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Na vela, o brasileiro Robert Scheidt briga por medalha aos 48 anos

A longevidade dos atletas da vela deve mudar em Paris-2024, já que a federação internacional tenta rejuvenescer a modalidade com a entrada de novos barcos e a retirada de categorias mais antigas

Robert Scheidt: o velejador brasileiro briga por medalha em Tóquio na madrugada deste domingo, dia 1º (Clive Mason/Getty Images)
AO

Agência O Globo

Publicado em 31 de julho de 2021 às 21h11.

Última atualização em 2 de agosto de 2021 às 16h50.

Chegar a uma Olimpíada depois dos 40 anos não é uma tarefa fácil. Na maioria das modalidades, são raros os casos de atletas que conseguem conciliar a passagem do tempo com o alto nível competitivo. Mas na vela, que teve o brasileiro Robert Scheidt, de 48 anos, se classificando à "medal race" na madrugada de sexta-feira, a história é um pouco diferente: o esporte permite uma longevidade peculiar, que tem muito a ver com sua natureza.

A vela não é um esporte de contato, o que reduz o impacto no corpo do atleta. Com os novos e variados tipos de embarcação, a perícia técnica é tão importante quanto o esforço físico para lidar com as regatas. Ainda assim, não se trata de algo tranquilo. Scheidt, que compete pela classe Laser, de alguns dos barcos mais leves da modalidade, tem de lidar com um casco de cerca de 57kg mais o peso do seu corpo. Na classe 49er FX de Martine Grael e Kahena Kunze, por exemplo, o equilíbrio do barco tem relação direta com o entrosamento no controle entre os dois tripulantes, graças á vela proporcionalmente maior em relação ao casco.

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— Se for um atleta muito bem condicionado, as lesões são pequenas. Não é um esporte que leva o corpo do atleta ao extremo. O Robert é um cara que tem uma atenção especialíssima à condição física para não ter esse tipo de problema — analisa o velejador, dirigente e comentarista do Grupo Globo Ricardo Baggio, o Kadu.

Segundo ele, o acompanhamento multidisciplinar que a modalidade vem ganhando tem permitido aos atletas brasileiros se beneficiarem de ainda mais cuidados com o corpo durante as disputas.

— Os outros esportes eram acostumados a ter um fisioterapeuta na equipe, um massagista. A partir dos Jogos de Londres-2012, houve um crescente nesse apoio, especialmente do COB, e hoje, muitos atletas não viajam sem fisioterapeuta, têm métodos de recuperação pós-regata, como a crioterapia, por exemplo.

Disputando sua sétima Olimpíada, Scheidt não é o único veterano na delegação brasileira. Na classe 470, que se despede dos Jogos no formato feminino e masculino (se tornará mista), Bruno Bethlem (45 anos, em sua segunda participação em Jogos) e Fernanda Oliveira, primeira brasileira medalhista na vela (bronze em Pequim-2008) e em sua sexta edição de Olimpíadas, são dos mais experientes.

Na Nacra 17, Samuel Abrecht, de 39, disputa seus terceiros Jogos. A classe também é o cenário de competição de um dos mais lendários nomes da modalidade a nível mundial: o argentino Santiago Lange. Ao lado de Cecilia Carranza, o atleta de incríveis 59 anos está em sua sexta Olimpíada, competindo num dos barcos mais rápidos da modalidade. A proeza não está só na longevidade: ele é o atual campeão olímpico da classe, medalha que conquistou após perder 80% da capacidade de um dos pulmões, em luta contra o câncer. Em Tóquio, a dupla, que foi porta-bandeira da delegação argentina, é sexta na classificação geral.

— A longevidade tem a ver com a experiência. É um esporte que envolve diversos fatores, é complicado. A experiência conta muito — explica o também lendário Cláudio Biekarck.

Aos 70 anos, o velejador, que já treinou Scheidt, segue na ativa. Com a experiência de dez medalhas pan-americanas e três participações olímpicas, ele vê um cenário mais difícil para os veteranos, com mudanças competitivas e barcos mais rápidos, que tendem a evoluir mais rápido a nova geração de atletas.

— O Robert é um fenômeno, um cara que sempre cuidou da parte física e mental, sempre se dedicou muito. Ele consegue consegue esses resultados na Laser completamente fora da regra. Competir com 48 anos com essa molecada não é fácil.

Dias contados

Claudio e Kadu são uníssonos ao mencionar um aspecto da modalidade: a iminente renovação. Por iniciativas conjuntas da World Sailing (a federação internacional de vela), o programa olímpico vem passando por alterações para frear essa longevidade e trazer uma nova geração de atletas ao esporte, explica Kadu.

Barcos mais antigos e tradicionais já deram adeus aos Jogos, como a classe Tornado e a famosa Star, que teve representantes como os irmãos Grael, além do próprio Scheidt. Este ano, a classe Finn faz sua despedida, assim como as 470 que, agora mistas, abrirão espaço para a entrada do kitesurf masculino e feminino.

Os sinais da mudança já badalam na Baía de Enoshima. Nas velozes classes RS:X femininas e masculinas, o windsurfe, ficaram com o ouro dois atletas jovens: a chinesa Yunxiu Lu, de 24 anos, e o holandês Kiran Badloe, de 26, visto como favorito desde o início dos Jogos. Na própria classe laser, de Scheidt, não será possível alcançar o ouro, que já foi garantido matematicamente pelo australiano Matt Wearn, de 25 anos, antes mesmo da medal race.

— A nível olímpico, as idades estão dimunindo cada vez mais. Os barcos estão mudando muito, são barcos velozes, que precisam de uma agilidade maior. Acabaram com a Star, uma classe pela qual passaram todos grandes campeões, praticamente, o Finn está em sua última Olimpíada. Em Paris seremos um esporte bem mais jovem — diz Biekarck.

Robert Scheidt compete na medal race na madrugada deste domingo. A regata está marcada para iniciar às 2h33 (de Brasília).

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