A cantora Anitta: internada (Divulgação/Divulgação)
Colunista
Publicado em 20 de novembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 27 de setembro de 2024 às 09h32.
Em 1968 o sutiã precisou ser (simbolicamente) queimado em praça pública para exigir a equidade e representatividade da mulher na sociedade. E até mesmo a tentativa da quebra de estereótipo do que era ser uma mulher. Hoje, a peça íntima vem carregada de outros significados, passando a ser um símbolo de empoderamento do corpo feminino e a liberdade de manifestar aquilo que a mulher deseja ser. Total ou parcialmente à mostra, a decisão de como usar uma lingerie cabe muito mais à escolha de quem a veste. Pelo menos é o que deveria ser. E é nesse clima que Sandra Chayo, de 45 anos, diretora de marketing do Grupo Hope, expõe sua visão sobre o protagonismo de escolha de consumo da mulher diante de uma lingerie.
As empresas do futuro estão aqui. Conheça os melhores investimentos em ESG na EXAME Research
Há 22 anos trabalhando na empresa que seu pai, Nissim Hara, fundou em 1966, dois anos antes da fatídica manifestação feminista nos Estados Unidos, Sandra é uma empreendedora que acredita que a lingerie tem um papel muito mais do que funcional, mas também de alto valor emocional. “Uma vez estava lendo a biografia da estilista Diane Von Fürstenberg em que ela disse ‘seja a mulher que você quiser ser’. E isso mudou a minha vida. Se um vestido pode empoderar uma mulher, imagina uma lingerie? A moda íntima é a nossa verdade, nós a vestimos para nós mesmas”, reflete a herdeira da marca, uma das mais queridas pelas brasileiras de acordo com pesquisas feita com consumidoras.
Junto com o olhar sobre o feminino, Sandra Chayo mostra como a empresa, que lidera o segmento de lingerie no Brasil, deseja mudar a cultura de consumo e descarte de peças íntimas no Brasil. A executiva divulga o lançamento, em janeiro de 2021, de um projeto que possibilite o reuso de peças íntimas para mulheres em situação de rua. “Vimos que, depois da água, a peça íntima é o item que essas mulheres mais sentem falta. E o nosso produto tem uma alta durabilidade e qualidade de matéria-prima. Queremos que, assim como a roupa, a lingerie possa entrar neste sistema de economia circular. Vamos ter um processo de arrecadação, higienização e distribuição de alto controle para que isso aconteça da melhor forma”, explica.
Consciente dos desafios que tem ao liderar uma empresa têxtil quando se pensa em problemas ambientais, a executiva se mostra preocupada e ativa com ações para minimizar os impactos negativos. Além da parceria com a startup “Eu Reciclo”, que promove a organização do sistema de reciclagem das embalagens da marca, a Hope também traz na inovação da tecnologia têxtil ao criar um tecido biodegradável, o que leva a degradação da peça em até três anos. E mesmo em tempos de pandemia, a Hope não parou na missão da inovação. Em junho deste ano, a marca lançou a linha Flow, que é de calcinhas absorventes, com o objetivo, mais uma vez, de ser sustentável.
Se seu pai carregava a esperança nos braços e na forma de conduzir os negócios da família, Sandra agrega à jornada da marca Hope otimismo. Com um olhar um olhar positivo e com a possibilidade de um futuro melhor, a cada resposta da executiva há um tom de possibilidades transformadoras – seja para a economia, ações com os colaboradores ou com a sociedade. “Acredito muito que somos capazes de mudar o nosso entorno. Cada um pode fazer algo de bom e transformar o mundo em um lugar melhor”, diz ela, com serenidade e leveza.
Não à toa, a empresa é responsável por uma série de práticas com comunidade local de Maranguape, no Ceará, onde fica a fábrica de produção do grupo. É lá onde a Hope apoia o projeto ‘Costurando Sonhos’, de capacitação de homens e mulheres para entrar no mercado têxtil com uma qualificação profissional. “Fui estudar arquitetura, pois queria deixar o mundo mais bonito. Queria trabalhar com essa questão da estética e sensorialidade que ela proporciona no dia a dia”, revela Sandra. OCoisa que faz no dia a dia, no comando de iniciativas de criação de projetos sustentáveis, produtos, coleções e imagens de moda. “Eu não projeto casas, mas projeto sutiãs, que são bem mais difíceis”, brinca ao finalizar a conversa.