Ciência

Conheça quatro pesquisas inovadoras para o combate ao câncer

De acordo com levantamento da OMS, as mais de cem variedades de câncer vão vitimar 9,8 milhões de pessoas neste ano

Câncer: no Brasil, a previsão é que neste ano exames identifiquem 559 mil incidências da patologia (iStock/Thinkstock)

Câncer: no Brasil, a previsão é que neste ano exames identifiquem 559 mil incidências da patologia (iStock/Thinkstock)

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Clara Cerioni

Publicado em 14 de setembro de 2018 às 17h58.

Última atualização em 14 de setembro de 2018 às 18h36.

São Paulo — Até o final deste ano, 18 milhões de pessoas ao redor do mundo terão algum tipo de câncer. Dos diagnosticados com a doença, mais da metade (9,8 milhões) não conseguirá sobreviver. Isso é o que estima um relatório da Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado na última quarta-feira (12).

Chamado de Globocan, o informativo detalha minuciosamente a ocorrência e a taxa de mortalidade para as inúmeras variações da doença. Publicado periodicamente, o relatório é construído com base em números individuais de cada país. Em sua edição anterior, em 2012, a estimativa era a de que haveria 14 milhões de novos casos ao longo de 2018, índice 28% menor do que o revelado no atual levantamento. Ou seja, a edição de 2012 subestimou a expansão da doença.

Paulo Hoff, diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), explica que o aumento no número de casos envolve fatores sociais e econômicos. "O envelhecimento populacional influencia. Mas hoje vemos aumento no câncer em jovens. A poluição excessiva, a industrialização e a alimentação não saudável contribuem", afirma.

Para a gerente da Divisão de Pesquisa Populacional do INCA (Instituto Nacional do Câncer), Liz Almeida, a alta nos diagnósticos não é uma novidade, mas, de acordo com a especialista, há números no relatório que merecem ser comemorados. "A queda nos casos de câncer no pulmão e do colo de útero mostram que estratégias preventivas são eficazes", explica.

No Brasil, a previsão é que neste ano exames identifiquem 559 mil incidências da patologia, que deve fazer mais de 240 mil vítimas. Segundo os números, em 2020 a taxa subirá para 594 mil e em 2040 será de 980 mil.

Segundo Hoff, há atualmente 1.200 produtos diferentes sendo testados no mundo para tratar o câncer. "O Brasil ainda tem uma participação tímida em desenvolvimento de pesquisas sobre a doença, mas o cenário está melhorando", diz.

A complexidade no tratamento para as mais de 100 variáveis do câncer resulta em intensas pesquisas científicas para encontrar a cura para essas doenças. Desde o século XIX, com o pioneirismo da cientista Marie Currie (1867-1934) em suas descobertas sobre radioatividade, até os dias de hoje, com o desenvolvimento de tecnologias de ponta para combater sua mortalidade.

E o investimento não é pouco: nos EUA, por exemplo, o Instituto Nacional do Câncer já colocou US$ 90 bilhões durante os 40 anos de pesquisas na área. No Canadá, desde 2005, os membros do centro de pesquisas investiram R$ 250 milhões.

Na lista abaixo, EXAME reuniu quatro pesquisas inovadoras e consagradas mundialmente por seus avanços para curar o câncer:

1 – Terapias à base de células CAR T

As pesquisas sobre tratamento à base de receptores de antígeno quimérico, células conhecidas pela sigla em inglês CAR T. foram nomeadas pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, em inglês) como o maior avanço do ano passado em tratamento do câncer.

A terapia, em resumo, utiliza os glóbulos brancos do próprio paciente para combater a patologia. As células são previamente modificadas em laboratório para que desenvolvam um receptor que identifica e destrói o câncer.

Em 2017, a Food and Drug Administration (FDA), agência de saúde do governo americano, aprovou duas terapias com células CAR T para tratar crianças e adultos com leucemia. Os pesquisadores também estão experimentando essa abordagem em outros tipos de câncer com resultados promissores, especialmente no mieloma múltiplo (doença agressiva que atinge a medula óssea).

2 – Avanços contra o câncer de pâncreas

Com sintomas difíceis de detectar e com opções limitadas de tratamento, o câncer pancreático é um dos mais mortais. Sua taxa de sobrevivência é de 9%.

Para dar esperança aos pacientes com esse tipo de doença, pesquisadores da Terry Fox Research Institute, no Canadá, desenvolveram um novo tipo de quimioterapia que ajuda a evitar que a doença volte a aparecer depois que o tumor é removido cirurgicamente.

O estudo descobriu que, após a cirurgia, pessoas com o tipo mais comum de câncer de pâncreas, o adenocarcinoma ductal pancreático não metastático (PDAC), que receberam o novo tratamento quimioterápico viveram mais do que aquelas que foram submetidas à quimioterapia padrão atual.

Apesar do avanço, ainda é preciso desenvolver técnicas para lidar com os efeitos colaterais, que envolvem diarreia, náuseas, vômito e fadiga.

3 – Imunoterapia para câncer de pulmão

Antes aplicada em apenas 25% dos casos de câncer pulmonar, a imunoterapia pode ser estendida para mais pacientes com a mesma doença. Os resultados foram apresentados no encontro anual deste ano da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, em inglês).

De acordo com o estudo, provavelmente será possível estender os benefícios da imunoterapia a pelo menos 75% dos pacientes com metástases do câncer de pulmão.

A imunoterapia é considerada o tratamento do futuro para o câncer por ser eficaz e livre de efeitos colaterais associados a outros procedimentos. Ela consiste na aplicação de drogas que estimulam o sistema imunológico do paciente a atacar o tumor. Sua principal desvantagem é o custo elevado, já que cada aplicação dessas drogas custa entre 15 e 20 mil reais; e várias sessões são necessárias para eliminar a doença.

A pesquisa foi desenvolvida no Sylvester Comprehensive Cancer Center, da Universidade de Miami, nos Estados Unidos.

4 – Menos quimioterapia para câncer de mama

Sete em cada 10 mulheres com câncer de mama do tipo mais comum podem ser poupadas de passar pela quimioterapia após terem sido submetidas a cirurgia, de acordo com um novo estudo chamado TailorX.

Desenvolvida com cientistas canadenses e americanos, a proposta é que, por meio de um teste genético, se consiga identificar as pacientes de menor risco que não precisam do tratamento quimioterápico.

Os pesquisadores acompanharam as pacientes por sete anos e meio e observaram que as mulheres sem a quimioterapia não tiveram um resultado pior do que as outras que fizeram esse tratamento. É uma ótima notícia, já que a quimioterapia geralmente tem efeitos colaterais penosos para o paciente.

 

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