
É verdade que os 10 km de diâmetro do asteroide já seriam suficientes para causar um bom estrago. Mas dá para dizer também que T-rex e sua trupe foram um tanto azarados. Aquela história de estar no lugar errado e na hora errada nunca fez tanto sentido: isso porque, de acordo com uma dupla de paleontólogos japoneses, as perdas não seriam tão grandes caso o corpo celeste resolvesse cair em um canto diferente do planeta.
Seu estudo, publicado no jornal Scientific Reports , sugere que só 13% da superfície da época continha depósitos de hidrocarbonetos ( óleo cru, gás natural e querogênio ) em quantidade suficiente para formar a famigerada nuvem de poeira. Ou seja: havia 87% de chance de o asteroide ter propiciado consequências bem menos devastadoras.
Essas porcentagens consideram estimativas sobre o total de matéria orgânica e inorgânica que seria lançada para a atmosfera em um possível impacto. Segundo os cálculos dos cientistas, o total de poeira somaria até 2.300 milhões de toneladas. Um cenário desse tipo só poderia acontecer em áreas de rochas sedimentares, caso de uma seleta parte da Terra—como a península de Yucatán, por uma fina ironia do destino.
Como os pesquisadores destacam no estudo, um declínio de 5 graus na temperatura já seria suficiente para dizimar um bom número de espécies. O impacto do objeto, no entanto, fez mais que isso, aumentando o número de terremotos e esfriando a o clima da Terra em pelo menos 10ºC. Para piorar, os metais tóxicos trazidos pelo asteroide causaram a acidificação dos oceanos (que, com o pH alto, dissolviam até as conchas dos seres marinhos ). Estima-se que o evento tenha levado embora 75% da biodiversidade do período. Bom para os mamíferos, que depois do sumiço dos dinos, se tornaram diurnos e assumiram de vez o protagonismo—como você, leitor da SUPER, ainda deve ter fresco na memória.
Apesar de certos cientistas defenderem que o asteroide não tenha cravado o adeus dos dinossauros—mas sim, seria a gota d’água para um planeta que já não ia lá muito bem das pernas—há outros argumentos que ajudam a justificar a falta de sorte dos grandes répteis.
Um estudo de 2014 mostrou, por exemplo, que o momento escolhido pelo asteroide não foi nada propício. Os animais da época se adaptariam mais facilmente à devastação causada pela grande pedra se existisse um número maior de espécies, e se elas fossem mais resistentes às adversidades do ambiente—algo que, como explica Darwin, se leva alguns milhares de anos para construir.
Neste ano, um grupo de cientistas britânicos e americanos, descobriu também que, caso o asteroide tivesse rasgado a atmosfera terrestre alguns poucos segundos depois, ele teria colidido com o mar e não com a América do Norte. Um impacto na água teria diminuído drasticamente o total de poeira na atmosfera. Azar dos dinos, sorte a nossa. Sem a extinção dos grandes répteis, o Homo sapiens não teria nem surgido — e os representantes mais complexos dos mamíferos ainda teriam tamanho semelhante ao de ratos.
Este texto foi publicado originalmente no site daSuperinteressante.