Ciência

Cientistas descobrem salamandra branca que ficou imóvel por sete anos

Animal da espécie Proteus anguinus, conhecido como salamandra de caverna, permaneceu sem se mexer por mais de 2 mil dias

Salamandras: espécie estudada nas cavernas da Bósnia e Herzegovina apresenta novas informações sobre a reprodução dos animais (Cave Research Group/Reprodução)

Salamandras: espécie estudada nas cavernas da Bósnia e Herzegovina apresenta novas informações sobre a reprodução dos animais (Cave Research Group/Reprodução)

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Maria Eduarda Cury

Publicado em 7 de fevereiro de 2020 às 06h04.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2020 às 07h05.

São Paulo - Enquanto estudava uma população de anfíbios na região de cavernas da Bósnia e Herzegovina, um grupo de cientistas descobriu uma salamandra que permaneceu no mesmo lugar por 2 mil e 569 dias, ou seja, sete anos e duas semanas. O animal, que foi encontrado em uma caverna subaquática, é da espécie Proteus anguinus - conhecido popularmente como salamandra de caverna -, que tem a cor branca e costuma viver por centenas de anos.

Liderada pelo arqueólogo Gergely Balázs, a pesquisa foi realizada por cientistas da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria. Sabendo que os animais raramente mudam de local - ação que realizam a cada 12 anos e meio, apenas para acasalarem -, a equipe utilizou a técnica de captura-marca-recaptura, isto é, os pesquisadores mergulharam por oito anos na região para medir e marcar quanto o animal teria andado.

Publicado na revista científica Journal of Zoology, o estudo relata que os cientistas acompanharam 19 salamandras brancas ao longo dos oito anos. No entanto, apenas animais jovens foram analisados, visto que os anfíbios adultos não tinham razão aparente para serem retirados de seus ambientes. A intenção dos pesquisadores foi se aproximar do habitat dos animais para entendê-los melhor: "A maioria dos estudos realizados sobre as espécies até o momento é baseada em estudos de laboratório, resultando em uma grave falta de dados ecológicos de populações naturais estudadas em seu habitat original", disseram os pesquisadores no estudo.

Ainda de acordo com os autores da pesquisa, estudar o movimento dessas criaturas também pode ajudar a rastrear os impactos realizados pelos humanos na vida nas cavernas. “A baixa atividade reprodutiva das espécies, juntamente com a extrema fidelidade relatada no local, torna este predador de comunidades de cavernas aquáticas altamente vulnerável e um bioindicador sensível de atividades humanas que mudam de habitat”, afirmam os cientistas.

Dentre os animais analisados pelos oito anos, o mais ativo do grupo andou cerca de 38,1 metros durante 230 dias. Enquanto isso, os demais anfíbios analisados andavam cerca de 6 metros por ano. Porém, o que chamou a atenção da equipe foi um único animal, que não andou nem um metro durante todo o período que foi estudado.

No artigo, os pesquisadores explicam que os animais não precisam se mover. Como vivem em um ambiente sem luz, em que falta de alimentos e há pouca variação de temperatura, eles necessitam de pouco oxigênio e aparentam resistir à fome por vários anos. Os pesquisadores acreditam, ainda, que a razão para a pouca movimentação seja o fato de que estes animais vivem muito e se reproduzem lentamente.

Caso estejam certos, o fato de as salamandras terem longos ciclos reprodutivos as torna muito vulneráveis a mudanças na região onde vivem. Os pesquisadores dizem esperar que o estudo estimule outros cientistas a analisar como a questão reprodutiva afeta demais espécies. "Esperamos que nosso estudo estimule os pesquisadores a estudar outras populações de P. anguinus, para que possamos ver se a extrema [baixa mobilidade] relatada no presente artigo é um comportamento geral em toda a distribuição geográfica da espécie ou é especial para nossa população de estudo", disseram.

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