Série Kingdom, da Netflix, tem heroína em nome da ciência
Kingdom é dona de cenas repletas de ação que pouco lembram os massacres zumbis urbanos de outras séries contemporâneas do gênero
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de abril de 2020 às 10h50.
Desde de que renovou a maneira de se narrar uma invasão zumbi, a primeira temporada da série sul-coreana Kingdom, disponível na Netflix , surpreendeu com uma história medieval eletrizante, com tons já vistos no cinema de seu país em Train To Busan (2016).
A vantagem que faz a série arrancar na frente, para bem longe da cansativa The Walking Dead, é seu recorte histórico, ambientado no período da Dinastia Joseon (1392-1897). Em apenas seis episódios, a série narrou, em sua temporada anterior, a convulsão social provocada pela contaminação de pessoas, que se transformam em monstros sedentos por carne humana.
Da periferia do país, a massa de zumbis seguiu para a capital, casa do poder e das conspirações. O boato do rei morto cede espaço para uma disputa aberta. Quem vai ocupar seu lugar, nesse momento de crise?
O filho do rei, acusado de traição, tem outras preocupações, como erradicar a contaminação com as ferramentas mais urgentes: flechas inflamadas, armas de fogo rudimentares, barricadas e espadas.
Nesse quesito, Kingdom é dona de cenas repletas de ação que pouco lembram os massacres zumbis urbanos de outras séries contemporâneas do gênero. A metáfora de uma sociedade exaurida, rodeada de prédios e transformada em massa alienada, ganha diferentes contornos na paisagem de florestas e construções milenares da série.
De fato, uma epidemia zumbi deixa rastros particulares. O luxo vivido pelos clãs tem fim e a desigualdade social é escancarada. Um mal que não escolhe entre ricos e pobres, embora os poderosos tenham mais vantagens. Se a força militar não basta, o que pode dar fim ao caos e promover a sobrevivência de todos?
Com os mesmos seis episódios - que pode parecer pouco para uma série com mais altos que baixos -, a segunda temporada de Kingdom mantém em alta temperatura a ação de zumbis correndo, lutas, investidas, mas também constrói de maneira silenciosa os segredos por trás da epidemia. Enquanto os homens vão suar sangue na batalha, a heroína tem nome e profissão: Seo-bi, a médica.
Na primeira temporada, foi a personagem da atriz Doona Bae que percebeu o ciclo de funcionamento dos zumbis. Durante a noite, os monstros despertavam para caçar. Quando o sol nascia, entravam em buracos, em estado de dormência, à espera do pôr do sol. Esse comportamento serviu muito bem ao roteiro de estreia, mantendo a tensão dos humanos, tanto na ação direta, quanto nas estratégias de defesa. Para sobreviver, um dia de cada vez.
Na segunda temporada, Kingdom avança no desenvolvimento desses zumbis, a cargo das descobertas promovidas por Seo-bi. Como é de imaginar, a potência militar não é o bastante, mesmo que sirva para acariciar o ego masculino. O embate força versus inteligência está posto. Acreditar na intuição de uma médica ou no barulho das armas?
As revelações de Seo-bi também serão usadas pela rainha, que não abrirá mão de seu lugar. O boato sobre sua gravidez ativa uma crise política inédita. A realeza reconhece que tem o caos ao seu favor, construções seguras para viver, um exército pessoal. Mas será que pode aprisionar o conhecimento?
Ao descobrir as origens e os motivos da contaminação zumbi, Seo-bi não se surpreende. Dominar o outro sempre foi da natureza humana. Kingdom encerra a segunda temporada exaltando a batalha da médica e lhe impondo um desafio superior. A nova guerra será pelo conhecimento, contra uma ciência ainda mais antiga. Boa sorte para os zumbis.