Ciência

Aquecimento transforma solo florestal em "bomba" climática

Aumento da temperatura faz solos liberarem CO2 na atmosfera, processo que pode se tornar incontrolável, alerta o estudo mais longo já feito sobre o assunto

 (GYRO PHOTOGRAPHY/amanaimagesRF/Thinkstock)

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Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 16 de outubro de 2017 às 16h03.

Última atualização em 16 de outubro de 2017 às 16h04.

São Paulo - Ondas de calor recordes, secas severas, tempestades e furacões mais violentos, aumento do nível do mar...Os efeitos das mudanças climáticas, agravados em grande medida pelas atividades humanas, são velhos conhecidos dos cientistas. O que ainda é um mistério para os especialistas no fenômeno é entender como o aumento das temperaturas globais afeta o próprio funcionamento dos ecossistemas que dão suporte à vida.

Um estudo inédito para descobrir como as temperaturas mais altas afetam os solos das florestas traz pistas preocupantes. Realizado ao longo de 26 anos, o experimento revelou que o aquecimento estimula períodos de abundante liberação de carbono do solo para a atmosfera, alternando com períodos de nenhuma perda detectável de carbono do solo.

O que isso significa? Que em um mundo em aquecimento, os solos das florestas se tornarão vilões climáticos, aumentando a acumulação de dióxido de carbono na atmosfera e acelerando o aquecimento global, em um processo de retroalimentação que os cientistas chamam de "feedback positivo" (quando um efeito X intensifica um efeito Y e vice-versa). Os resultados do estudo foram publicados na revista Science.

A equipe de cientistas começou este experimento pioneiro em 1991 na área de pesquisa ecológica da Floresta de Harvard, em Massachusetts. Eles enterraram cabos elétricos em um conjunto de terrenos parcelados e aqueciam o solo 5°C acima da temperatura ambiente nas parcelas de controle.

Ao longo dos 26 anos de experiência (que ainda continua), as parcelas de solo aquecidas perderam 17% do carbono que havia sido armazenado em matéria orgânica nos 60 primeiros centímetros de solo. Os momentos de alta emissão coincidiram com mudanças contínuas na comunidade microbiana do solo, responsáveis por degradar a matéria orgânica.

Segundo os cientistas, isso demonstra a importância de estudos ecológicos de longa duração para a compreensão do papel das comunidades microbianas na dinâmica dos ecossistemas e dos desafios colocados pelas mudanças climáticas.

Solo de floresta parcelado para estudo sobre efeitos do aquecimento na terra.

Solo de floresta parcelado para estudo sobre efeitos do aquecimento na terra. (Audrey Barker-Plotkin/Marine Biological Laboratory/Divulgação)

"Para colocar isso em contexto, a cada ano, liberamos cerca de 10 bilhões de toneladas métricas de carbono para a atmosfera principalmente por combustíveis fósseis. Isso é o que está causando o aumento da concentração atmosférica de dióxido de carbono e o aquecimento global. Os solos do mundo contêm cerca de 3,5 trilhões de toneladas métricas de carbono", compara Jerry Melillo, cientista líder da pesquisa no Marine Biological Laboratory (MBL), instituto internacional de pesquisa afiliado à Universidade de Chicago, nos EUA.

Para o especialista, não há dúvida de que o futuro será mais quente. Quão mais quente é o problema. "Se uma quantidade significativa desse carbono do solo for adicionada à atmosfera devido à atividade microbiana em solos mais quentes, isso acelerará o processo de aquecimento global. E uma vez que este feedback positivo começa, não há nenhuma maneira de desligá-lo. Não há nenhum interruptor", alerta.

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