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Retomada de hotéis e restaurantes na França tem falta de mão de obra

A questão da falta de mão de obra surgiu agora que milhares de hotéis e restaurantes que sobreviveram à crise tentam compensar uma queda de 80 por cento nos negócios desde o ano passado

 (Dmitry Kostyukov/The New York Times)

(Dmitry Kostyukov/The New York Times)

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Julia Storch

Publicado em 18 de maio de 2021 às 09h04.

Última atualização em 18 de maio de 2021 às 10h35.

Durante seis meses, Christophe Thiriet esperou que os bloqueios nacionais da França fossem suspensos para que pudesse reabrir os restaurantes e hotéis de sua empresa, em um pitoresco canto no leste da França, e chamar de volta os 150 funcionários que foram dispensados meses atrás.

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Mas, quando lhes pediu que voltassem para a reabertura em meados de maio, deparou-se uma dor de cabeça inesperada: pelo menos 30 deles disseram que não voltariam, fazendo com que fosse necessário procurar novos trabalhadores no momento em que precisava entrar em ação. "Quando você fecha as coisas por tanto tempo, as pessoas pensam duas vezes em ficar", afirmou Thiriet, cogerente do Grupo Heintz, que possui 11 hotéis e três restaurantes ao redor da cidade de Metz, perto da fronteira com Luxemburgo.

Restaurantes e hotéis em todo o país estão enfrentando o mesmo problema. Depois de meses de licença, os trabalhadores decidem não voltar a seu emprego na indústria hoteleira. É uma preocupação particular na França, que normalmente lidera a lista dos países mais visitados do mundo.

Um déficit de talvez até cem mil trabalhadores de restaurantes e hotéis, de acordo com os maiores grupos comerciais do setor, é especialmente preocupante porque centenas de milhares de pessoas estão procurando trabalho depois da pior recessão da França em décadas. Os empregadores contam que está mais difícil atrair candidatos a emprego para uma indústria cujo futuro está mais ou menos amarrado aos caprichos do coronavírus e à incerteza das campanhas de vacinação.

O Hotel Regina em Paris. O governo fechou hotéis durante meses durante a pandemia em Paris. (Dmitry Kostyukov/The New York Times)

Há placas de "Procura-se" penduradas na janela de restaurantes e hotéis em todo o país. A questão da falta de mão de obra surgiu agora que milhares de hotéis e restaurantes que sobreviveram à crise tentam compensar uma queda de 80 por cento nos negócios desde o ano passado. Os lockdowns da Covid-19 custaram à indústria turística francesa, peça fundamental da economia, mais de 60 bilhões de euros em receitas perdidas.

"Sabemos que vamos ter clientes novamente neste verão – esse não é o problema. A preocupação é que não vamos ter uma força de trabalho adequada num momento em que precisamos compensar uma enorme perda de vendas", disse Yann France, dono do restaurante La Flambée, na popular cidade litorânea de Deauville, no norte do país.

Alguns apontam que o problema pode não ser tão grande, já que os visitantes internacionais ainda não começaram a vir para a França, e os candidatos a emprego, incluindo estudantes que precisam de trabalho para ajudar a pagar as despesas, podem acabar suprindo qualquer carência. Outros, porém, acreditam que a precariedade dos negócios é a questão mais séria.

"O problema maior é a incerteza sobre o futuro da indústria. As coisas vão ficar abertas, ou poderia haver outro fechamento por causa de um novo vírus?", questionou Thierry Gregoire, proprietário do grupo NT Hotel Gallery, que possui cinco hotéis e três restaurantes ao redor de Toulouse.

Para aqueles que já enfrentam sinais de diminuição da mão de obra, agora está claro que um generoso esquema de licença subsidiado pelo Estado, destinado a ajudar os empregadores franceses a manter os funcionários em espera, também criou desvantagens inesperadas. No semestre em que trabalhadores do setor hoteleiro receberam 85 por cento de seu salário para ficar em casa, muitos tiveram tempo para reavaliar seu futuro.

"Muitas pessoas estão decidindo que têm outras coisas para fazer em vez de continuar em uma profissão em que nada acontece", observou Thiriet, que também é representante da maior organização comercial de hospitalidade da França, o Sindicato do Comércio e da Indústria de Hospitalidade (UMIH, na sigla em francês). Ele acrescentou que milhares de outros empregadores da organização relataram as mesmas dificuldades de recrutamento.

Catherine Praturlon está entre os que decidiram mudar completamente de caminho durante a pandemia. Gerente de um hotel na região de Moselle, no leste da França, por quase 30 anos, ela sempre tinha pensado em fazer algo diferente, mas nunca tomara uma atitude. Quando o governo fechou e abriu hotéis durante meses e os viajantes quase desapareceram, o trabalho ficou chato, de acordo com ela: "Não havia perspectiva de futuro." Em vez de voltar da licença, ela recentemente largou o emprego e arrumou outro em uma indústria diferente. (Um acordo de confidencialidade a impediu de dizer qual.) "A pandemia me deu a coragem para fazer essa mudança."

Como em Nova York, Londres e em outras grandes cidades onde as restrições do governo foram suspensas, os consumidores na França estão prontos para esbanjar suas economias em delícias gastronômicas e no joie de vivre que lhes foi negado por muitos meses.

France, o dono do restaurante La Flambée, está tentando recrutar um maître, um assistente de cozinha e um chef depois que alguns funcionários avisaram que não voltariam ao trabalho – até agora, sem sucesso. "A falta de mão de obra é impressionante", afirmou, acrescentando que os restaurantes da região de Calvados, onde fica seu estabelecimento, precisam preencher de três mil a quatro mil vagas regulares e sazonais para que estejam prontos para o aumento esperado de clientes.

Os subsídios governamentais têm sido vitais para manter as empresas em funcionamento, mas não garantem necessariamente que os empregadores possam conservar os trabalhadores mais qualificados.

Craig Carlson, dono do Breakfast in America, popular restaurante de panquecas em Paris, comentou que os esquemas de licença, embora essenciais para a sobrevivência do restaurante, tinham paradoxalmente deixado alguns de seus trabalhadores mais bem pagos em desvantagem. Enquanto os garçons que ganham o salário mínimo da França de 1.539 euros recebem seu salário integral, antes dos impostos, sob o programa de licença, os cozinheiros e os gerentes, que ganham mais, tiveram cerca de 15 por cento de corte salarial para ficar em casa até a reabertura. Para um dos gerentes, pai solteiro com dois filhos, o salário reduzido significa enfrentar dificuldades, disse Carlson.

Nos restaurantes e hotéis de Thiriet em Metz, as 30 vagas inesperadas de emprego ainda não o estão prejudicando, uma vez que a reabertura dos restaurantes virá em etapas, e o turismo e as reservas em hotéis talvez não retornem rapidamente aos níveis de antes da pandemia. Ele afirmou que, ainda assim, é um desafio substituir os funcionários com anos e até décadas de experiência que decidiram durante a pandemia que o trabalho não era mais o que queriam. "No início, muitos achavam que seria bom passar um ou dois meses relaxando em casa. Agora, há uma falta de visibilidade em longo prazo nessa indústria, e alguns não têm tanta certeza de que querem estar nela."

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