Ciência

Brasil registra primeiro caso de covid-19 em animal doméstico

Pesquisadores ressaltam que os casos de covid-19 em animais domésticos são raros e que, por isso, não há razões para abandono das espécies

Gato: animal não apresenta sintomas e segue em isolamento domiciliar com seus tutores (Arquivo pessoal/Reprodução)

Gato: animal não apresenta sintomas e segue em isolamento domiciliar com seus tutores (Arquivo pessoal/Reprodução)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 19 de outubro de 2020 às 19h03.

Com quase 27 mil casos de covid-19 confirmados, a capital de Mato Grosso, Cuiabá, registrou o primeiro teste positivo da doença em um animal doméstico no Brasil. O caso é de uma gata de propriedade de uma família diagnosticada com o novo coronavírus. O animal não apresenta sintomas e segue em isolamento domiciliar com seus tutores.

O teste foi realizado na semana passada pela pesquisadora e professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Valéria Dutra, que atua no diagnóstico de pacientes com covid-19 no Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM).

Após passar pelos exames de sorologia e PCR a gata teve a doença confirmada. O animal convive em uma residência com um casal e uma criança já infectados pelo novo coronavírus.

"Ainda não se sabe como funciona a contaminação de animais e a possibilidade de transmissão para outras espécies ou seres humanos. É tudo muito novo e seguimos realizando testes para descobrir. O que temos confirmado é que a gata convivia com a família infectada, não apresenta qualquer sintoma e segue em isolamento com eles", acrescenta Valéria.

Há cerca de dois meses, a veterinária faz a coleta de amostras de cães e gatos de pessoas contaminadas pela covid-19 e tratadas no HUJM. Até o momento, já foram realizados 14 testes, sendo o da gata o primeiro confirmado. A pesquisadora segue acompanhando um segundo caso suspeito, em Várzea Grande, cujo material já foi encaminhado para confirmação.

Com a confirmação, a UFMT passará a fazer parte de um grupo de pesquisas do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que investiga a covid-19 em animais domésticos. Pesquisadores de Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Recife (PB), e São Paulo (SP) participam do projeto. A pesquisa é coordenada pelo professor e pesquisador Alexander Biondo, que elogiou o trabalho executado pela UFMT ao identificar o primeiro caso confirmado da doença no país.

"Isto demonstra que a vigilância de animais domésticos em Cuiabá é muito maior a de outras cidades do País, com um número mais expressivo de casos confirmados da covid-19 em seres humanos. O nosso trabalho agora é descobrir a capacidade de infecção, permanência do vírus no organismo e transmissão dos animais. O que sabemos é que gatos são mais suscetíveis que cães e que há histórico de transmissão para outros felinos, mas não para humanos", explica Alexander.

Os pesquisadores ressaltam que os casos de covid-19 em animais domésticos são raros e que, por isso, não há razões para abandono ou sacrifício das espécies. Eles reforçam ainda que a possibilidade de transmissão da doença pelos animais também não está confirmada e que em geral, os bichos são assintomáticos, assim como as crianças.

"O objetivo da pesquisa é justamente demonstrar a raridade da contaminação e transmissão de animais e a importância dos cuidados que os humanos devem ter com seus bichos quando já foram contaminados pelo novo coronavírus", destaca Alexander.

"O animal não é o vilão nesta história. Se ele fez parte da cadeia de transmissão por conviver com humanos contaminados, deve ser ainda mais protegido e cuidado", aponta a veterinária Valéria Dutra. A família proprietária da gata diagnosticada com covid-19 em Cuiabá informou por meio da médica, que não deseja se manifestar publicamente sobre o caso.

Os animais devem fazer distanciamento social?

Em um comunicado oficial, a Federal And Drug Administration (FDA), agência americana análoga à Anvisa, recomenda que os animais não interajam com humanos e outros animais fora de casa durante o período da quarentena.

O artigo diz ainda que donos de animais de estimação devem evitar passear com eles em parques e outros locais que possam ter um grande número de pessoas.

No Brasil, o Ministério da Saúde já recomendou, em uma fala sobre o coronavírus, que as pessoas sempre lavem as mãos após a interação com animais.

Quais animais correm mais risco?

Muito alto: humano, chimpanzé, gorila-ocidental-das-terras-baixas, bonobo

Alto: cariacu, hamster chinês, tamanduá-bandeira, golfinho-roaz

Médio: tigre siberiano, ovelha, gato, gado

Baixo: porco, cavalo, cachorro, elefante africano

Muito baixo: leão-marinho-da-califórnia, rato comum, corvo americano, jacaré norte-americano

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