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Saúde mental, a convidada surpresa nas Olimpíadas de Tóquio

Simone Biles, ginasta norte-americana, abriu mão das competições e abriu discussões

Ginasta: Simone Biles nas Olimpíadas de Tóquio (AFP/AFP)
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AFP

Publicado em 8 de agosto de 2021 às 09h47.

Última atualização em 8 de agosto de 2021 às 10h08.

Simone Biles deveria deixar uma marca na história com uma safra impressionante de medalhas nas Olimpíadas de Tóquio, mas a estrela da ginástica artística foi protagonista por outra razão: sua cabeça estava em conflito com o resto do seu corpo e a questão da saúde mental foi a convidada inesperada dessas Olimpíadas.

"Colocar a questão da saúde mental em cima da mesa significa muito para mim porque as pessoas precisam entender que somos seres humanos", disse a americana na noite em que retornou para conquistar um bronze na trave de equilíbrio, depois de uma prata com a seleção de seu país na final por equipes e de desistir de participar de quatro finais por conta de seus problemas de confiança e de falta de referências no ar.

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O assunto ganhou grande repercussão na mídia, em plena Olimpíada e com uma estrela diretamente afetada, mas ela não é a primeira atleta a passar por um momento psicológico difícil em pleno evento olímpico.

Há mais de duas décadas, a francesa Marie-José Pérec, que era campeã dos 200 e 400 m, desistiu da competição nos Jogos de Sydney-2000, incapaz de suportar a pressão.

A saúde mental está se tornando menos tabu e os atletas estão começando a falar com mais frequência sobre seu sofrimento ou os problemas pelos quais estão passando.

"Acho que é um gesto de coragem falar sobre o sofrimento. Vimos isso com Naomi Osaka há algum tempo", explicou à AFP Anaëlle Malberbe, psicóloga do Instituto Nacional do Esporte da França (INSEP), que atende remotamente vários atletas da delegação olímpica francesa.

No dia em que Simone Biles decidiu parar no meio de uma final, pensou-se inicialmente que poderia se tratar de um problema físico, mas ela mesma explicou que sua saúde mental estava afetando o seu desempenho.

A perda de confiança, a falta de referências no ar, o estresse... Tudo era um perigo para ela no meio das acrobacias.

"Não é um trabalho normal"

Ainda mais do que sobre a saúde mental, o caso de Simone Biles capta a relação entre a cabeça e seu efeito no corpo.

"Alguns achavam que Naomi Osaka estava maluca ou tinha um comportamento de diva. Finalmente, ver outra grande campeã como Simone Biles ter a mesma atitude, desistir por motivos semelhantes, dá o que pensar. Espero que as pessoas entendam melhor o quão complexo é", estima a jogadora de handebol francesa Allison Pineau.

Reflexão partilhada pelo nadador britânico Adam Peaty (26 anos e bicampeão olímpico), que anunciou uma pausa devido ao cansaço mental.

"Não é um trabalho normal", disse ele. "Você vê isso em todos os esportes. Viu com Simone Biles. Viu isso com Ben Stokes (campeão inglês de críquete que acaba de anunciar um hiato para preservar sua sanidade). A saúde mental é importante e se trata de ter um bom equilíbrio nesse ponto", comentou o nadador.

"A pressão sobre os atletas de elite, sobre os atletas de alto nível, é muito forte", aponta Anaëlle Malhberbe. "Um atleta que dura com o tempo e com rendimento é também um atleta que se sente bem nas diferentes vertentes da sua vida", explica.

Simone Biles deixou Tóquio-2020 com uma prata e um bronze, elevando seu balanço pessoal de medalhas olímpicas para sete, somando as do Rio-2016, mas acima de tudo triunfou na hora de passar uma mensagem: "Minha saúde física e mental conta mais do que todas as medalhas que posso ganhar".

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