"Bloquear" células cancerígenas auxilia no tratamento do câncer de pele
Cientistas descobrem uma nova abordagem para tentar evitar a progressão do melanoma, um dos mais perigosos tipos de câncer de pele
Maria Eduarda Cury
Publicado em 16 de novembro de 2019 às 09h00.
Última atualização em 16 de novembro de 2019 às 10h00.
São Paulo - O melanoma é um dos tipos de câncer de pele que, para algumas pessoas, pode passar despercebido - especialmente por sua aparência ser, de início, inofensiva como uma pinta no ombro. Com isso, a demora no tratamento reduz as chances de cura.
Para tentar melhorar as abordagens, o tratamento e evitar a progressão da doença, investigadores do Instituto Babraham, da empresa biofarmacêutica Astrazeneca e do Cancer Research UK Cambridge Centre, na Inglaterra , desenvolveram uma abordagem que consegue destruir as células do melanoma e fazer com que o corpo resista menos ao tratamento.
Publicado na revista Nature Communications, o estudo apresenta uma abordagem paralela aos tratamentos que já existem, e os responsáveis pela nova abordagem acreditam que ela também possa ajudar a combater os tipos de câncer que já estão em fase mais avançada, mesmo após terem se tornado resistentes aos tratamentos usuais. Em todo o Reino Unido , a taxa de sobrevivência do melanoma aumentou cerca de 55% nos últimos anos - por ano, 16 mil pessoas são diagnosticadas com a doença.
Os pesquisadores analisaram que a proteína MCL1, que garante a sobrevivência das células cancerígenas, pode ser bloqueada pelo composto experimental chamado AZD5991, em combinação com outros medicamentos já conhecidos, como o inibidor Vemurafenibe. A ação foi testada em laboratório e o composto conseguiu desativar o sistema de sobrevivência e as eliminou, tendo assim um efeito duplo sobre a progressão do câncer. Os medicamentos também funcionaram nas doenças mais avançadas, onde o tamanho dos tumores foi significativamente reduzido - quase que por inteiro.
Matthew Sale, um dos principais investigadores e membro do Instituto Babraham, disse em comentário no estudo que a pesquisa demonstra as vulnerabilidades das células e representa um avanço na medicina da área: "O estudo demonstrou que as células do melanoma são viciadas na proteína MCL1 para a sobrevivência, mas apenas quando são tratadas com as drogas do melanoma existentes", afirmou.
Duncan Jodrell, do Cancer Research UK Cambridge Centre, um dos participantes do estudo, destacou que o objetivo é procurar reduzir o número de casos ao redor do mundo e descobrir formas mais eficazes de tratar a doença: "Este trabalho destaca a importância de realizar uma investigação colaborativa como esta, uma vez que pode conduzir a novas formas de combater o cancro, em particular os que são difíceis de tratar. O nosso trabalho também mostra o valor dos cientistas em laboratórios de ciências básicas que trabalham em estreita colaboração com especialistas em desenvolvimento de medicamentos e cientistas da indústria, o que é fundamental se quisermos encontrar melhores tratamentos para as pessoas afectadas pelo câncer", disse Jodrell em comentário sobre a pesquisa.