A nova origem para surgimento de água na Terra, segundo estudo
Descoberta explicaria as condições estéreis encontradas em Mercúrio, Vênus e Marte, mas não nosso planeta azul
AFP
Publicado em 27 de agosto de 2020 às 20h00.
A água cobre 70% da superfície da Terra , mas como este elemento crucial para a vida como a conhecemos surgiu é tema de um longo debate científico.
Uma equipe de cientistas franceses avançou mais um passo na solução deste quebra-cabeça nesta quinta-feira (27), ao reportar na revista científica Science ter identificado quais rochas espaciais podem ter sido responsáveis por seu aparecimento.
A cosmoquímica Laurette Piani, que conduziu o estudo, disse à AFP que, ao contrário das teorias dominantes, a água da Terra já poderia estar contida nas rochas que formaram o planeta.
Segundo modelos remotos de como o Sistema Solar se formou, os grandes discos de gás e poeira que giravam em torno do Sol e, eventualmente, formaram os planetas internos eram quentes demais para formar gelo.
Isto explicaria as condições estéreis encontradas em Mercúrio, Vênus e Marte, mas não nosso planeta azul, que tem vastos oceanos, uma atmosfera úmida e uma geologia bem hidratada.
A ideia mais comum é que a água foi trazida posteriormente por objetos extraterrestres e os principais suspeitos são os meteoritos ricos em água, conhecidos como condritos carbonáceos.
Mas o problema era que sua composição química não combina muito com as rochas do nosso planeta.
Elas também se formaram nos confins do Sistema Solar, tornando-se menos propensas a ter bombardeado a jovem Terra.
Outros tipos de meteorito, denominados condritos enstatitas (ECs), são muito mais próximos de uma paridade química, indicando que teriam sido os formadores da Terra e de outros planetas internos do Sistema Solar.
No entanto, devido a que estas rochas se formaram perto do Sol, presumia-se que fossem muito secas para serem responsáveis pelos ricos reservatórios de água da Terra.
Para testar se isto de fato é verdade, Piani e seus colegas da Universidade de Lorraine usaram uma técnica denominada espectrômetro de massa para medir o hidrogênio contido em 13 condritos enstatitas.
Eles descobriram que as rochas continham hidrogênio suficiente para fornecer à Terra pelo menos três vezes a massa de água de seus oceanos.
Também mediram os dois tipos de hidrogênio, conhecidos como isótopos, porque a proporção relativa dos mesmos é muito diferente entre um e outro objeto do Sistema Solar.
"Nós descobrimos que a composição isotópica do hidrogênio dos condritos enstatitas é similar à da água armazenada no manto terrestre", disse Piani, que comparou o achado a uma paridade de DNA.
Ela acrescentou que o estudo não exclui que tenha ocorrido uma adição posterior de água de outras fontes, como cometas, mas indica que os condritos ensatitas contribuíram significativamente para que que se formasse a reserva de água na Terra na época.
O trabalho "traz um elemento crucial e elegante para este quebra-cabeça", escreveu Anne Peslier, cientista planetária da Nasa, em um editorial que acompanhou o estudo.