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Por que a Chandon trocou de rótulo após uma década?

Os rótulos da marca do conglomerado de luxo LVMH estão sendo repaginados. A aparência das etiquetas não eram alteradas desde 2007, há mais de uma década

Catherine Petit: “O consumidor brasileiro está aprendendo a apreciar a produção nacional" (Leandro Fonseca/Exame)
MD

Matheus Doliveira

Publicado em 26 de junho de 2021 às 08h21.

Última atualização em 1 de julho de 2021 às 10h19.

A próxima vez que você abrir uma garrafa de Chandon não será igual a última. Isso porque os rótulos da marca do conglomerado de luxo LVMH estão sendo repaginados.

Chandon: novo rótulo do espumante Brut, adotado em 2021. (Chandon)

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A nova aparência das etiquetas (inalteradas desde 2007, há mais de uma década) faz parte de uma recém-lançada identidade visual que começou a ser preparada há dois anos.

Mais moderna, com o logo na vertical e cores mais vivas, a novidade visa atrair entrantes no mundo dos vinhos de borbulhas.

Chandon: antiga embalagem do clássico espumante Brut, adotada em 2007. (Chandon/Divulgação)

À EXAME, Catherine Petit, diretora-geral da Moët Hennessy Brasil, divisão de vinhos e destilados do grupo LVMH, responsável pela produção de Chandon, fala sobre o novo momento da marca e sobre o mercado e hábitos de consumo dos brasileiros. Confira:

A partir de junho a Chandon vai adotar uma nova identidade visual no rótulo das garrafas que chegarão aos pontos de venda. O que significa esse reposicionamento e o que a Chandon pretende com ele?

A gente costuma dizer que a Chandon é a marca mais local de todas as marcas globais. Temos 6 vinhedos em 4 continentes, somos uma comunidade de 748 colaboradores e 149 produtores e, mesmo com toda essa diversidade de culturas, buscamos conexões profundas com os consumidores locais. Esse novo rótulo é só uma parte da nova identidade de marca que estamos revelando. Passamos dois anos mergulhados nas raízes da Chandon para voltar com uma mensagem mais forte e mais próxima dos nossos consumidores. Cada estrela do novo rótulo, que é muito mais moderno, simboliza um dos vinhedos da Chandon. As figuras dos vinhedos também podem ser lidas como impressões digitais. Queremos chegar a pessoas que não necessariamente optariam pelo espumante. Nosso objetivo é conversar mais de perto com os consumidores e mostrar o mundo de possibilidades que cabe em uma garrafa de espumante.

Qual a sua percepção em relação ao comportamento dos consumidores brasileiros? Estamos prestando mais atenção na qualidade das bebidas ou investindo um pouco mais no que bebemos, por exemplo?

Para nós, é muito claro que existe uma vontade cada vez maior, por parte do consumidor brasileiro, de saber o que tem dentro na taça. Nos últimos anos, o interesse por vinhos no geral, incluindo os produzidos no Brasil, têm crescido muito e gerado grande curiosidade por aqui. Outro ponto é que o brasileiro está aprendendo a consumir o que é produzido no Brasil. O espumante da Chandon é brasileiro. Ele é feito aqui no Sul do país, em Garibaldi. Temos muito orgulho disso.

Durante a pandemia, houve mudança nesses hábitos de consumo?

O fato de termos ficado isolados afetou muito, para melhor, essa mudança nos hábitos de consumo. A demanda por espumantes e por outras bebidas de qualidade elevada cresceu e está entrando no dia a dia das pessoas. O brasileiro está começando a perceber que não precisa mais esperar por um momento super especial para abrir uma garrafa. Todos os momentos são especiais. No grupo LVMH, costumamos dizer que o consumidor é o nosso patrão. O público que bebe espumante no Brasil é muito diverso: ele está presente em todas as metrópoles do país, tem entre 30 e 60 anos e aprecia bebidas mais finas. Talvez, uma característica marcante do país é que as mulheres têm uma relação mais próxima com os espumantes.

Os espumantes estão virando febre na coquetelaria. Vocês acreditam que eles são apropriados para se fazer drinks?

Apoiamos muito essa ideia de ir além do consumo mais tradicional, mostrando que os espumantes têm versatilidade nas formas de ser consumido. Existem drinks que funcionam muito bem com os espumantes da Chandon. Não só apoiamos como também sugerimos receitas de coquetelaria. Essa é uma tendência que também acontece em outros países e, no fim das contas, revela uma maior liberdade criar com os espumantes, o que pode ser um pouco mais limitado com outros tipos de bebida.

Em 2020, o Brasil colheu a melhor safra de uva dos últimos anos. Isso significa que estamos aprendendo a fazer bebidas mais finas?

A safra de 2020 foi excepcional. Em 2021, devemos repetir o feito. Com certeza isso incentiva os produtores a prestarem mais atenção na qualidade das uvas e das bebidas. Ainda assim, a uva não faz espumante sozinha. Atrás dela tem o clima favorável, a cultura do vinhedo e o conhecimento técnico no plantio. Entre os produtores brasileiros, existe cada vez mais o desejo de melhorar a qualidade das safras. Esse desejo é intensificado pela expectativa mais alta, por parte do consumidor, de desfrutar de vinhos mais finos. A indústria também está mais interessada em melhorar a qualidade do que é produzido no Brasil, ainda mais com a concorrência de outros países da América do Sul, principalmente Argentina e Chile.

A Chandon tem vinícolas em apenas seis países do mundo. Um deles é o Brasil. Qual a importância do mercado brasileiro para a marca?

O Brasil tem terras muito favoráveis para a produção de vinhos de qualidade, tanto pelo solo, quanto pelo clima e altitude. Não à toa, o Brasil foi a segunda vinícola criada pela Chandon, em 1973, depois da Argentina. Até mesmo lá fora, a Chandon tem um retorno muito bom dos espumantes brasileiros. O estilo que temos aqui é diferenciado por ser mais frutado e fresco. Isso agrada o paladar de todos e é sempre uma boa surpresa fora do Brasil. Para além da Chandon, o Brasil é um país em que o grupo LVMH também acredita muito e investe cada vez mais.

A qualidade do espumante produzido no Brasil é a mesma dos que vêm da França, por exemplo? Como a Chandon garante que os espumantes sejam iguais em todo o mundo?

Nossos enólogos têm muita liberdade para criar os espumantes Chandon. Eles se comunicam entre eles em todos os 6 países nos quais atuamos. O maior desafio é que produzimos em terras diferentes, climas diferentes e com uvas diferentes. Ainda assim, a filosofia da chandon é sempre trazer diversidade e harmonia. Existem estilos que nós procuramos manter. Dizer que é exatamente o mesmo espumante não é o caso, até por conta do paladar do consumidor local, mas o estilo sempre é o mesmo.

Atualmente, só podemos chamar de Champagne os vinhos produzidos na região de Champagne, na França. Vocês acompanham esses movimentos de denominação de origem?

Na verdade, a Chandon está feliz da vida com isso, porque no fim das contas é uma oportunidade para crescer no segmento de bebidas de "borbulhas". O que faz a Chandon vibrar é a nossa liberdade. A possibilidade de criar novos produtos vai muito além do Champagne, que precisa seguir certas regras limitantes de produção. Frustração por não ter o apelido de Champagne, para a Chandon, não existe. Pelo contrário: temos orgulho de fabricar espumantes.

Quais são os principais planos da Chandon Brasil para os próximos anos?

2021, para nós, é um ano de retomada. Nossa meta é crescer 20% e voltar ao patamar de faturamento de 2019 (a marca não divulga o faturamento em reais). Como todo mundo no segmento de bebidas, perdemos vendas no começo de 2020, mas já no segundo semestre daquele ano faturamos 8% a mais em relação ao mesmo período do ano anterior. Em termos de evolução, o nosso foco é a sustentabilidade.A Chandon é o primeiro vinhedo a receber a Certificação Brasileira de Viticultura Sustentável por dois anos consecutivos. A meta é trabalhar para manter esse selo, que precisa ser renovado anualmente.Todas as nossas águas residuais já são recicladas e tratadas localmente. Além disso, queremos acabar com o uso de pesticidas em no máximo dois anos.

Podemos dizer que o Brasil tem a vantagem de ser um mercado de vinho menos saturado? O que podemos esperar para o futuro?

O seguimento de espumante no Brasil pesa 5% na categoria de bebidas alcoólicas, enquanto o vinho pesa 42%. O Brasil é um país muito promissor em termos de crescimento, especialmente para os espumantes. Somado a isso, o Brasil é muito mais desenvolvido em questão de vendas online do que a França, por exemplo. Nosso canal digital cresceu 10% no ano passado. Por aqui, existe muita agilidade e as pessoas se adaptam muito rápido a outras formas de consumo.

*Essa reportagem é a versão completa da entrevista publicada na edição 1230 / jun / 2021 da EXAME.

*ERRAMOS: na reportagem da EXAME impressa, Catherine Petit aparece como diretora daMoët & Chandon no Brasil. Na realidade, ela é diretora da Moët Hennessy no Brasil.

 

 

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