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Nova York ganha ares tropicais com a arte viva de Burle Marx

O arquiteto recebe uma homenagem póstuma com uma monumental exposição tridimensional no Jardim Botânico de Nova York (JBNY), a maior de sua história.

Jardim da exposição: JBNY pediu a um ex-aluno e protegido de Burle Marx que desenhasse um jardim inspirado em seu mestre (NYBG/Divulgação)

Jardim da exposição: JBNY pediu a um ex-aluno e protegido de Burle Marx que desenhasse um jardim inspirado em seu mestre (NYBG/Divulgação)

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AFP

Publicado em 6 de junho de 2019 às 19h01.

Última atualização em 7 de junho de 2019 às 10h32.

No Bronx, um paraíso tropical de exuberantes palmeiras e bromélias inspirado em uma força da natureza, o brasileiro Roberto Burle Marx, aguarda neste verão milhares de nova-iorquinos e turistas.

Audaz arquiteto paisagista, ícone do modernismo, artista, explorador, cientista, pioneiro da ecologia, Burle Marx (1909-1994) recebe uma homenagem póstuma com uma monumental exposição tridimensional no Jardim Botânico de Nova York (JBNY), a maior de sua história.

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Este amante das plantas, que foi cantor de ópera e chegou a descobrir dezenas de novas espécies, desenhou mais de 3.000 parques e jardins públicos e privados, sobretudo tropicais e no Brasil, mas também na Venezuela, Estados Unidos ou sudeste asiático. Entre eles, o calçadão da praia de Copacabana, os jardins de Brasília e o Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro, sua cidade.

"Isto é uma loucura, é a maior exposição que já fizemos, mas de alguma forma se encaixa perfeitamente com a 'joie de vivre' de Burle Marx, seu espírito maior que a vida", disse Todd Forrest, vice-presidente de horticultura e coleções vivas do JBNY, ao apresentar a exposição, que começa neste sábado e termina em 29 de setembro.

Palmeiras no Bronx

O JBNY pediu a um ex-aluno e protegido de Burle Marx, o paisagista americano Raymond Jungles, que desenhasse um jardim inspirado em seu mestre.

Jungles criou uma série de jardins com trilhas onduladas, uso dramático da cor, textura e movimento, esculturas, lagos, uma parede viva, um jardim dentro do conservatório e outro aquático.

Simulou até as ondas das calçadas de Copacabana, mas com pintura em vez de pedras portuguesas, e por elas desfilarão músicos e bailarinos brasileiros convidados pelo JBNY durante todo o verão.

"As plantas deviam parecer como se estivessem aqui há muito tempo. Tentamos usar algumas das palmeiras favoritas de Roberto, como a Copernicia Baileyana de Cuba e o coqueiro, nativo do Brasil, assim como a palmeira dos Everglades na Flórida", explicou Jungles.

As palmeiras chegaram tristes e encharcadas no maio mais frio e chuvoso dos últimos tempos em Nova York, "mas se adaptaram divinamente e já estão crescendo", comemorou Forrest.

Também há várias das espécies descobertas pelo artista, como o filodendro burle-marxii, e quando aumentar a temperatura da água no lago, haverá vitórias-régias, o maior de todos os lírios de água.

Ecologista pioneiro

Burle Marx foi um defensor apaixonado do meio ambiente em um clima difícil, durante a ditadura brasileira (1964-1985), quando o conservacionismo era raro no Brasil e no mundo.

Convidado pela ditadura a integrar o Conselho Federal de Cultura, aceitou "para falar contra o desmatamento na Amazônia, na floresta tropical atlântica, no cerrado", explicou Forrest.

Carismático, generoso, Burle Marx recebia em seu Sítio — uma ex-plantação de café e banana a cerca de 50 km do Rio onde viveu quase meio século — artistas, poetas, arquitetos, músicos e cientistas, entre eles Helio Oiticica e Lygia Clark, Oscar Niemeyer, Lucio Costa e Le Corbusier, Pablo Neruda e Elizabeth Bishop ou Susan Sontag.

"Organizava magníficas festas, desenhava os candelabros de teto (com flores e vegetação) e pintava até as toalhas", disse Edward Sullivan, curador da parte artística da exposição.

No JBNY poderão ser vistas várias das pinturas, desenhos e tecidos de suas últimas três décadas de vida, quando realizou os experimentos mais intensos com a forma abstrata.

Com mais de 3.500 espécies de plantas e árvores, o Sítio, hoje um museu, possui uma das maiores coleções tropicais do mundo.

Burle Marx, filho de um judeu alemão e uma brasileira de origem francesa, foi um dos primeiros paisagistas a utilizar flora nativa, em vez de importá-la da Europa, e recriava os habitats dos diferentes biomas brasileiros em seus jardins.

"É como se a floresta oferecesse tesouros só para aqueles que vão em sua busca, e a cada dia sinto quão curta é minha vida para conhecer e explorar todos os tesouros da flora brasileira", disse certa vez.

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