Obra "ignorada" em cozinha durante anos é vendida por 24 milhões de euros
Pintura rara de Cimabue, artista florentino do século XIII, foi leiloada na França; proprietária desconhecia valor da obra
AFP
Publicado em 29 de outubro de 2019 às 12h33.
Uma obra-prima do pintor italiano primitivo Cimabue (1272-1302), descoberta recentemente em uma casa particular, foi comprada por 24.180.000 euros (taxas inclusas) em um leilão realizado neste domingo em Senlis, perto de Paris, anunciou a organizadora da venda, Actéon.
O valor da pintura chegou a 19,5 milhões no martelo, sem as taxas. A casa de leilões não informou quem foi o comprador da obra, inicialmente avaliada entre 4 e 6 milhões de euros.
Até recentemente, pensava-se se tratar de uma obra sem valor artístico.
"É de fato o quadro primitivo mais caro vendido no mundo, sendo também o sétimo quadro antigo mais caro vendido no mundo, atrás de Salvator Mundi de Leonard de Vinci, o Massacre dos inocentes de Rubens, um Pontormo, um Rembrandt, um Rafael e um Canaletto", assegurou a Actéon à AFP.
"Cristo menosprezado" é o tema desta pintura de pequenas dimensões (25,8 x 20,3 cm), elaborada com tinta têmpera sobre fundo dourado. Fazia parte de um díptico de 1280 sobre a Paixão de Cristo, formado por oito imagens de dimensões semelhantes.
Até agora, tinha-se conhecimento de que outras duas cenas desse díptico foram preservadas: "O Flagelo de Cristo" (Coleção Frick, em Nova York) e "A Virgem com criança entronizada com dois anjos" (Galeria Nacional, em Londres).
A casa de leilões confirmou a autenticidade do díptico depois de submetê-lo à avaliação do gabinete Turquin, especialista em obras de arte antigas.
"Os traços da moldura antiga, os pontinhos redondos executados da mesma maneira, o estilo, a ornamentação do fundo dourado, a correspondência dos painéis (...) confirmam que esses painéis eram a aba esquerda do mesmo díptico", explicou a casa de leilões.
Segundo os historiadores, há apenas uma dezena de suas obras, feitas em madeira. Nenhuma delas é assinada.
Pendurada na cozinha
A pintura foi levada por uma moradora de Compiègne, norte de Paris, para avaliação da Actéon.
A idosa senhora tinha a obra pendurada na parede, entre a sala de estar e a cozinha.
A família achou que era uma imagem sem importância e estava disposta a colocá-la em uma associação de objetos de segunda mão.
O exame de reflectografia infravermelha revelou um desenho subjacente e determinou que sua condição era excelente, apesar de precisar de retoques mínimos.
A camada pictórica também se encontrava em excelente estado, embora muito suja pelo passar dos séculos.
Cimabue, um pintor florentino da segunda metade do século XIII, renovou a pintura bizantina, quebrando seu formalismo e suas imagens codificadas.
Abriu as portas para o naturalismo da arte pré-renascentista e dotou seus personagens de alma.
Ele também realizou as primeiras perspectivas.
Esta pintura é uma das primeiras obras de arte ocidental que abre o caminho para grandes artistas, como Giotto.