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Aquecimento global pode "ressuscitar" doenças antigas

Bactérias e vírus congelados podem voltar a circular com derretimento de camadas permanentes de gelo. Mosquitos terão ambientes favoráveis para reprodução

Groenlândia: aquecimento global derrete camada permanente de gelo (Joe Raedle/Bloomberg)

Victor Caputo

Publicado em 7 de maio de 2017 às 08h00.

Última atualização em 7 de maio de 2017 às 08h00.

São Paulo – As mudanças climáticas trarão problemas com os quais a humanidade ainda mal sabe que terá que enfrentar. Um exemplo disso é a possibilidade da volta de doenças preservadas sob camadas permanentes de gelo.

A cobertura do manto de gelo do Ártico tem batido recordes—negativos, é claro. No dia 7 de março deste ano, foi registrada a menor cobertura em quatro décadas para o inverno. Eram 14,42 milhões de quilômetros quadrados—não se deixe enganar pelo número aparentemente alto.

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Mas por que esse degelo é tão crucial para o retorno de doenças?

“Gelo permanente é muito bom em preservar micróbios e vírus porque é frio, não tem oxigênios e é escuro”, diz à BBC o biólogo evolucionista Universidade Aix-Marseille Jean-Michel Claverie.

Um caso emblemático deste novo desafio foi um surto recente de antraz na Rússia. Na região da Sibéria, a infecção se espalhou e afetou dezenas de moradores.

A teoria mais aceita é que uma rena infectada morreu há décadas (cerca de 75 anos) e foi congelada com a bactéria Bacillus anthracis, causadora da doença , na região.

Uma onda de calor no verão russo do ano passado teria revivido essa bactéria, que resultou na morte de um garoto de 12 anos por antraz. A região chegou a registrar temperaturas de até 35°C, o que explicaria o retorno da bactéria congelada.

A preocupação com o retorno de doenças há muito desaparecidas não é descabida. Um estudo realizado por pesquisadores russos aborda o impacto do derretimento da camada permanente de gelo no surto de doenças antigas.

“Como consequência do derretimento da camada de gelo, vetores de infecções fatais dos séculos XVIII e XIX podem voltar, especialmente perto de cemitérios onde as vítimas eram enterradas”, diz o estudo. O problema é que alguns locais como esses podem ser desconhecidos. “Muitos locais não existem mais ou foram apagados de bases sanitárias locais.”

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Outro impacto negativo com o aumento da temperatura média da Terra seria o crescimento consequente de áreas propícias para a reprodução de mosquitos vetores de doenças.

Talvez você tenha logo pensado no Aedes aegypti, vetor de doenças como dengue , zika e febre amarela. Um estudo de 2014 aponta que áreas que hoje não são apropriadas para o mosquito devem passar a ser habitat dele.

O uso de modelos mostrou que áreas tropicais e subtropicais devem continuar sendo um bom lar para o A. aegypti. “Áreas desfavoráveis hoje, como Austrália continental, Península Arábica, sul do Irã e algumas partes da América do Norte podem ficar climaticamente favoráveis para essa espécie de mosquito”, diz o estudo.

Com isso, as áreas de risco de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti devem aumentar.

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