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Voluntários aposentados desafiam o medo da covid-19 nos Jogos de Tóquio

Dos 71.000 voluntários dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, quase 15.000 têm mais de 60 anos. Segundo a organização, 139 têm mais de 80 anos e, entre eles, três superam os 90

 (Ricardo Moraes/Reuters)

(Ricardo Moraes/Reuters)

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AFP

Publicado em 3 de agosto de 2021 às 08h30.

Para garantir o bom desenvolvimento de seus Jogos Olímpicos, o Japão fez um apelo à sua população e vários aposentados, alguns de mais de 90 anos, desafiaram a covid-19 e decidiram trabalhar como voluntários.

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Takashi Kato mareja os olhos relembrando os Jogos de 1964, quando era uma criança e sua mãe chorava ao assistir a cerimônia de abertura daquele evento olímpico que também foi sediado na capital japonesa.

Seus pais viveram a Segunda Guerra Mundial e a realização dos Jogos apenas duas décadas depois representava para sua mãe algo muito além do esporte.

"Desculpe, não consigo evitar, me emociono quando falo disso. Foi a primeira vez que a vi chorar", explica Kato.

Esta lembrança o incentivou a se inscrever, 57 anos depois, como voluntário para os Jogos de Tóquio-2020.

Aos 62 anos, este professor de matemática aposentado é quase um jovem ao lado de outros voluntários que estão ajudando durante a quinzena olímpica.

'Até o fim'

Dos 71.000 voluntários dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, quase 15.000 têm mais de 60 anos. Segundo a organização, 139 têm mais de 80 anos e, entre eles, três superam os 90.

A presença de tantos 'seniors' chama a atenção, porque o exército de voluntários que desembarca nos Jogos a cada quatro anos é geralmente composto por jovens.

E não só os voluntários. Nas diferentes sedes olímpicas, a mão de obra remunerada que trabalha em setores como a segurança, restaurantes ou transportes também tem uma média de idade maior que a comum.

Esta situação reflete a realidade demográfica japonesa: a população do país é a mais envelhecida do mundo, com cerca de 28% com mais de 65 anos, segundo os dados do governo.

Takashi Kato se questionou se trabalhar nos Jogos não iria ser perigoso devido aos riscos de contágio da covid-19, doença à qual os idosos são mais vulneráveis.

"Decidi que tinha que ir até o fim do meu desejo. Tinha a determinação de trabalhar como voluntário", explica.

"Se fosse possível, gostaria ser voluntário também nos próximos Jogos, em Paris, mas seria mais um obstáculo do que outra coisa, porque não falo inglês nem francês", brinca.

'Último serviço da minha vida'

Como Kato, Toshio Hongoh trabalha no imponente centro de mídia, onde milhares de jornalistas de todo o mundo se reúnem todos os dias.

Apesar de seus 73 anos, ainda está em forma, praticando uma série de exercícios abdominais que muitos menores de 50 não conseguiram realizar.

Seu estado de saúde é uma herança de sua juventude dedicada à ginástica. Apesar de nunca ter representado seu país, treinava no mesmo centro esportivo que o campeão olímpico dos Jogos de Munique em 1972, Teruichi Okamura.

Desde então, Hongoh conserva a forma. Competiu em triatlos até os 60 anos e levanta pesos todos os dias.

"O último serviço da minha vida", relatou este ex-responsável de recursos humanos sobre o que significa ser voluntário nos Jogos.

"Sinto que ainda faço parte da sociedade e que posso fornecer algo ao coletivo. Recebi tanto dos outros... tento devolver o que recebi, ao comitê (olímpico) e ao Japão".

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