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Savoir-faire suíço: uma visita ao museu, hotel e manufatura da Audemars Piguet

A Audemars Piguet possui três qualidades de destaque: foco no design, execução de grandes complicações e inovação

Sede da Audemars: manufatura, museu e hotel com o selo de qualidade da marca (Ambroise Tezenas/Divulgação)

Sede da Audemars: manufatura, museu e hotel com o selo de qualidade da marca (Ambroise Tezenas/Divulgação)

Pedro Valente
Pedro Valente

Co-CEO e Colunista

Publicado em 31 de março de 2024 às 10h55.

Quando recebi o convite da Audemars Piguet para visitar seu museu, manufatura e hotel, não hesitei. Para quem não sabe, trata-se de um dos mais antigos fabricantes da alta relojoaria.

A marca foi fundada em 1875 e é considerada parte da “santíssima trindade” do segmento, dividindo o pódio com Patek ­Philippe e Vacheron Constantin. Mas por que essa viagem foi tão especial para mim? Confesso que aqui terei um ponto de vista enviesado. Sou apaixonado pela empresa e o que seus relógios representam. Depois de muitos anos colecionando esses objetos, essa foi a minha primeira visita a uma fábrica.

A Audemars Piguet nasceu no Vale de Le Brassus, um pequeno vilarejo nas montanhas da Suíça. Em 1875, dois visionários, ­Jules-Louis Audemars e Edward-Auguste Piguet, juntaram forças para criar relógios luxuosos de alta precisão. Jules e Edward se destacaram, entre outras coisas, por criarem em um relógio de pulso o primeiro repetidor de minutos, um dos mecanismos mais difíceis de executar e um dos mais desejados pelos colecionadores.

Em 1972, no auge da crise do quartzo, a Audemars contratou um designer para desenhar um relógio de luxo com pulseira integrada e de aço. Esse jovem profissional era ninguém menos que Gérald Genta, hoje uma lenda na indústria. O relógio em questão foi inspirado em uma janela do capacete de mergulho e veio a se tornar o Royal Oak. O modelo deu origem a uma categoria nova de relógios, inspirou inúmeras outras marcas e hoje, 51 anos depois, seu design permanece quase inalterado.

Se por um lado o sucesso do Royal Oak foi o que salvou a Audemars na crise do quartzo, por outro ele representa hoje a essência da marca. Convido o leitor a me acompanhar para além desse modelo icônico, explorando o que a ­Audemars tem de melhor.

Foco no design

A Audemars sempre soube explorar a riqueza de sua herança, tomando riscos calculados. O equilíbrio entre elegância e aspecto industrial no desenho do Royal Oak deixa claro quanto a marca é mestre em combinar dicotomias em suas formas. Mas seu design vai muito além do icônico modelo. Na visita ao museu na cidade de Le Brassus, era difícil não se encantar por modelos antigos, como um tank com jump hour. Eu até gostaria de começar uma petição para que a Audemars voltasse a produzir esse relógio.

Execução de grandes complicações

Jules Audemars, em seu projeto de graduação da escola de relojoaria, desenvolveu um modelo de bolso com calendário perpétuo, fase da lua, deadbeat seconds e quarter repeater. Audemars usou todo esse talento para se estabelecer como o principal fabricante de relógios de bolso complicados. Durante a visita, tive o privilégio de ver o Code 11.59 Universelle, um relógio de pulso com 40 funções e 23 complicações, incluindo um turbilhão, um calendário perpétuo e um cronógrafo flyback­. Para quem tinha alguma dúvida sobre a coleção Code 11.59, o Universelle é um claro aviso de que a coleção veio para ficar e para impressionar.

Inovação e Vanguarda

Em 1889, a Audemars já tinha realizado inúmeros lançamentos inéditos no mundo da relojoaria, como o primeiro repetidor de minutos em um relógio de pulso. Em 1899, a marca fez o relógio com um número recorde de complicações. Em 1921, lançou três inovações na relojoaria: o maquinário mais fino do mundo, o repetidor de segundos mais fino do mundo e o primeiro jump hour. Outro aspecto interessante da marca é não se levar a sério demais. Afinal, relógios se tornaram estilo de vida. A ­Audemars faz parcerias com personalidades como Jay-Z e ­Travis Scott e lançou modelos com o universo da Marvel. A coleção Royal Oak Concept é a representação desse lado vanguardista da marca, da qual sou fã.


Ponto de encontro

O Hôtel des Horlogers é um local histórico de reunião dos antigos artesãos da indústria relojoeira

Desde 1857 o Vale de Joux, mais precisamente o antigo Hôtel de France de Le Brassus, é considerado um lugar de encontros de relojoeiros. Antigamente os artesãos precisavam despachar seus relógios de lá para Genebra e aproveitavam a viagem para trocar ideias e mostrar seus últimos projetos. A Audemars Piguet comprou a propriedade, localizada ao lado da sede, e decidiu nomeá-la Hôtel des Horlogers (“Hotel dos Relojoeiros”, na tradução). Mas a missão continua a mesma: ser um espaço de encontro de agentes do mercado de relógios, independentemente da marca.

O hotel tem 50 quartos ultraluxuosos, com vista para a Floresta Risoud. A sensação lá é de paz, com destaque para a visão das montanhas que cortam o céu suíço, o verde e marrom da floresta, as vacas leiteiras das fazendas vizinhas. O projeto é do arquiteto Bjarke Ingels. A sensação que tive é de o prédio ser uma continuidade do próprio morro onde foi construído. Seu interior remete a cores suaves, com muito concreto aparente e material orgânico, quase uma extensão da floresta. Ele foi construído em ziguezague, então nenhum quarto fica em cima de outro, o que contribui para o silêncio e a privacidade.

Um foco grande durante a construção foi a sustentabilidade. O hotel funciona com energia solar e opera sob várias políticas ecológicas. Lá não se usa papel nem plástico. Até os produtos de limpeza do hotel são orgânicos. O restaurante é outro destaque, com grande foco na matéria-prima e nos produtos locais.

Entre as opções de lazer do hotel estão caminhadas, roteiros de bicicleta e inúmeras atividades esportivas. É um local para os amantes da relojoaria, claro. Mas também para os apreciadores da natureza e de paisagens tão relaxantes quanto as montanhas do Joux.

O executivo viajou a convite da Audemars Piguet

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