Rubens Barrichello na Porsche Carrera Cup Endurance Series 2021. (Carmen Fukunari/Exame)
Agência Brasil
Publicado em 23 de maio de 2022 às 14h01.
Última atualização em 23 de maio de 2022 às 14h14.
Aos 50 anos, celebrados nesta segunda-feira, 23, Rubens Barrichello continua acelerando. Não mais na Fórmula 1, maior categoria do automobilismo mundial, onde passou quase duas décadas e ganhou notoriedade nacional e internacional, mas na Stock Car, principal competição brasileira da modalidade, na qual compete há 11 anos e acumula 187 provas e 20 vitórias, sendo campeão em 2014.
Na atual temporada, Rubinho ocupa o terceiro lugar, com duas vitórias em quatro etapas (oito corridas). Na última delas, no Autódromo Velocittá, em Mogi Guaçu (SP), há dez dias, o piloto foi duas vezes ao pódio, ambas na segunda posição. Nos boxes, foi presenteado com uma festa surpresa da Full Time, equipe que defende na Stock, com direito a pintura especial no carro (alusiva aos 50 anos) e vídeos com depoimentos que derrubaram lágrimas do paulista.
Rubinho também acompanha de perto a família dar sequência ao legado do sobrenome Barrichello. O filho mais velho, Eduardo (ou Dudu, como é chamado), de 20 anos, disputa a Fórmula Regional Europeia e chegou a participar de uma corrida da Stock com o pai. O mais novo, Fernando (conhecido como Fefo), de 16 anos, integra o primeiro grid da Fórmula 4 Brasil, competição de base recém-criada, chancelada pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e que serve como transição para jovens que vêm do kart.
O veterano, inclusive, teve recentemente o prazer de vibrar com o primeiro pódio do caçula, na segunda das três corridas do primeiro fim de semana da Fórmula 4, realizado paralelamente à etapa da Stock no Velocittá. Graças a uma ultrapassagem na última volta, Fefo assegurou o terceiro lugar na prova. Rubinho festejou emocionado nos boxes e correu para a pista para abraçar e celebrar o feito com o filho.
"Eu vejo o gosto dele, mesmo sabendo de toda a trajetória do pai, uma pressão enorme, conseguindo se liberar, fazendo as coisas que têm de ser feitas por ele próprio. Fico muito feliz pelo amor dele com isso. A gente não esperava [o pódio]. Para mim, ele ainda estava em quarto, a câmera não mostrou ele fazendo a ultrapassagem. Até fui perguntar como ele tinha ultrapassado [risos]", comemorou Rubinho, à Agência Brasil.
O legado da família na Fórmula 4 não se limita aos filhos de Rubinho. Felipe Barrichello Bartz, de 16 anos, sobrinho do piloto e filho da irmã, Renata, também faz parte do grid inaugural da categoria. Na mesma corrida em que Fefo obteve o terceiro lugar, Felipe terminou na segunda posição, garantindo a dobradinha dos Barrichello no pódio.
"É que eu acabei conhecendo ele [Rubinho] primeiro como tio, depois como piloto de Fórmula 1, então acaba que a convivência é normal. É um amigo, que sempre está lá, sempre me ajudando. É gostoso ter a família aqui [na Fórmula 4]. Além do Fefo, tem o Nick [Nicolas Giaffone, filho do piloto Felipe Giaffone], que também é meu primo", contou Felipe.
O sonho dos jovens da família, não há como ser diferente, é recolocar o sobrenome Barrichello na Fórmula 1. A missão não é simples, tanto que o Brasil não tem um piloto começando uma temporada da categoria desde Felipe Massa, em 2017. Até por isso, Rubinho acredita que a Fórmula 4, que encerra uma lacuna de cinco anos sem competições de transição do kart para o monotipo no país, pode ser fundamental no processo.
"Chegamos a ter tantos brasileiros entrando e saindo da Fórmula 1 que a gente não dava conta de que era tudo [fruto] de uma base, de um princípio forte. A gente pode ter novamente uma base. Esse é o crescimento. O cara sair daqui e poder ir para a Europa [mais amadurecido]. Se você chega lá, bate em uma porta e não anda bem, às vezes, encerra a carreira. Tendo uma base aqui, no Brasil, o cara chega forte lá. Esse sim, é o princípio para voltarmos a ter pilotos na Fórmula 1", afirmou o veterano.
Do kart (onde foi pentacampeão brasileiro) a Stock, as pistas fazem parte da vida de Rubinho há pelo menos quatro décadas. Aos 17 anos, pela Fórmula Ford brasileira, ele vivenciou a primeira experiência correndo de carro, ganhando logo na corrida de estreia. Quatro anos depois, a Fórmula 1 já virou realidade. Foram 323 corridas na maior categoria do automobilismo mundial, sendo o terceiro piloto com mais provas iniciadas. Ele liderou a estatística até 2020, quando foi superado pelo finlandês Kimi Raikkonen — no ano passado, o espanhol Fernando Alonso assumiu o segundo lugar.
O primeiro triunfo veio em 2000, no Grande Prêmio da Alemanha, país natal do piloto do qual foi Rubinho companheiro de equipe por mais tempo: o heptacampeão Michael Schumacher, na Ferrari. O brasileiro foi ao pódio 68 vezes na categoria, 11 delas no topo, com dois vice-campeonatos, em 2002 e 2004, ambos vencidos por Schumacher. A chance mais clara de título, porém, foi em 2009, pela Brawn GP, quando o paulista (que encerrou o ano em terceiro) voltou a ganhar corridas após quatro temporadas e brigou até a penúltima prova, mas viu o britânico Jenson Button, parceiro de escuderia, levar a melhor.
A jornada na Fórmula 1 terminou em 2011, com a da Stock iniciando no ano seguinte. Além do título em 2014, Rubinho foi vice-campeão em 2016. Ele é o segundo piloto mais velho do grid atual, superado apenas por Tuca Antoniazi (51 anos) e deve atingir a marca de 200 provas na categoria brasileira ainda nesta temporada.