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Por que este 007 é tão diferente dos anteriores (atenção: contém spoiler)

Estética de videogame, merchandising sutil, momento família. Em Sem tempo Para Morrer, Daniel Craig se despede sem muita classe do papel de James Bond

Daniel Craig como James Bond: igual mas diferente (Omega/Divulgação)

Ivan Padilla

Publicado em 30 de setembro de 2021 às 10h34.

Última atualização em 30 de setembro de 2021 às 10h42.

O desafio das franquias de cinema é manter a narrativa anterior e ao mesmo tempo inovar em enredo, construção de papeis, novos personagens. Mais ou menos o que acontece nas séries de uma temporada para outra. O 25º filme com o espião britânico 007, que estreia nesta quinta-feira 30, segue a fórmula – e vai além.

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Sem Tempo Para Morrer, da Universal Pictures, talvez seja um dos filmes de maior ruptura do clássico James Bond do imaginário popular. O início é arrebatador, uma das melhores aberturas de filmes de ação já produzidas, com um toque de Tarantino ao trazer violência repentina a um momento aparentemente trivial.

É o tipo de filme que deve ser visto no cinema. O enredo é um pouco longo e algo confuso, mas as cenas de ação fazem o tempo correr. Ao final, em uma cena pretensamente sentimental já sem o 007, fica a curiosidade pelo que virá. Sim, porque Daniel Craig certamente não viverá o próximo Bond. Ainda que jamais se deva subestimar a imaginação dos roteiristas.

Destacamos quatro motivos que tornam este James Bond tão diferente dos demais.

Merchandising sutil

James Bond é uma espécie de outdoor de smoking. Desde os primórdios, diversas marcas foram associadas ao papel do espião britânico. No começo estavam gin Gordon, carros Bentley, cigarros Moreland. Comportamentos mudaram, o dinheiro trocou de mãos e novas inserções surgiram.

A diferença agora está na sutileza. Em Casino Royale, Eva Green pergunta a Craig se ele está usando um Rolex. “Omega”, ele responde. “Lindo”, diz Eva. Desta vez, um relógio é construído especialmente para Bond como uma arma secreta. Apesar desse destaque da peça, o mostrador mal aparece, menos ainda a marca.

Sim, continua sendo Omega. Mas apenas se vislumbram o mostrador desfocado e os detalhes em cobre do novo Seamaster 42 milímetros. Companheiras de ação de Bond também usam modelos da marca suíça, como um elegante Aqua Terra. Mas sem exibição do logo ou menção do nome.

Da mesma forma, a Heineken que Craig bebe em cenas fugazes só pode ser reconhecida pela inconfundível garrafa verde, e os diversos modelos de carro Aston Martin, como o DB5 e o DBS Superleggera, passam voando aos olhos dos espectadores nas alucinantes perseguições por vilarejos da Itália.

Cadê o smoking?

O maior charme de James Bond são seus modos refinados, o modo como ele transita entre recepções para a nobreza europeia e as duras cenas de ação. Daniel Craig desta vez deixou a habitual finesse de Bond de lado.

Salvo engano, ele veste smoking apenas uma vez, em um evento em Cuba que dura menos do que uma tragada em um Cohiba Espléndido, para logo descambar em novas cenas de tiro, bomba e porrada.

Requinte, aliás, não é exatamente um ponto forte de Craig, ao contrário de Sean Connery ou Roger Moore. O 007 de agora continua pedindo seu dry martini, mexido e não batido. Mas as feições duras e o físico de crossfiteiro o aproximam mais de Vladimir Putin do que de John Kennedy.

Estética de videogame

Não é preciso ser adepto de videogames para identificar a estética dos jogos de tiro. Da perspectiva do personagem, percorre-se labirintos, ruela e bueiros, atirando em vultos sem rostos que mal aparecem e já caem de lado, gritando e sangrando. Assim funcionam Call of Duty, Outriders, Killing Floor, entre outros.

É dessa forma que Daniel Craig sai matando seus inimigos na perseguição final ao vilão Safin. Ainda estou aguardando alguém fazer a contabilidade de tiros e mortos no filme. Mas são muitos. O 007 é tema de jogos desde 1983, passando por diversos consoles, do finado Atari ao Playstation, em PCs, em Android e em IOS. A estética dos combates de agora faz parte de uma estratégia de promoção de games? É uma forma de agradar a uma plateia mais jovem? Talvez.

Momento família

Aqui é o momento de maior spoiler deste texto. Ainda há tempo de parar a leitura. Caso contrário, saiba que o durão Bond descobre ser pai de Mathilde, uma menina de cinco anos com os mesmos olhos azuis do espião. E faz de tudo para salvá-la de Safin, em mais uma recriação de um dos maiores clichês cinematográficos.

Especula-se que Mathilde possa ser tema de um spin-off. Phoebe Waller-Bridge, estrela e criadora da série cômica Fleabag, estaria em negociações com os produtores da franquia. Pode ser um indício de que o filme penderia mais para a comédia do que para ação. Faz sentido. Uma filha de Bond, James Bond, é algo de fazer rir os fãs mais fieis.

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