Pílulas anticoncepcionais (Philippe Huguen/AFP/AFP)
Maurício Grego
Publicado em 11 de dezembro de 2017 às 11h39.
Última atualização em 11 de dezembro de 2017 às 11h53.
Antigamente, por causa das doses elevadíssimas de hormônios, os contraceptivos orais eram frequentemente ligados ao câncer de mama. Mas com a evolução nos medicamentos, a preocupação abrandou – afinal, o teor dessas substâncias nos anticoncepcionais de hoje é bem menor. Só que pesquisadores acabam de descobrir que mesmo as pílulas modernas estão associadas a um risco extra de sofrer com esse tumor.
O achado, da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, surgiu da análise da incidência de câncer de mama em 1,8 milhão de mulheres entre 15 e 49 anos de idade. Trata-se de nada mais, nada menos do que toda a população feminina do país nórdico nessa faixa etária, com exceção das que já haviam manifestado a doença ou outras condições como o tromboembolismo venoso.
A multidão de dinamarquesas foi acompanhada por pouco mais de uma década, período em que 11 517 tumores nos seios foram detectados. Resultado: a prevalência do problema foi 20% maior nas que já tinham apostado em qualquer tipo de pílula quando comparadas às que nunca recorreram a esse método contraceptivo. Se no primeiro time foram 55 casos a cada 100 mil mulheres, no segundo foram 68 diagnósticos.
A ameaça era mais significativa em quem engolia o anticoncepcional há mais de dez anos e estava acima dos 40. Além dos comprimidos, o dispositivo intrauterino (DIU) com progesterona também foi vinculado a um risco ligeiramente elevado.
Embora o levantamento não firme uma relação de causa e efeito, é possível que a dose extra de hormônios no organismo instigue o desenvolvimento do câncer. Só que não há motivo para pânico.
“O risco absoluto é pequeno e os próprios autores ressaltam isso no texto. Estamos falando de um caso extra a cada 7 690 mulheres que usam o contraceptivo”, comenta a cirurgiã oncologista Fabiana Baroni Makdissi, que dirige o Departamento de Mastologia do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo.
Vale destacar que o trabalho não considerou outros fatores relacionados ao desenvolvimento dos tumores, como falta de atividade física, consumo de álcool e peso. E, quando o assunto é câncer de mama, o problema maior parece ser justamente a união desses financiadores.
Tanto que, antes do trabalho dinamarquês, profissionais o A.C. Camargo realizaram uma investigação de ameaças que favoreceriam essa doença. Aí, viram que outros pontos são bem mais relevantes do que os anticoncepcionais.
“Para ter ideia, o risco atribuível ao contraceptivo hormonal foi de 1,4%, enquanto o do sedentarismo alcançava 4%”, compara a médica. Ou seja, enquanto pouco mais de um a cada cem casos da enfermidade seriam ocasionados pelas pílulas, quatro decorreriam da preguiça.
“É muito melhor levantar da cadeira do que deixar de tomar o anticoncepcional, se ele for necessário”, conclui Fabiana. Até porque uma gravidez indesejada abre as portas para diversos problemas de saúde, tanto na mãe, como no filho.
Segundo os especialistas, é tudo uma questão de calcular riscos e benefícios. “Não há motivos para interromper o uso da medicação, mas ela normalmente já não é indicada a mulheres com câncer ou histórico da doença na família”, explica o mastologista Gabriel de Almeida Silva Júnior, coordenador do serviço da especialidade no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais.
Ou seja, vale conversar com o ginecologista e investigar qual o risco particular de cada uma desenvolver um nódulo maligno, ou mesmo outra encrenca, como o tromboembolismo. E se os benefícios – prevenção de gestações indesejadas, controle da endometriose… – compensam.
Aliás, essa conversa franca já deveria ser feita antes mesmo de a mulher ou menina começar a tomar a pílula. O câncer é só mais um ponto a ser discutido.