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Quem deve traduzir Amanda Gorman? Debate agita mundo editorial na Europa

Tudo começou na Holanda, quando a jornalista e militante Janice Deul publicou no final de fevereiro uma coluna incendiária: "Uma tradutora branca para a poesia de Amanda Gorman: inconcebível".

A jovem poeta Amanda Gorman durante a posse do presidente dos Estados Unidos Joe Biden, em Washington, em 20 de janeiro de 2021 (AFP/AFP)
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AFP

Publicado em 6 de abril de 2021 às 09h42.

Última atualização em 9 de abril de 2021 às 15h15.

A tradução do poema da americana Amanda Gorman, artista conhecida por seu apelo à unidade durante a posse de Joe Biden, dividiu o mundo editorial na Europa depois que os tradutores holandês e catalão foram descartados por não corresponderem ao perfil da jovem poeta negra.

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"Para nos concentrarmos no nosso futuro, devemos antes de mais nada deixar de lado as nossas diferenças", recitou a jovem de 23 anos durante a cerimônia de posse do presidente dos Estados Unidos em janeiro , em um discurso emotivo que a transformou imediatamente em um fenômeno mundial.

Os versos fazem parte do seu poema "The Hill We Climb" (A colina que nós subimos, em tradução livre) e sua tradução desencadeou um debate acalorado na Europa. Seu tradutor deve ser negro como ela? Por que não aproveitar esta ocasião para injetar mais diversidade em um mundo literário dominado por brancos?

Tudo começou na Holanda, quando a jornalista e militante Janice Deul publicou no final de fevereiro uma coluna incendiária no jornal De Volkskrant: "Uma tradutora branca para a poesia de Amanda Gorman: inconcebível".

Uma semana depois, a tradutora em questão, Marieke Lucas Rijneveld, demitiu-se. A editora Meulenhoff lamentou "ter perdido uma imensa oportunidade de dar a uma jovem mulher negra uma coluna na Holanda e Bélgica ao não traduzir sua obra".

O assunto tomou conta de toda Europa.

A espanhola Nuria Barrios, cuja tradução do poema foi publicada em 8 de abril pela editora Lumen, mostrou-se indignada: "O triunfo de Deul é catastrófico", escreveu no jornal El País.

"É o sintoma de uma nova censura, letal para a tradução, para a arte, para a vida", acrescentou.

Fora da Europa, até agora há apenas algumas traduções previstas.

No Brasil, a encarregada será a jornalista, poeta e tradutora negra Stephanie Borges.

"É um debate extremamente importante: esperamos que prospere para que nos leve a uma maior representatividade no mundo literário", disse à AFP Talitha Perissé, da editora Intrínseca.

Maior diversidade
Na Espanha, surgiu uma nova polêmica com a versão em catalão. Seu tradutor também foi descartado.

"Me disseram que não estou apto para traduzir o texto (...). Não duvidaram das minhas habilidades, mas estavam em busca de um perfil diferente, que tinha que ser mulher, jovem, ativista e preferencialmente negra", explicou à AFP o escritor Víctor Obiols.

A editora Univers informou que até agora não designou nenhum outro tradutor.

A versão francesa será publicada na França em meados de maio pelas mãos da cantora belgo-congolesa Lous and the Yakuza, que estreia no campo da tradução.

Na Suécia, o também cantor Jason Diakité, cujo nome artístico é Timbuktu, traduziu o texto. De pais americanos, o artista explicou ao canal SVT que o poema "contém muitas rimas, o que o torna muito parecido com o rap. É muito familiar".

A versão alemã também gerou polêmica.

Segundo o jornal austríaco Der Standard, o texto é um "fiasco", que "maltrata as figuras estilísticas e as imagens fortes" da versão original.

Na Itália, a editora Garzanti escolheu, aparentemente com a aprovação de Amanda Gorman como foi o caso de Barrios, a jovem tradutora branca Francesca Spinelli.

A editora húngara Open Books lançou um projeto original: a tradução será realizada por três jovens romanis em uma oficina literária dirigida pela escritora Kriszta Bódis

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