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Veneza: 'Tahrir 2011', a revolução vista pelos protagonistas

Documentário leva pela primeira vez para as telas a Primavera Árabe; pessoas que participaram da revolta contra Hosni Mubarak contam suas experiências

Praça Tahrir no Egito: símbolo dos protestos dá nome ao filme (Mohamed Hossam/AFP)

Praça Tahrir no Egito: símbolo dos protestos dá nome ao filme (Mohamed Hossam/AFP)

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Da Redação

Publicado em 29 de agosto de 2012 às 20h15.

Veneza - "Tahrir 2011: The Good, the Bad and the Politician", primeiro filme de jovens cineastas egípcios, sobre a revolução que mudou seu destino, foi apresentado nesta terça-feira em pré-estreia na Mostra de Veneza, um acontecimento elogiado pela crítica.

Com 01H30 de duração, o filme, dividido em três partes, realizado por Amr Salama, Tamer Ezzat e Ayten Amin, ativos da "geração Facebook", pretendeu "destacar-se de ideologias", segundo os autores.

Ao mesmo tempo documentário de uma cultura milenar, passa o crivo no movimento civil vivido e que revolucionou o país em 18 dias históricos, de 25 de janeiro a 11 de fevereiro de 2011, quando o presidente Hosni Mubarak afastou-se.

"Retratamos, em clima de urgência, o que vivemos e o que levou as pessoas a se redescobrirem, e a se comprometerem com a revolução. Esses 18 dias deram lugar a uma nova consciência, a um novo ponto de partida para o Egito", declarou Tamer Ezzat à AFP.

"The Good" (o bom) dá a palavra a vários personagens reais: entre eles, uma jovem mulher, Nazli, testemunha da morte de um manifestante; e Osama, membro da Irmandade Muçulmana. Seguem Nagham, um médico que cuidou das pessoas na praça Tahrir, transformada em enorme acampamento, sede do movimento civil. Inclui, também, a experiência de Ahmed Hayman, um fotógrafo.

"Cristãos, muçulmanos...todos se uniram, além dequalquer consideração ideológica ou religiosa, todos disseram não" a 30 anos "de corrupção e repressão", explicou Tamer.

"Uma imagem, em particular, ficará muito tempo na minha cabeça, a de um homem com um cartaz: 'lamento, Egito, acordei muito tarde', para dizer o quanto teria desejado que isso acontecesse 15 anos antes", contou Amr.

Na segunda parte do filme, "The Bad" (o mau), o alvo é a polícia egípcia. Agentes da segurança, encarregados de esmagar a revolta, também foram ouvidos. Um trabalho "difícil", relatou Ayten Amin que ficou com esta versão do episódio.

"Entrei em contato com eles duas semanas após osacontecimentos, num momento em que eram atacados de todos os lados. Muitos acabaram desistindo de falar", explicou a jovem.

A terceira e última parte, contemporânea e histórica, passa em revista políticos e dirigentes egípcios de alto escalão que estiveram ao lado do "ditador".

Tamer contou que "recorreu a inúmeros documentos e depoimentos gravados da população civil, feitos pelos próprios egípcios e pelos meios de comunicação que se instalaram na praça" - um "privilégio", mas também "um pesadelo para a democracia".

"Foi preciso verificar tudo e escolher, como se faz na edição de um filme, num momento em que cada dia trazia acontecimentos novos", acrescentou.

O humor também está presente em "Tahrir 2011". Aparece numa pequena sátira em animação, dando a receita de "como se tornar ditador em dez dias", um retrato ácido de Hosni Mubarak.

Produção franco-egpcia, com parceira kuaitiana e alemã (WDR), o filme também será apresentado no Festival de Toronto, inaugurado na quinta-feira, numa seção dedicada aos documentários.

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