Ciência

Cientistas alertam para riscos de 'vida espelho' com potencial devastador

Pesquisadores destacam risco potencial "catastrófico" de bactérias sintéticas que podem escapar de laboratórios e causar danos irreversíveis

Cientistas alertam para os riscos globais associados à criação de micro-organismos sintéticos "espelho". (Thinkstock/Thinkstock)

Cientistas alertam para os riscos globais associados à criação de micro-organismos sintéticos "espelho". (Thinkstock/Thinkstock)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 13 de dezembro de 2024 às 10h01.

Cientistas internacionais emitiram um alerta sobre a ameaça existencial representada por "vida espelho", micro-organismos sintéticos criados como reflexos estruturais de micróbios naturais. Esses organismos poderiam superar as defesas naturais de seres humanos, animais e plantas, causando danos irreversíveis, segundo um grupo de 40 pesquisadores, incluindo dois ganhadores do Prêmio Nobel.

Em um artigo divulgado na revista Science, publicado pelo Financial Times, os pesquisadores argumentam que os avanços na biologia sintética, embora promovam importantes inovações na saúde, também trazem o risco de gerar novos organismos potencialmente mortais, seja por acidente ou intencionalmente.

O perigo da "vida espelho"

A "vida espelho" baseia-se no fenômeno científico da quiralidade, ou "mão única", em que moléculas possuem a mesma composição química, mas são estruturalmente diferentes por serem imagens espelhadas. Micróbios espelho poderiam evadir o sistema imunológico humano e as defesas naturais de outros organismos, causando infecções letais e superando espécies naturais em diversos ecossistemas.

Segundo Jack Szostak, professor da Universidade de Chicago e ganhador do Nobel de Fisiologia ou Medicina, "a liberação de bactérias espelho no ambiente poderia ser pior do que qualquer desafio enfrentado anteriormente, e muito além de nossa capacidade de mitigação".

Michael Kay, bioquímico da Universidade de Utah, acrescenta que esses organismos seriam a "última espécie invasora", com capacidade de superar as defesas naturais de corpos humanos e ecossistemas.

Avanços tecnológicos e riscos globais

Os cientistas enfatizam a necessidade de ação internacional para regulamentar o desenvolvimento dessa tecnologia antes que ela se torne viável.

Com o rápido progresso nas tecnologias de biologia sintética impulsionadas por inteligência artificial, a criação de células vivas espelho deve ser possível em apenas 10 anos, segundo Vaughn Cooper, professor de microbiologia da Universidade de Pittsburgh.

O artigo no Science também aponta que os avanços recentes mostram que bactérias comuns, como a E. coli, podem crescer com fontes de alimentos que não possuem uma especificidade quiral, refutando a ideia de que organismos espelho seriam inviáveis por falta de nutrição adequada.

Medidas regulatórias urgentes

Os autores sugerem a adoção de modelos de regulamentação, como as Diretrizes de Biossegurança de Tianjin, elaboradas em 2021. Essas diretrizes promovem a colaboração internacional para monitorar e limitar tecnologias que poderiam facilitar a criação de organismos sintéticos perigosos.

Apesar das incertezas, os cientistas concordam que a ameaça é grave. "Bactérias espelho poderiam causar uma onda de infecções devastadoras se escapassem de um laboratório", alerta Eörs Szathmáry, professor de biologia evolutiva da Universidade Eötvös, na Hungria.

O avanço da biologia sintética trouxe benefícios inegáveis para a humanidade, mas também apresenta riscos consideráveis. O desenvolvimento de micro-organismos sintéticos "espelho" requer atenção global imediata para evitar um potencial desastre ambiental e biológico que poderia ameaçar todas as formas de vida conhecidas.

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