O Grande Prêmio de Mônaco não é apenas lugar para carros de Fórmula 1, mas também de uma das melhores festas da competição (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2011 às 19h00.
O Grande Prêmio de Mônaco de Fórmula 1 é, de longe, o mais charmoso da temporada. Há quem diga que Bernie Ecclestone, o chefão da F-1, mantém essa prova no calendário porque ela ajuda a fisgar os novos investidores, que se deslumbram com a concentração de riqueza e poder em um final de semana. A marina onde se concentram as equipes é uma reunião de gigaiates. O maior deles, o Indian Empress, pertence ao bilionário indiano Vijay Mallya. Dono de uma das maiores cervejarias do mundo (a United Breweries), de uma companhia aérea (a Kingfisher, mesmo nome de sua cerveja mais popular) e de um time de F-1 (a Force India), Mallya figura na lista da Forbes dos homens mais ricos do mundo com patrimônio de 1,4 bilhão de dólares.
Desde que chegou à categoria, em 2008, Mallya dá festas em seu iate de 95 metros. Com o tempo, elas ganharam fama — e, obviamente, sua entrada fica cada vez mais seletiva. Nem mesmo a imprensa (tradicionalmente muito bem tratada na categoria) tem passe garantido. “Existem muitas baladas na F-1, mas nada chega aos pés do que Vijay faz no Indian Empress. É o evento do ano”, diz o inglês Mark Sutton, fotógrafo que trabalhou com Ayrton Senna. Além do glamour de Mônaco, há uma peculiaridade: o GP de Monte Carlo é o único em que não há atividades na sexta-feira. Assim, a quinta à noite pode ser estendida tranquilamente.
De posse do convite, recebo algumas instruções. A primeira: o traje não é formal. “Os milionários se reconhecem pelos detalhes, como um bom relógio”, me disse um amigo. Meu modelo suíço me acompanharia no pulso esquerdo. “Chegue cedo. Há o risco de você ficar de fora, mesmo tendo convite, porque o lugar lota”, prosseguiu o amigo. O “esquenta” acontece a poucos metros dali, no iate da Red Bull, time de Sebastien Vettel e Mark Webber, um local mais “democrático”. O dia não tinha chegado ao fim (escurece depois das 21h na primavera em Mônaco) quando decidi entrar. Uma longa fila de Lamborghini, Porsche e Ferrari se formava na entrada. Na recepção, entrego o meu convite e recebo um carimbo invisível que me autoriza o acesso, metros adiante, a uma área montada como um check-in de aeroporto. Na ponte de acesso entre a marina e o barco, um elefante indiano dá boas vindas. O tema era “Destination Bollywood” (Vijay também é produtor de filmes).
Um contador de pessoas é discretamente usado pela hostess — o iate pode ter 95 metros de extensão e cinco andares, mas há um limite de gente que precisa ser respeitado. Logo depois, mais uma parada antes de chegar ao deque principal: um “valet parking” de sapatos. Os descalços eram maioria, bem como pessoas usando apenas meias. Os mais safos estavam de Havaianas. Na entrada, ganhei um “terceiro olho” de brinde. “Uma maneira de tornar seu visual mais indiano”, garantiu a bela e simpática modelo que distribuía o adereço. Impossível recusar. Bem como a taça de champanhe servida logo adiante, quando me dirigi à “discoteca”. Era um Bouvet-Ladubay Trésor, de uma vinícola comprada recentemente por Vijay na França.
Richard Branson, dono da Virgin e conhecido bon vivant, está no ambiente mais agitado do iate. Modelos, dançarinas e gente de idades e inclinações variadas dançam ao som de um DJ que voou de Mumbai só para tocar naquela noite. Em alguns momentos parece que se está no meio de uma balada em Ibiza. Sobre Branson, reza a lenda que ele teria dado em cima da namorada de Jenson Button quando sua empresa era patrocinadora da Brawn GP, com a qual o inglês foi campeão mundial. Vendo a agilidade do magnata na conversa com as mulheres seminuas que se divertiam ao seu lado, dá para acreditar no rumor. Até porque Jessica Michibata, namorada de Button, realmente vale qualquer briga.
Em uma outra rodinha, está o pai de Lewis Hamilton. E por onde andaria o próprio? Provavelmente na parte privativa da festa: as áreas internas do iate são para os VIPs. Em uma sala enorme, totalmente envidraçada (para apreciar a beleza do mar), Vijay Mallya janta acompanhado de três mulheres e dois amigos. Renoir e Chagall, autênticos ou em autên ticas reproduções, enfeitam as paredes. Um elevador serve o hall dessa área privativa. Saí para explorar os outros andares — há cinco, sendo três com decks externos. Os longos corredores serviam para quem procurava mais privacidade — e, claro, casais já se aproveitavam disso, usufruindo o incrível visual noturno da marina de Mônaco. Cenário perfeito para apaixonados ou extremamente afrodisíaco para casais de ocasião.
Subindo as escadas, outro ambiente festivo, com dançarinas indianas em trajes típicos – e bem pequenos, diga-se — realizando performances em um pequeno palco. Puxo papo com duas atrizes de Bollywood que, na sequência, se juntam ao grupinho de Michael Johnson, medalhista de ouro das Olimpíadas e detentor do recorde mundial nos 400 metros rasos. Ele foi rápido também com as garotas. Vijay Mallya sabe usar com maestria a receita clássica de misturar ricos famosos a ricos anônimos. Seu passe para a F-1 foi comprado ao adquirir uma equipe por algumas dezenas de milhões de euros. Para comemorar seu aniversário de 50 anos, contratou seu cantor favorito, Lionel Richie, para uma celebração de quatro dias. Não por acaso, é conhecido como o “rei da diversão” na Índia, onde conseguiu fazer fortuna após suceder o negócio de seu pai em um país onde há sérias restrições à bebida alcoólica. Vijay também se elegeu em 2002 para o Parlamento indiano.
Perto das 5 da manhã, minha permanência na festa chegava ao fim. Não que a balada estivesse ruim — ao contrário, o entra-e-sai na área privativa aumentava conforme a madrugada avançava. Não perdi o papel do meu “valet shoes” e pude voltar caminhando para a estação de trem. Curiosamente, o caminho passa justamente pela reta de chegada, onde, dali a dois dias, os pilotos disputariam a prova mais chique do ano. Ao ver a vitória de Sebastien Vettel, eu pensava na corrida eletrizante, no glamour de Monte Carlo — e na próxima festa de Vijay Mallya, em outubro, no GP de Nova Délhi. Será que ele colocará um maldito elefante na porta, novamente?