Vinho chileno passa por revolução e perde fama de “sem graça”
Desde meados da década de 2000, o país passa por um sério processo de experimentação, da uva à taça
Guilherme Dearo
Publicado em 4 de outubro de 2019 às 10h08.
Responda rápido: qual é sua opinião sobre os vinhos chilenos? Se você acha que todos são cabernets sem graça servidos em bares e sauvignon blancs baratos que não surpreendem o paladar, está errado.
Desde meados da década de 2000, o país passa por um sério processo de experimentação, da uva à taça. A qualidade e diversidade dos melhores vinhos do país nunca foi tão boa.
Não foi o que encontrei algumas décadas atrás, em minha primeira visita ao país. Os poucos “ícones” que provei, como Sena, Clos Apalta, Almaviva e os melhores vinhos Montes, eram comercializados internacionalmente como de ponta e surpreendentes. Mas descobri que eram na maioria cabernets superestimados criados para mostrar que o Chile podia produzir vinhos renomados.
Não fiquei impressionado com seus sabores de carvalho e vinificação pesada. A maioria não tinha brilho, estilo, energia e complexidade e não valiam os altos preços pedidos.
E, infelizmente, quase todos os vinhos do país vinham de vinícolas avessas ao risco e com vinhedos no centro do país. Estavam produzindo tonéis e tonéis de vinho barato.
Tudo isso mudou.
O estilo de muitos vinhos icônicos começou a ser transformado na última década, em meio a críticas de especialistas e consumidores de vinhos, diz Max Morales, da empresa de marketing de vinhos Andes Wines. Eduardo Chadwick, proprietário da Viña Errazuriz, é um dos líderes dessa transformação. Seus cinco principais vinhos, ou “ícones”, agora brilham com frutas intensas do Novo Mundo, além de sutileza, elegância, frescura e requinte, rivalizando com grandes nomes de Napa e Bordeaux. Nos últimos dois anos, até diversificou para chardonnay e pinot noir de alta qualidade.
A imagem de varejo dos vinhos do país, no entanto, ainda não reflete essa emocionante realidade.
Alguns dos melhores ícones antigos
Don Melchor Puente Alto 2016 (US$ 100)
O melhor tinto da Concha y Toro foi o primeiro ícone na indústria chilena, e esta safra é o 30º aniversário de sua estreia. Luxuoso e concentrado, com camadas aveludadas de sabores minerais e frutas vermelhas frescas, este blend com cabernet polido tem um sabor final que permanece por mais de um minuto.
2016 Vina Almaviva Puente Alto (US$ 145)
Este blend com cabernet estreou com a safra de 1996, mas ganhou destaque nas últimas safras. Rico e apimentado, com taninos suaves e sedosos, é mais maduro que o Bordeaux e mais equilibrado e elegante do que muitos cabernets de Napa.
Novos ícones
2014 Garage Wine Co. Carignan Truquilemu Vineyard (US$ 37)
O expatriado canadense Derek Mossman Knapp está por trás dessa vinícola revolucionária. Ele foi um dos primeiros a ver o potencial de mais de 100 anos de vinhedos de variedades como a uva carignan. Este, de um canto frio de Maule, tem aromas florais e de ervas.
2017 Pedro Parra y Familia Wines Monk Cru (US$ 45)
Pedro Parra é um famoso consultor sobre o solo, com clientes em todo o mundo. Esta é a primeira safra de seu novo selo, e ele nomeou os melhores vinhos, feitos com a antiga uva cinsault, para seus músicos de jazz favoritos - neste caso, Thelonius Monk. Repleto de mineralidade, além de aromas de ervas e especiarias, este é um ícone de um vinho em desenvolvimento.