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O que move o mercado na 23ª Art Basel Miami Beach

Em sua 23ª edição, a feira apresenta 283 galerias, incluindo 16 brasileiras

Art Basel Miami: obra de Adriana Varejão (Art Basel Miami/Divulgação)

Art Basel Miami: obra de Adriana Varejão (Art Basel Miami/Divulgação)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 11h02.

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A Art Basel Miami Beach, uma das principais feiras de arte do mundo, começa amanhã, 5, com destaque para práticas latinas, indígenas e diaspóricas. Em sua 23ª edição, a feira apresenta 283 galerias, incluindo 16 brasileiras.

"Art Basel Miami Beach se posiciona na interseção entre cultura e mercado — uma plataforma onde visão artística e energia econômica convergem para definir o que vem a seguir", diz Bridget Finn, diretora da Art Basel Miami Beach. "Cada edição responde à urgência e à ambição de seu momento, ao mesmo tempo em que prepara o terreno para o futuro."

Como a principal feira das Américas, a Art Basel Miami Beach oferece uma visão da produção artística da região, enfatizando o diálogo entre a América do Norte e a América do Sul e suas histórias compartilhadas de migração, inovação e intercâmbio cultural — em conversa com a Europa, a Ásia, a África e o Oriente Médio.

"A edição de 2025 coloca em evidência a multiplicidade da arte americana — não como uma narrativa única, mas como uma constelação de perspectivas", diz Vincenzo de Bellis, Chief Artistic Officer e Diretor Global de Feiras da Art Basel. "De modernismos indígenas a práticas diaspóricas emergentes e formas digitais, a feira traça como artistas em todas as Américas continuam a remodelar a imaginação artística global."

A seguir, Daniel Roesler, sócio da galeria Nara Roesler destaca tendências no mercado de arte e expectativas para a feira.

Tendências estéticas, temáticas e materiais

A partir do que estamos levando para a feira, vejo um interesse crescente por trabalhos que exploram a tensão entre o tátil e a imagem. É algo que aparece muito bem nas obras têxteis da Sheila Hicks, como Uirapuru (2025), onde cor e fibra funcionam quase como uma extensão da pintura. Há um desejo pelo material, pela presença física da obra.

Ao mesmo tempo, notamos uma busca por trabalhos que questionam a percepção imediata. O Vik Muniz, com a série Brushstroke — em especial Mulher com sombrinha, a partir de Claude Monet (2025) —, revisita imagens icônicas da história da arte reconstruindo-as camada por camada. É uma tendência de olhar para a imagem de forma crítica, convidando o público a investigar como ela é feita.

Galeria Nara Roesler: obra "Mulher com sombrinha", de Vik Muniz (Galeria Nara Roesler/Divulgação)

Também estamos apostando em pinturas que apostam na cor, na matéria e na subjetividade, como a Cristina Canale em Sedução (2025). Ela traz uma figuração que se dissolve na abstração, com volumes de tinta e cores vivas que reforçam essa presença gestual.

Essas três direções — o tátil, a reinterpretação da imagem e a pintura matérica — têm guiado nossas escolhas para a feira e refletem movimentos que observamos mais amplamente no circuito.

Presença latino-americana na feira

A presença latino-americana vem se fortalecendo cada vez mais — não só pela produção contemporânea, mas também pela consistência histórica e pelo rigor formal que dialoga internacionalmente. Isso fica evidente no que estamos levando para a feira. Um dos destaques é o Antonio Dias, com Sem título (1994), uma obra que combina pigmentos metálicos e folha de ouro para tratar de questões políticas e institucionais com sofisticação formal.

Também levamos uma pintura de 1982 da Tomie Ohtake, que sintetiza essa abstração tão característica dela — formas orgânicas, curvas precisas e gradações que parecem vibrar no espaço. A Tomie ajudou a expandir o vocabulário do modernismo brasileiro, e sua obra hoje ressoa de forma muito natural no contexto internacional.

De maneira geral, o conjunto mostra como a produção latino-americana tem uma força própria — histórica, estética e conceitual — que dialoga com o mundo sem perder sua singularidade.

Tomie Ohtake: expansão do vocabulário do modernismo brasileiro (Flavio Freire/Divulgação)

Futuro da arte no perante o virtual

Em um mundo cada vez mais saturado pelo virtual, tenho sentido que o futuro da arte física caminha para a criação de certos “enigmas” que só fazem sentido quando estamos diante da obra. É algo que simplesmente não se replica na tela. O trabalho do Artur Lescher mostra isso muito bem — Zurigo (2025), por exemplo, usa materiais industriais como latão e alumínio para criar formas precisas, quase impossíveis, que desafiam a gravidade e despertam uma inquietação que só acontece no espaço real.

O mesmo vale para o Carlito Carvalhosa. Na série Dedinhos (2020), ele trabalha com cera e óleo para explorar essa tensão entre o visível e o tátil — aquela sensação de que “o que vemos não é exatamente o que tocaríamos”. É uma experiência sensorial que perde completamente a força quando reduzida à imagem digital.

No fundo, vejo que a arte física responde ao digital justamente ao reforçar aquilo que o virtual não alcança: presença, matéria, escala e essa estranheza que só o encontro direto com a obra consegue gerar.

23ª edição da Art Basel Miami: 283 galerias, incluindo 16 brasileiras (Art Basel Miami/Divulgação)

Perfil de consumidores e mudanças no comportamento de compra nos últimos anos

O que temos percebido é um colecionador interessado em obras que funcionem como uma espécie de antídoto para o ritmo acelerado do cotidiano — trabalhos que ofereçam silêncio, mistério ou uma relação mais profunda com a matéria. Há uma busca por artistas que combinam técnica refinada com uma poética da sensibilidade.

As obras da Sheila Hicks, por exemplo, atraem muito esse público justamente por esse aspecto envolvente e quase arquitetônico, que transita entre arte, design e artesanato. Já a pintura da Cristina Canale fala diretamente a quem procura uma experiência mais subjetiva e singular da imagem cotidiana, algo que se descobre aos poucos.

De modo geral, o colecionador de hoje valoriza muito a “inteligência da mão” e a capacidade que a obra tem de transformar o ambiente — não apenas decorá-lo, mas criar uma presença. É essa espécie de permanência sensível que tem guiado muitas das escolhas recentes.

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