Sede do centro cultural saudita seria em Al-Ula, uma região arqueologicamente rica no noroeste do país (Eric Lafforgue/Art In All Of Us/Corbis/Getty Images)
Marília Almeida
Publicado em 30 de dezembro de 2018 às 15h43.
Última atualização em 30 de dezembro de 2018 às 15h43.
O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman, definiu múltiplas agendas ambiciosas para seu reino no deserto. Transformá-lo em um grande destino cultural pode acabar sendo uma das mais importantes.
Para uma parte do plano, o governo saudita recorreu à Sotheby’s, a maior casa de leilões dos EUA, e a Allan Schwartzman, copresidente de sua divisão de arte.
A sede do centro cultural saudita seria em Al-Ula, uma região arqueologicamente rica no noroeste do país. Ali, os nabateus, uma antiga tribo nômade de artesãos e comerciantes, esculpiram construções elaboradas em arenito há mais de 2.000 anos. Nessa região fica Mada’in Salih, uma cidade antiga que foi o primeiro Patrimônio Mundial da UNESCO na Arábia Saudita.
Se o projeto prosseguirá conforme planejado é um mistério -- talvez tão enigmático quanto o destino do Salvator Mundi, de Leonardo da Vinci, a obra-prima de US$ 450 milhões que não é vista em público desde que outro príncipe saudita a comprou em um leilão no ano passado.
A conexão de Schwartzman é dupla: ele faz parte do conselho consultivo da Comissão Real para a Al-Ula, uma entidade que supervisiona o desenvolvimento da região, e dirige a Art Agency Partners, braço consultivo de arte da Sotheby’s, que apresentou um plano para uma grande iniciativa de arte contemporânea no local.
A colaboração com a Sotheby’s está em uma “fase exploratória”, disse Rosie Marsh, porta-voz da comissão real, em um comunicado enviado por e-mail.
Ainda não está claro como as consequências do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em outubro, afetarão o projeto. Neste mês, o Senado dos EUA votou pela retirada do apoio à guerra do reino no Iêmen e responsabilizou o príncipe herdeiro pela morte de Khashoggi.
“Como muitas organizações e indivíduos, estamos extremamente preocupados com os acontecimentos recentes e condenamos sem reservas atos de violência contra todas as pessoas”, afirmou a Sotheby’s em comunicado. “Um diálogo ativo sobre este projeto está em andamento internamente, assim como todas as possíveis iniciativas e parcerias que a empresa analisa.”
A Sotheby’s propôs “posicionar inequivocamente Al-Ula como única entre outros destinos culturais mundiais como grande patrocinadora das artes”, de acordo com documentos obtidos pela Bloomberg.
A casa de leilão convidou mais de uma dezena de artistas a enviarem propostas. A partir do fim de outubro, cinco deles visitaram o lugar, segundo pessoas a par do programa, que pediram para não serem identificadas por estarem falando sobre detalhes que não são públicos.
A Sotheby’s, Schwartzman e a comissão real preferiram não comentar as propostas de arte, e Marsh disse que nenhuma obra foi encomendada. Se aprovadas, as obras apresentadas poderiam ser a espinha dorsal de uma exposição itinerante que poderia ajudar a aumentar o interesse no projeto, de acordo com a proposta da Sotheby.
“Para a visão deste futuro projeto é essencial o acesso local, regional e internacional ao notável patrimônio humano e natural de Al-Ula”, disse Marsh. “As interpretações através da arte contemporânea são apenas um caminho que está sendo explorado.”