Ciência

Depois do coronavírus, como prever a próxima pandemia?

A resposta não é tão simples como uma receita de bolo e com certeza leva mais ingredientes, mas a ideia é monitorar melhor os animais selvagens

Coronavírus: como prever futuras pandemias? (Charly Triballeau/AFP)

Coronavírus: como prever futuras pandemias? (Charly Triballeau/AFP)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 10 de julho de 2020 às 11h23.

Última atualização em 10 de julho de 2020 às 16h16.

A dúvida que não quer calar é: se tívessemos nos preparado para uma pandemia antes de ela acontecer, como foi o caso do novo coronavírus, será que os resultados dela seriam remotamente menores? Mas como prever algo assim?

A resposta não é tão simples como uma receita de bolo e com certeza leva mais ingredientes. A ideia de diversos especialistas de doenças infecciosas, ecologistas, biólogs da vida selvagem e outros, no entanto, é fazer uma vigilância mais completa da vida selvagem, o que, segundo eles, poderia ajudar a identificar o potencial de infectar pessoas em animais selvagens antes de uma pandemia começar.

Muitos acreditam que a origem da covid-19 pode ter sido uma espécie de morcego que é capaz de carregar o vírus, mas nunca ser infectado por ele. Da perspectiva dos especialistas, se essa vida selvagem fosse monitorada mais de perto, a pandemia poderia ter sido evitada antes de atingir os seres humanos.

Uma pesquisa publicada no periódico científico Scientific Reports, feita pela Universidade de Saskatchewan (USask), do Canadá, sugere que mudanças na vida dos animais, como a exposição deles em mercados vivos (comuns na China, onde começou a covid-19), a outras doenças e prováveis perdas de habitats podem ter contribuído na transmissão para outras espécies. Quando um morcego passa por estresses em seu sistema imunológico, isso altera o balanço dele e permite que o vírus se multiplique. E é nesse momento que pode ocorrer o salto do vírus para outras espécies de animais.

O estudo da Universidade de Washington parece corroborar com a ideia. O que acontece é que cada espécie de animal selvagem pode carregar consigo um vírus que, quando entra em contato com outros animais, tem a oportunidade de saltar de uma espécie para outra até achar um hospedeiro capaz de transferi-la para humanos.

Segundo os pesquisadores, os animais selvagens, capturados e vendidos para consumo ou como animais exóticos de estimação, são misturados com diversas outras espécies, mas não "existe um sistema internacional configurado para rastrear vírus causadores de doenças associados ao movimento da vida selvagem ou de produtos da natureza". Para eles, esse sistema é muito importante para evitar que outras pandemias aconteçam.

"É impossível saber com que frequência os vírus animais se espalham para a população humana, mas os coronavírus causaram surtos em pessoas três vezes nos últimos 20 anos", escreveu a co-autora do artigo, Jennifer A. Philips, professora associada de medicina e co-diretora da Divisão de Doenças Infecciosas da Escola de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis. "Até uma década atrás, teria sido difícil conduzir a vigilância mundial na interface humano-vida selvagem. Mas, devido aos avanços tecnológicos, agora é viável e acessível, e nunca foi tão óbvio como isso é necessário", explicou.

No mundo, mais de 12 milhões de pessoas foram infectadas pelo SARS-CoV-2 e outras 555.531 morreram, segundo o monitoramento em tempo real da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos. Os EUA são o epicentro da doença, com 3.118.168 doentes e 133.291 óbitos. Em segundo lugar está o Brasil, com 1.755.779 infectados e mais de 69 mil mortes.

O artigo foi publicado no dia 9 de julho na revista científica Science e foi escrito por integrantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

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