Pandemia: no Brasil, 201 mulheres morreram durante os últimos meses da gestação ou no pós-parto após diagnóstico da covid-19 (./Getty Images)
Janaína Ribeiro
Publicado em 30 de julho de 2020 às 16h02.
Última atualização em 30 de julho de 2020 às 16h50.
A pandemia pelo novo coronavírus já vitimou mais de 90 mil pessoas só no Brasil, segundo último levantamento do consórcio de imprensa. Cada vez mais novos estudos são publicados, seja para levantar o perfil das pessoas mais vulneráveis ao vírus, como para a descoberta de um medicamento ou vacina.
Porém, um dado silencioso ecoa no Brasil. O país concentra 77% das mortes maternas pela doença registradas no mundo segundo um estudo publicado na revista médica International Journal of Gynecology and Obstetrics . Apesar deste ser um levantamento parcial, pesquisadores estimam um salto sem precedentes na taxa de mortalidade materna brasileira em 2020.
Segundo o Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), existe ao menos 1.860 casos da doença notificados nesse grupo de mulheres no país até o último dia 14 de julho. 201 mulheres morreram durante os últimos meses da gestação ou no pós-parto após diagnóstico da covid-19. Agora, estes dados estão sendo utilizados para um estudo dos casos por um grupo de obstetras e enfermeiras de 12 universidades e instituições públicas, entre elas, Fiocruz, USP, Unicamp e Unesp, que acompanha a mortalidade materna durante a pandemia, informou a Folha de S.Paulo.
No começo do mês de julho, a International Journal of Gynecology and Obstetrics analisou as 124 mortes registradas à época de grávidas e puérperas (mulheres no pós-parto) no Brasil. O país lidera o número de óbitos deste grupo. Os EUA registraram até o dia 21 deste mês, 35 óbitos de gestantes e puérperas.
Entre as possíveis causas levantadas na pesquisa, pelo menos 22,6% das mulheres que morreram no Brasil não tiveram acesso a um leito de UTI, e 36% não chegaram nem a ser entubadas. O dado acende um alerta para a má qualidade do atendimento e para a falha na assistência à mulher grávida. A falta de recursos para lidar com situações de emergência e dificuldade no acesso aos serviços de saúde durante a pandemia são hipóteses que explicam o aumento das mortes. Os números levantados também apontam uma possível sub-notificação dos casos.
Em uma outra análise, o risco de mulheres negras morrerem por covid é quase duas vezes maior do que por mulheres brancas (17% contra 8,9%). Este cenário aponta além das falhas de acesso e assistência no sistema de saúde, problemas socioeconômicos enfrentados por esse grupo.
Agora, estão sendo levantados dados sobre os locais de óbitos, a distância percorrida para receber atendimento médico e os perfis dos hospitais que receberam as grávidas que vieram a óbito por coronavírus. Segundo o Centro de Controle de Doenças americano (CDC), há maior risco de complicações pela covid-19 em grávidas, e consequentemente um maior número de internações e uso de ventilação mecânica.
Por ano, o Brasil registra cerca de 60 mortes de mulheres grávidas ou no pós-parto por 100 mil nascimentos de bebês vivos. Uma taxa considerada bem alta se comparado com outros países. Portugal tem 8 mortes a cada 100 mil nascimentos de bebês vivos. Argentina tem 39 mortes a cada 100 mil bebês nascidos vivos.