Esqueça velhos clichês e repense por que essa uva antigamente tinha um apelo tão grande (Marco Simonini/REDA&CO/UIG/Getty Images)
Marília Almeida
Publicado em 13 de outubro de 2018 às 07h00.
Última atualização em 13 de outubro de 2018 às 07h00.
Esta é uma triste verdade: a maioria dos vinhos pinot grigio é tão aguada, insossa e sem graça que é desprezada pelos esnobes do vinho e não entra no cardápio dos sommeliers dos melhores restaurantes. Pedir "só uma taça de pinot grigio" praticamente se tornou uma confissão de que você não presta atenção ao que consome.
Mas é claro que você presta atenção.
Portanto, esqueça todos esses velhos clichês e repense por que essa uva antigamente tinha um apelo tão grande. Exemplos deliciosos e ideais para acompanhar refeições podem ser comprados por US$ 25 ou menos nos EUA e não são difíceis de encontrar nesse país.
Então, o que você precisa saber? Em primeiro lugar, a região norte e fria da Itália produz uma variedade de vinhos brancos leves, cítricos e refrescantes que são orgulhosamente rotulados como pinot grigio. Eles são ideais como aperitivos e combinam com todos os tipos de alimentos.
Na Alsácia, no nordeste da França, a mesma uva é chamada pinot gris, e os sabores são ligeiramente diferentes. Os vinhos têm perfume de madressilva, são potentes e picantes, têm uma textura exuberante e, às vezes, são doces. (Aliás, "grigio" e "gris" significam "cinza", pelo tom cinza rosado da casca da uva quando madura.)
Produtores de vinho no Novo Mundo - Oregon, Nova Zelândia, Austrália, Califórnia - tendem a rotular seus espécimes com o nome que se encaixa no estilo e no perfil de sabor que eles buscam, mas muitas vezes esses estilos ficam entre os paradigmas italiano e alsaciano.
Seria possível dizer que a uva sofre uma crise de identidade.
O pinot grigio italiano entrou em cena nos EUA no início dos anos 1980, depois que um jovem importador levou a marca Santa Margherita ao país e transformou-a em um dos vinhos mais conhecidos lá. Essa popularidade acabou atraindo uma onda de vinhos italianos vagabundos, produzidos em regiões de baixa altitude, que assustou os consumidores mais exigentes. Depois, alguns dos fãs passaram a preferir prosecco e vinho rosé.
No ano passado, na tentativa de aumentar a qualidade, a Itália instituiu uma nova classificação regional rigorosamente controlada, Pinot Grigio delle Venezie, cujos vinhos são certificados por uma comissão independente. Esta ampla área inclui regiões como Alto Adige e Friuli (noroeste e nordeste de Veneza, respectivamente), onde alguns dos melhores vinhos vêm de vinhas nas encostas.
O pinot gris da Alsácia nunca entrou tanto na moda quanto o pinot grigio, mas tem uma excelente relação qualidade-preço. Na verdade, todos os vinhos da região foram subestimados durante anos. O fato de que, nos anos 1990, alguns produtores tenham começado a fazer vinhos mais suculentos, mais doces e quase melosos que não combinavam com comidas também não ajudou. Alguns resolveram esse problema colocando uma escala de seco a doce no rótulo para que o consumidor saiba o que esperar. Para outros, os vinhos menos caros sempre foram secos.
A maior novidade é que as plantações da uva estão crescendo rapidamente. Ela governa a paisagem do vinho branco em Oregon e é muito menos cara que o chardonnay (e muito melhor com pad thai). É acessível porque as uvas são fáceis de cultivar e são colhidas cedo, por isso os vinhos ficam prontos para vender antes e não costumam ser envelhecidos em barris de carvalho novos e caros. Na Austrália, os produtores experimentais começaram a plantar a uva em regiões mais frias e a experimentar estilos únicos.
E em uma visita à Nova Zelândia no início deste ano, talvez eu não devesse ter ficado surpreso ao descobrir uma febre de pinot gris lá também. De 2002 a 2016, as plantações explodiram, de 232 hectares para 2.440 hectares.
Tenha certeza de que mais exemplos de alta qualidade vão chegar às prateleiras.