(KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 25 de setembro de 2020 às 11h15.
Última atualização em 5 de outubro de 2020 às 18h31.
Um estudo realizado pelo Instituto Médico Howard Hughes, da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, pode ter descoberto novos sintomas causados pelo novo coronavírus. Os pesquisadores descobriram que uma parcela dos infectados pela doença pode estar desenvolvendo autoanticorpos que em vez de combater o vírus, atacam o sistema imunológico dos pacientes.
De acordo com o estudo liderado pelo pesquisado Jean-Laurent Casanova, uma parcela de 3,5% dos pacientes do estudo desenvolveram mutações em genes que fazem parte da defesa antiviral do organismo. O estudo também apontou que 10% dos pacientes com casos mais graves de covid-19 já desenvolveram esses anticorpos indesejados.
A pesquisa foi publicada nesta quinta-feira (24) na revista científica Science. “Esses dois artigos publicados fornecem a primeira explicação de por que a covid-19 pode ser tão grave em algumas pessoas, enquanto a maioria infectada pelo vírus está bem”, disse Casanova, conforme relatado pelo Science Daily.
A pesquisa foi iniciada em fevereiro deste ano e contou com a participação de 987 pacientes diagnosticados com covid-19. Os pesquisadores deram preferência para jovens que já apresentavam sintomas graves da doença. A ideia era investigar as fraquezas subjacentes desses sintomas nos sistemas imunológicos dos pacientes.
Em termos mais técnicos, os cientistas queriam analisar os genomas dos pacientes. Mais precisamente um conjunto de 13 genes envolvidos na imunidade à interferon, uma proteína produzida por leucócitos e fibroblastos para impedir a replicação de vírus. Ao detectar a presença da infecção viral no organismo, a proteína alerta o sistema imunológico, que combate a doença.
A pesquisa surgiu a partir de descobertas feitas pela equipe liderada por Casanova, que já havia entendido que mutações genéticas poderiam impedir a produção de interferon. Os pesquisadores, então, passaram a investir a possibilidade de isso estar ocorrendo também com pacientes com diagnosticados com o novo coronavírus.
Ao descobrir isso, os pesquisadores esperam que os cientistas possam trabalhar com mais informações para criar formas de tratar pacientes que não estão conseguindo combater a doença por conta da destruição de seus próprios sistemas imunológicos. "É uma descoberta sem precedentes", diz Isabelle Meyts, coautora do estudo e pediatra do KU, coautora do estudo, pediatra do Hospital Universitário de Leuven, na Bélgica.
Meyts também explica que os homens são mais propensos a desenvolverem esta mutação genética que impede a criação da proteína interferon. A pesquisa apontou que 94% os pacientes diagnosticados com esta condição são do gênero masculino.
O próximo passo da pesquisa realizada pela equipa de Casanova e Meyts é encontrar o condutor genético por trás da criação desses autoanticorpos. Os cientistas acreditam que essas mutações podem estar ligadas a transformações no cromossomo X, o que não afetaria mulheres que tem dois cromossomos X para compensar problemas. Os homens, apenas um.