'Tangos Cultos': um livro de raridades do gênero musical
Tangos são cultos não por serem mais eruditos ou mais artísticos que os tangos populares, mas por terem sido criados por reconhecidos compositores argentinos
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2012 às 19h40.
Buenos Aires - Assinados por reconhecidos compositores argentinos, os ''tangos cultos'' aparecem como uma verdadeira raridade dentro do gênero musical mais representativo de Buenos Aires, composições cujo valor acaba de ser resgatado em um livro editado na Argentina .
Estes tangos são cultos não por serem mais eruditos ou mais artísticos que os tangos populares, mas por terem sido criados por reconhecidos compositores argentinos de ''música erudita'', como Juan José Castro (1895-1968), Maurício Kagel (1931-2008), Gustavo Beytelmann (1945) e Astor Piazzolla (1921-1992).
''Estes tangos são raros porque não fazem parte do repertório do tango e nem da prática dos ''tangueros''. Geralmente, eles não são dançados, nem cantados e nem tocados com os instrumentos usuais do tango - o bandoneón e a típica orquestra, por exemplo -'', disse à Agência Efe Esteban Buch, compilador de ''Tangos Cultos'', editado pelo selo Gourmet Musical, apontando que estes temas também não são desenvolvidos em seus textos.
Definitivamente, pouca gente seria capaz de identificar estas composições como um ''tango'', um gênero que voltou a entrar em evidência este mês com a nova edição do Festival Internacional de Tango de Buenos Aires.
No entanto, Buch considera que incluir estas composições dentro do ''panorama do tango em geral é um fato plenamente justificável, mas também é preciso levar em consideração uma ideia mais ampla da definição do gênero''.
O livro recupera, entre outros, os tangos para piano de Juan José Castro; o ''Tempo di Tango'', da homenagem ao próprio Castro incluída nos ''Preludios Americanos'' (de Alberto Ginastera); e o ''Tango Alemán'' de Kagel, que combina um trio de violino, bandoneón e piano, além de um cantor que entoa um idioma incompreensível.
Também estão presentes cinco peças para violão de Piazzolla, o tango utilizado como material eletroacústico por Francisco Kröpfl, o ''tango residual'' em composições de Pablo Ortiz para violoncelo e piano, e a obra de Gustavo Beytelmann, um diálogo entre tango e a vanguarda histórica.
Além das obras citadas, o livro também apresenta uma grande ''pérola'', a peça em forma de tango opus 11, também conhecida como ''Miserere'', de Johann Sebastian Mastropiero, o famoso compositor imaginário do grupo cômico musical Les Luthiers.
O cruzamento entre o ''erudito'' e o ''popular'' sobrevoa estas obras, um território difuso onde os puristas - sejam ''tangueros'', sejam compositores eruditos - se sentem incômodos.
Buch assinala que durante muito tempo ''o interesse dos compositores eruditos pelo tango se baseava na ideia não só de que os gêneros eram diferentes ao ponto de constituir dois universos separados, mas também por uma relação de hierarquia, onde a música ''séria'' acabava levando dignidade de um produto artístico a esses materiais ''populares''''.
''No entanto, essa atitude foi desaparecendo nas últimas décadas, desde os anos 1970, por causa da mistura das práticas musicais e da difusão de uma ideia mais pluralista da cultura'', sustenta o especialista em música.
Graças a esta evolução, segundo Buch, é improvável que atualmente um compositor ''erudito'' diga seriamente que sua música tem um valor superior à música popular, ''além de que deve ter compositores que não gostam de tango ou não se interessam pelo gênero como um elemento de inspiração para sua obra''.
Por outro lado, os músicos de tango ''popular'' praticamente não têm conhecimento deste repertório ''culto''.
Mas, de acordo com Buch, estes ''tangos cultos'' são parte integrante da diversidade do gênero e ''acabam lhe acrescentando algo muito interessante, já que quando a prática da música culta se aproxima da ''música contemporânea gera um jogo com convenções genéricas em geral''.
''Por isso acho que uma obra como o ''Tango Alemán'', de Kagel, constitui uma representação do gênero, que apresenta um olhar lúdico e criativo a respeito de uma ideia do tango enraizada em espécies de clichês, que, por sinal, causou muito dano ao próprio tango'', concluiu Buch.
Buenos Aires - Assinados por reconhecidos compositores argentinos, os ''tangos cultos'' aparecem como uma verdadeira raridade dentro do gênero musical mais representativo de Buenos Aires, composições cujo valor acaba de ser resgatado em um livro editado na Argentina .
Estes tangos são cultos não por serem mais eruditos ou mais artísticos que os tangos populares, mas por terem sido criados por reconhecidos compositores argentinos de ''música erudita'', como Juan José Castro (1895-1968), Maurício Kagel (1931-2008), Gustavo Beytelmann (1945) e Astor Piazzolla (1921-1992).
''Estes tangos são raros porque não fazem parte do repertório do tango e nem da prática dos ''tangueros''. Geralmente, eles não são dançados, nem cantados e nem tocados com os instrumentos usuais do tango - o bandoneón e a típica orquestra, por exemplo -'', disse à Agência Efe Esteban Buch, compilador de ''Tangos Cultos'', editado pelo selo Gourmet Musical, apontando que estes temas também não são desenvolvidos em seus textos.
Definitivamente, pouca gente seria capaz de identificar estas composições como um ''tango'', um gênero que voltou a entrar em evidência este mês com a nova edição do Festival Internacional de Tango de Buenos Aires.
No entanto, Buch considera que incluir estas composições dentro do ''panorama do tango em geral é um fato plenamente justificável, mas também é preciso levar em consideração uma ideia mais ampla da definição do gênero''.
O livro recupera, entre outros, os tangos para piano de Juan José Castro; o ''Tempo di Tango'', da homenagem ao próprio Castro incluída nos ''Preludios Americanos'' (de Alberto Ginastera); e o ''Tango Alemán'' de Kagel, que combina um trio de violino, bandoneón e piano, além de um cantor que entoa um idioma incompreensível.
Também estão presentes cinco peças para violão de Piazzolla, o tango utilizado como material eletroacústico por Francisco Kröpfl, o ''tango residual'' em composições de Pablo Ortiz para violoncelo e piano, e a obra de Gustavo Beytelmann, um diálogo entre tango e a vanguarda histórica.
Além das obras citadas, o livro também apresenta uma grande ''pérola'', a peça em forma de tango opus 11, também conhecida como ''Miserere'', de Johann Sebastian Mastropiero, o famoso compositor imaginário do grupo cômico musical Les Luthiers.
O cruzamento entre o ''erudito'' e o ''popular'' sobrevoa estas obras, um território difuso onde os puristas - sejam ''tangueros'', sejam compositores eruditos - se sentem incômodos.
Buch assinala que durante muito tempo ''o interesse dos compositores eruditos pelo tango se baseava na ideia não só de que os gêneros eram diferentes ao ponto de constituir dois universos separados, mas também por uma relação de hierarquia, onde a música ''séria'' acabava levando dignidade de um produto artístico a esses materiais ''populares''''.
''No entanto, essa atitude foi desaparecendo nas últimas décadas, desde os anos 1970, por causa da mistura das práticas musicais e da difusão de uma ideia mais pluralista da cultura'', sustenta o especialista em música.
Graças a esta evolução, segundo Buch, é improvável que atualmente um compositor ''erudito'' diga seriamente que sua música tem um valor superior à música popular, ''além de que deve ter compositores que não gostam de tango ou não se interessam pelo gênero como um elemento de inspiração para sua obra''.
Por outro lado, os músicos de tango ''popular'' praticamente não têm conhecimento deste repertório ''culto''.
Mas, de acordo com Buch, estes ''tangos cultos'' são parte integrante da diversidade do gênero e ''acabam lhe acrescentando algo muito interessante, já que quando a prática da música culta se aproxima da ''música contemporânea gera um jogo com convenções genéricas em geral''.
''Por isso acho que uma obra como o ''Tango Alemán'', de Kagel, constitui uma representação do gênero, que apresenta um olhar lúdico e criativo a respeito de uma ideia do tango enraizada em espécies de clichês, que, por sinal, causou muito dano ao próprio tango'', concluiu Buch.